quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Relatividades



Há ocasiões em que, pelo adiantado da hora ou pelas condições climatéricas, opto por apanhar um táxi que me leve da via férrea até casa. Pequenos luxos que, muito provavelmente, terei que deixar de parte, dadas as circunstâncias.
Sendo uma estação suburbana onde o faço, não tem grande quantidade de carros disponíveis. Quase que é uma corrida: os primeiros a desembarcar servem-se, os seguintes ficam à espera que surja um livre. Ou um dos que lá estavam que regressa, ou um qualquer outro que ali passe. Em regra, o primeiro caso.
Ontem, noite dita especial, não foi excepção.
Quando desembarquei estavam três táxis. Eu fui o quinto a chegar: à minha frente uma senhora, atrás de mim dois rapazolas transportando um saco onde se viam garrafas de espumante. Atrás deles um cavalheiro, também com um saco, mas que não deveria conter nem comes nem bebes.
Deixei-me ficar, que com aquele movimento, acabaria voltar um. Assim foi e a senhora avançou. Com uns passos meio tímidos, meio atrevidos dos rapazolas, que o queriam para eles.
Não me contive, e disse-lhes: “Aquela senhora já cá estava. E vocês chegaram a seguir a mim.”
“Ah, sabe”, disse um deles. “Nós temos pressa. Temos onde chegar cedo!”
Nem olhei o relógio. As onze da noite ainda não haviam batido.
“Certo! Mas estiveram vocês a trabalhar desde manhã cedo? Eu estive e já mereço uma cama.”
No silêncio que se fez, e porque não havia vento, ouvir-se-ia o comboio duas estações adiante, se estivesse a chegar lá.
Pelo rabo do olho e sob as parcas luzes daquele largo da estação, vi o sorriso que o outro cavalheiro fez, sem emitir palavra.
Quando fechei a porta do meu táxi, meio cigarro depois, ainda vi o chegar de mais um.

A relatividade do tempo é uma das verdades do universo. E quem ainda tem pouco tempo de vida parece ter sempre medo de ser apanhado a meio pelo fim dos tempos. Ou do ano.

E uma pequena mentirita inocente ajuda sempre a compor o ramalhete ou a cronologia.  

By me

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