sábado, 17 de agosto de 2019

A explicitude e o seu oposto



O trabalho que tive em explicar a um profissional da imagem que a comunicação visual não tem que ser clara, explícita, inequívoca!
Esse é um dogma que se transmite em quase todas as escolas, manuais e workshops.
Mas não é verdade! Pelo menos não é uma verdade absoluta, universal.

Se falamos de consumo rápido de imagens – fotográficas, videográficas, cinematográficas – esse dogma aplica-se. Simplicidade na forma para facilitar o acesso ao conteúdo.
Mas posso querer eu, enquanto fotógrafo, não ser assim tão explícito. Querer obrigar quem vê o que faço a não entender de imediato, a parar para perceber, a questionar e questionar-se naquilo para onde olha e a, mais que olhar, ver.
O desconcerto na leitura, a dúvida, a procura de significado… também isto é comunicação, visual no caso da fotografia.
Dir-me-ão, talvez, que esta forma de comunicação reduz a muito poucos os que a lêem, na medida em que a dificuldade de acesso ou de interpretação, nos tempos que correm e com a rapidez de consumo de conteúdos, afasta os mais apressados ou menos curiosos.
Mas talvez nem sempre eu queira comunicar com esses, pouco me importando se entendem ou não. Ou melhor: ficando satisfeito se o entendem mas nada preocupado com o seu oposto.
Fazer diferente, mesmo que fora dos códigos habituais de comunicação, é uma necessidade que a todos assola de quando em vez.
A diferença entre a grande maioria dos que usam a fotografia e de alguns que também a usam, é que estes, nestes casos, pouco se importam com a reacção ou interpretação do público. “Likes” e “Coments” são “Cenas que não os assistem”.
Fazem-no e exibem-no porque lhes apeteceu, porque foi assim que alinharam a cabeça, o olho e o cérebro. E não para que outros gostem, ou mesmo que interpretem, entre dois clicks ou o passar rápido das páginas de um site ou revista.

Se o objectivo de um fotógrafo for a comunicação de massas, o chegar a todos, o fazer passar uma mensagem, o ganhar apreço ou dinheiro, mesmo que seja com uma pasta de dentes ou com um pôr-do-sol, esqueça-se tudo o que disse acima. Sigam-se as regras da academia, as fórmulas e os algoritmos, as modas e as convenções.


Mas se o objectivo for colocar a sua alma no que faz e mostra, pouco preocupado com as interpretações ou opiniões de terceiros…

By me

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