terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Perguntas/respostas





Tenho para mim que criatividade é o fazer de algo que tem que ser feito, o resolver de um problema, baseado em premissas novas e de uma forma que agrade a quem o faz.
Também entendo que a criatividade não passa em exclusivo pela chamada “arte”. Pode ser-se criativo no modo como se colocam as iguarias numa travessa, na forma como se prendem as jovens vides às estacas que as hão-de ajudar a crescer, no trajecto descrito por uma esfregona ao lavar o chão…
Claro que o esculpir de uma estátua, o colocar um enredo sob a forma de palavras, os passos de dança ao som de uma música… também podem ser criativos. E são-no muitas vezes!
Mas o fazer algo que te que ser feito – porque há estímulos externos ou internos que a isso obrigam – sempre da mesma forma, não é criatividade: é o repetir de uma rotina adquirida ou de fórmulas sabidas.
A criatividade está em encontrar novas soluções.

Em trabalhando com jovens alunos de audiovisuais, uma das minhas principais preocupações sempre foi que encontrassem a sua própria forma de ver, a sua própria forma de resolverem os problemas ou exercícios que lhes ia propondo.
Claro que, para isso, haveria que aprendessem as técnicas existentes, as chamadas “regras de comunicação” e os trabalhos dos mestres – os antigos e os contemporâneos. Para que tivessem as “ferramentas” por forma a que pudessem materializar aquilo que a sua mente criava, juntando aquelas com esta.
E, confesso, nunca deixarei de me surpreender com a capacidade criativa dos alunos.

Mas a criatividade tem, em regra, três problemas graves: pressão, orientação e tempo,
Por pressão entendo a urgência em fazer o que tem que ser feito. Urgência esta que não se prende com relógios ou calendários, mas antes com a necessidade de o fazer. Normalmente, quanto mais necessário é o fazer de algo, ou mais criativo ou menos criativo esse algo resulta. Ou bem que a solução encontrada é algo de novo, fruto da conjugação de saberes, experiências e do desejo de fazer com satisfação, ou então a execução acontece recorrendo a formulas sabidas, numa tentativa de obter o máximo de eficácia com o mínimo de esforço material ou intelectual.
A orientação refere-se às áreas para as quais quem faz tem mais prazer ou satisfação. Não é comum encontrar criatividade numa tarefa que se detesta. Mesmo que não se saiba que se gosta do que se está a fazer, há que ter uma empatia positiva com a tarefa para que resulte em algo de criativo. Quando não, as mais das vezes, o resultado é algo de repetitivo, banal.
A questão do tempo prende-se com o tempo de vida. As mais das vezes, o pico de criatividade acontece na juventude. O confronto com situações novas leva a soluções novas. Mas, à medida que o tempo vai passando, que se vai adquirindo mais experiência, a novidade vai diminuindo. O acumular de vivências, “problemas” e respectivas respostas vai conduzindo à aplicação de técnicas adquiridas e soluções sabidas como válidas. É o factor “economia de esforço” a aplicar-se novamente. Mas alguns há, de mente inquieta e com mais perguntas que respostas, que conseguem manter a sua criatividade bem activa ao longo de toda a vida.
Esta tem sido a vertente que tenho tentado desenvolver junto dos alunos: que procurem manter em desequilíbrio o rácio perguntas/respostas, com prevalência para as primeiras.

E se um dia um aluno me apresentar esta imagem como sendo a fotografia de uma túlipa e, confrontado com um pedido de explicação, me responder que é o espaço inter-molecular de uma tulipa, poderemos discutir a eficácia da fotografia enquanto meio de comunicação, bem como a técnica na sua obtenção, mas terei que aplaudir a sua criatividade.

By me

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