segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Sobre triângulos e estabilidade fotográfica



Um velho mestre e compincha de muitas andanças fotográficas costumava dizer que “Só há dois tipos de fotografias: as tremidas e as feitas com tripé!”
Claro que ele era especialista em usar de comparações extremas para fazer vingar os seus pontos de vista.
Claro que isto era dito numa época em que nem se falava em “full frame”.
Claro que isto era dito numa época em que não havia estabilizadores de imagem.
Claro que isto era dito numa época em que todos os que fotografavam sabiam a fórmula “O denominador da fracção de segundo do tempo de exposição usada não pode ter um valor absoluto inferior ao da distância focal empregue, sob pena de termos uma fotografia tremida se usada a câmara à mão”.
Claro que isto era dito numa época em que usar ISO 400 era o limite para evitar o grão na imagem.
Claro que isto era dito numa época em que os testes das objectivas e resoluções de películas eram feitos usando um bloco de cimento como suporte da câmara para evitar tremideiras no equipamento.

A tecnologia actual poderia tornar esta afirmação obsoleta e nada mais que divertida.
Mas há algo que a tecnologia não melhorou: o utilizador da câmara. E este, fiando-se na tecnologia, nas câmaras à prova de idiota, negligencia as regras ou práticas mais básicas, acabando por obter resultados no limiar do sofrível.
A quantidade de imagens tremidas ou menos nítidas que vemos nos tempos que correm acontecem exactamente porque, fiando-se nos estabilizadores de imagem e nas alterações de sensibilidade, se ignora que o ponto de partida é uma câmara estável.

O tripé é, sem dúvida, a solução universal. E, quanto mais sólido e pesado, melhor. E tanto que assim é que alguns fabricantes, usando de materiais mais leves e cómodos de transportar, acrescentam um gancho por baixo da coluna para que os utilizadores possam pendurar algo (regra geral o saco ou mochila) para aumentar o peso e respectiva estabilidade.
A alternativa, com limitações, será o monopé. Disse alguém, já não sei quem, que “Se não podes ter um bom tripé, usa um monopé”. Parece disparate mas não é. Um monopé não é auto-sustentavel, pelo que ao usarmo-lo temos cuidados extra com a estabilidade. Ajuda-nos mas apenas isso.
No campo das soluções de emergência, há sempre a possibilidade de recorrermos a apoios improvisados. Uma cadeira, um candeeiro de rua, o ombro de alguém, o velhérrimo “saco de feijões”… há inúmeras soluções de apoio da câmara que, não tendo a estabilidade de um bom tripé, podem melhorar o desempenho.
Indo mais longe, se soubermos um nico de física e fisiologia, entendemos porque é que a minha corrente de autoclismo (na imagem) funciona para nos ajudar a ter estabilidade para tempos um pouco mais longos.

Mas, e pondo de parte todos estes auxiliares de suporte, o certo é que a esmagadora maioria das imagens são feita à mão. E usando-a desta forma, ou bem que procuramos no nosso corpo a estabilidade possível, ou teremos excelentes fotografias tremidas.
O corpo tem que estar estável, com os músculos tranquilos. Se em esforço, garantidamente que trememos. As pernas meio flectidas são óptimos amortecedores instáveis, quais baloiços de criança, para fazermos imagens tremidas.
De igual forma, os braços abertos, com os cotovelos levantados que nem asas de pássaro, são uma óptima forma de tremermos. Nós mesmos e a câmara que seguramos.
E um vício velho, que nunca percebi de onde vem, é segurar a câmara com a mão direita, usando a esquerda para actuar nos anéis da objectiva por cima. Isto implica que apenas um braço pode estar encostado ao corpo e que o outro estará levantado, sem estabilidade.

Aquilo que aprendi há muito é que a câmara deverá estar apoiada na mão esquerda, por baixo. Na palma da mão, permitindo que os dedos possam actuar na objectiva. E com o cotovelo encostado ao corpo. Desta forma, criamos um triângulo com os nossos músculos e ossos, garantindo a estabilidade do corpo e, consequentemente, da câmara.
A mão direita, essa, fica livre para o disparo, braço igualmente encostado ao corpo, e para manusear os diversos botões da câmara.
Mas a solidez do conjunto fica assegurada pela esquerda, com o braço encostado ao corpo.

As pequenas câmaras de hoje, sem visor ocular mas apenas um ecrã electrónico, são perfeitas para imagens tremidas. Que as seguramos com os braços abertos e quase esticados.
Apesar de terem distâncias focais curtas devido ao pequeno tamanho do sensor, apesar de terem estabilizadores de imagem (na objectiva ou no sensor), apesar de as imagens resultantes serem vistas em tamanhos pequenos, onde a falta de nitidez se torna pouco perceptível, certo é que cada vez mais se fazem fotografias tremidas.


E é tão fácil evitar isso! Basta a posição corporal certa.

By me 

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