quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Preocupações


Começo a ficar realmente preocupado!
Há uns dias um velho companheiro de vidas e lutas defendeu como compreensível e aceitável o uso de escutas telefónicas, a intercepção e arquivo de correio electrónico e que isto, divulgado no “Youtube”, até que poderia ser benéfico.
Não entendi muito bem se estaria a falar a sério se a usar de algum sarcasmo, que até lhe é usual. Mas se fiquei na dúvida, a possibilidade de estar a ser sincero preocupa-me seriamente.
Mais ou menos pela mesma altura, veio um elemento bem colocado no sistema judicial português (e até bem conhecido por via da mediatização do que tem feito) afirmar que, para sermos livres e vivermos em segurança, devemos prescindir um pouco das liberdades individuais. Falava esta senhora sobre a criação de uma base de dados nacional de ADN, registando aí todos os cidadãos.
Este tipo de afirmação, ou de antecipação, deixa-me bem preocupado. Se, para garantir a liberdade do colectivo devemos restringir as liberdades do indivíduo, se este princípio é aceite, qual é o seu limite? E até que ponto essas informações não serão realmente perigosas se acedidas e usadas por gente pouco ou nada escrupulosa? Está na nossa memória recente, até porque com menos de um século, a tentativa de criar uma raça perfeita.
À época usou-se dos meios disponíveis, que passaram por tentar eliminar fisicamente os que não se enquadravam nesses critérios. Mas com os dados assim adquiridos e a tecnologia actual e o seu desenvolvimento, até que será viável esse desejo megalómano e racista, quiçá mesmo sem recurso a intervenções bélicas e genocídios.
Agora foi um companheiro de trabalho que me deixou preocupado!
Sempre na linha da frente no que toca a intervenção social, sindical e política, tendo apenas 45 anos, afirmou em tom categórico que vai abandonar a luta. Nem greves, nem eleições, nem participações em movimentos cívicos ou políticos.
Diz ele que, se os seus concidadãos não sabem escolher certo, não adianta bater-se por eles, pondo de parte o seu conforto e vida pessoal.
Com estas e outras de indivíduos, bem como com propostas, leis e atoardas de quem, supostamente, nos representa e legisla de acordo com a vontade “soberana” dos cidadãos, fico mesmo preocupado.
Que a defesa das liberdades individuais, do bem-estar colectivo e da integridade da vida privada vai perdendo activistas, vencidos pelo cansaço e pela insistência de uns quantos que teimam em serem os “mandantes”, usando para tal de todos os recursos. À margem da ética, dos interesses de cada um de nós e apoiados numa tecnologia que, devido à sua rápida evolução, também ela escapa às éticas e aos debates filosóficos.
Mas, e para além de preocupado, sinto-me cada vez mais solitário nesta forma de pensar.
Sendo Acrata, não quero impor o que quer que seja a quem quer que seja, seja qual for o método ou objectivo.
Mas também não aceito que me sejam impostos, por decreto ou por cansaço, ideias, comportamentos ou limitações que me coertem na minha liberdade de ser.
E fico preocupado também comigo mesmo! Porque este estado da sociedade me pode levar a passar a barreira da Acracia para entrar na Anarquia. E começar a ter como aceitável a imposição, pela violência, da minha própria forma de pensar.


Texto e imagem: by me

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