segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Seguranças



Foi há uns dias.
Liguei o televisor num desses canais temáticos e foi mesmo a tempo de apanhar o fim de um programa. A voz masculina que se ouvia afirmava, em tom apocalíptico, que devemos usar as tecnologias para vivermos em segurança contra o terror.
Mudei de canal para um outro que nos mostrava uns quaisquer animais que, com a tranquilidade milenar, comiam, trepavam às árvores e cuidavam das crias.
É que tenho para mim que esse tal terror se diverte à brava com as tais medidas de segurança da tecnologia – vigilância, inspecção, suspeição – já que elas, as medidas, mais que garantirem a segurança de quem nelas confia alimentam o tal estado que o terror deseja: medo.
A cada passo que damos, em cada palavra que proferimos, por cada pensamento que temos, ficamos sempre com a sensação que o terror deles se poderia aproveitar contra nós, mas que os vigilantes, que cada vez mais tudo conseguem saber e sobre tudo conseguem agir, nos garantem que podemos estar descansados que eles nos protegem.
E vamos dando graças por eles, os vigilantes, lerem a nossa correspondência, escutarem as nossas conversas, espreitarem os nossos gestos, escrutinarem as nossas bagagens. Os nossos medos, assim alimentados e assim tranquilizados, mantêm-nos na dependência deles, dos vigilantes, para gáudio do tal terror.
Que já nada precisa de fazer, que nós mesmos nos encarregamos de nos aterrorizar.
Paulatinamente vamos cedendo na nossa privacidade, na nossa condição de indivíduos autónomos, capazes de decidir das nossas vidas, em prol de uma sociedade castrante e castrada, qual rebanho que deixa os cães morder as canelas, conduzindo-nos para um redil gradeado e farpado.

Cada vez mais tenho a certeza que os tais do terror vestem fatinhos caros, falam para as câmaras e assinam decretos.

By me

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