terça-feira, 7 de março de 2017

Amado Freitas



No início da TV, as imagens que se viam em casa tinham apenas duas origens: ou registadas, reveladas e exibidas em cinema ou em directo.
Noticiários, teatro, musicais (clássicos ou populares), conversas, eram em directo, que o registo magnético era ainda o futuro.
As automações não existiam e quem operava os equipamentos tinha uma margem de erro mínima, que o público daria pela coisa. Alguns ficavam aquém da margem de segurança, outros iam muito para além, entrando no campo da genialidade.
Acontecia em alguns musicais, ouvir-se o realizador dizer, pelo sistema de “ordens”: “Vai Freitas, vai! Este é todo teu!”
E ele ia! Em plano único, sentindo a música e as palavras, a câmara ia e vinha, da voz para os instrumentos e volta. Sempre com a mesma objectiva e ângulo de visão, que as zooms televisivas ainda não tinham chegado por cá.
O Amado Freitas e a câmara no tripé dançavam unos como nenhum outro, num tango de “nacional-cancenotismo” ou fado.

Quando entrei para a RTP, já ele não operava. Era realizador. Mas ainda o vi, agarrado aos equipamentos arcaicos do centro de formação, mostrando como se fazia. Único!

Hoje as coisas são diferentes. O espectador já não é levado a passear-se pela música e seus intérpretes. Aos saltos da montagem, com cortinas e Keys, a interpretação visual da música é tão ou mais agressiva que os noticiários ou entrevistas.
Fazem-se transmissões musicais pelo ritmo, esquecendo que também há melodia e harmonia. Tratam-se todos por igual, nas salas de edição. A criatividade fica ali, nos pontos de “in” e “out”, pelos menus importados e as transfigurações electrónicas.
E a virtuosidade de alguns, poucos, torna-se inútil porque não conforme com os cânones consumistas.
Não que em outros tempos é que fosse bom! Apenas que a quantidade submergiu a qualidade. Na produção e no consumo.

Televisivo ou não!

By me

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