sábado, 30 de novembro de 2013

Leituras (outras)



Era noutros tempos. Em boa verdade, em tempos de má memória.
Mas, mesmo nesses tempos, muito se aprendia e muito serviu de base ao que somos hoje. Aida que nem sempre da melhor maneira.
Uma das coisas que se consumiam em minha casa eram jornais. Não muitos, que o dinheiro não abundava. Não muitos, que a maioria das notícias chegavam-nos após o lápis azul da censura. Mas alguns.
E, durante algum tempo, o Diário de Lisboa fazia a sua aparição em casa regularmente aos sábados.
E se outro motivo não houvesse, as crónicas da “Guidinha”, de Luís de Sttau Monteiro eram lidas com sofreguidão.
Aprendi a lê-las com os adultos. Aquela forma de escrita, sem pontuação alguma que não fosse o ponto final no fim da crónica, era algo que atrapalhava qualquer um a ler.
Mas foi também com isso que aprendi a ler nas entrelinhas, que aprendi o que era a interpretação de um texto para teatro, o que eram outras vidas e censuras que não as do meu próprio bairro e escola.
Os meus professores de Português não gostavam, quando lhes apresentava redacções com as ideias tão intercaladas, tão baralhadas, que poderiam ter mais que uma leitura. E tinham! Excepto uma que tive, de quem eu não gostava nem um nico, mas que ficava a olhar p’ra mim meio de lado e com um muito ligeiro sorriso.
Não creio que aquela escrita ou estilo hoje tivesse o sucesso que teve então. Não há que esconder ideias de censores absurdos, os jornais já não são consumidos da forma que eram e a própria leitura está a perder terreno face às tecnologias de informação.
Mas parar para pensar perante um texto, tentar descobrir-lhe o escondido, rirmo-nos daquilo que não podemos contar fora de portas…
Outros tempos!

Surge esta memória a propósito de um pequeno diálogo tido on-line com alguém que teve a sorte de já não ter que recorrer a esta forma saber as notícias.
No meio de tudo isto, a minha tristeza é nem desconfiar do local onde tenho guardado o livro que re-editou algumas dessas crónicas.

Fica a imagem da capa, palmada da net.

By me

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