sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Hein?!


Como é?! O JC com uma pulseira no braço?! Uma pulseira africana?! Como é que é?!
Eu explico, que não explicar seria uma indelicadeza, tal como não a usar, pelo menos por umas horas, seria rude.
Sentado numa esplanada, bem depois do jantar e em pleno centro da cidade, completamente “p’ra turista”.
À minha frente uma conhecida eventual com quem já havia trocado ideias em tempos e que, neste re-encontro, aceitou um cafezinho e dois dedos de conversa. Esta ia decorrendo, tratando eu de ser mais ouvinte que falador, que a situação o pedia e que, quando não o conseguia, dançava de acordo com a música, por estranho que possa parecer.
Mas o mundo é assim, cheio de surpresas e indivíduos, sendo cada um tão único na sua personalidade e vivência que transforma em absurdo o chamar de “ciência” a psicologia. Mas não tirar partido da vida, aproveitando o que de bom ela nos oferece e transformando em nosso proveito o que de menos bom nos impõe é absurdo, penoso e inconsequente. Pelo menos em prol da felicidade global.
Pois estávamos nós à conversa, dizia eu, quando nos aborda mais um daqueles vendedores de artesanato africano. Com os colares e pulseiras em exibição (este não tinha estatuetas) propõe-nos o negócio. Que tanto eu como a minha interlocutora recusámos. Delicadamente mas sem azo a quaisquer dúvidas.
Acontece que as técnicas de venda não aceitam um “não” como resposta, e este seguia o manual. Mas já não sei se por ser mais simpático que o habitual, se por o ambiente estar propício, se por eu mesmo ter assistido ao pôr-do-sol urbano e ao acender das montras (eventos que raramente vivo por mor dos meus horários de trabalho), a verdade é que a conversa se entabulou e ele acabou por nos dizer que era do Senegal. E eu não resisti e atirei-lhe com um “Bien venue!”
Estacou na sua conversa de vendedor, olhou para mim com olhar de espanto e perguntou-me se falava Francês. Pouco, disse-lhe, mas qualquer coisa. E ele sorriu de orelha a orelha.
Nesta altura a minha conhecida, do outro lado da mesa, dirigiu-se-lhe também em Francês, com uma saudação equivalente. Arremelgou ele os olhos e o sorriso alargou-se para alem do que a natureza prescreve. E eu também abri a boca de espanto, que do pouco, muito pouco, que dela sabia, nada me indicaria o seu domínio na língua de Voltaire.
E ali ficámos os três, ele de pé, nós sentados, numa curta mas simpática cavaqueira. E onde ficámos a saber os dotes de poliglota deste Senegalês (não lhe perguntei o ofício na terra natal) e a satisfação que tinha em estar em Portugal, pela comparação com o que conhecia de França, Espanha e Inglaterra. Que o acolhimento cá, apesar dos muitos migrantes de variadas origens, é caloroso, que os Lusos, apesar de ex-colonialistas, em nada se comparam com o resto da Europa, em termos de não racistas e não xenófobos.
E, a dado passo e sem interromper a conversa, mexe no que tinha para vender e presenteia-nos com uma pulseira cada um: esta, de couro e cordel para mim, de missangas rebrilhantes para ela.
Bem lhe dissemos, de novo, que não queríamos comprar. Mas ele, com ar meio ofendido, meio sorridente, contestou o negócio. Que não o era mas, antes sim, uma oferta. Um presente.
Não poderia eu, em consciência, recusar. E, enquanto trocávamos umas banalidades, tratei de abrir a minha e de a colocar. Não o fazer seria, no mínimo, um acto de rudeza perante a oferta desinteressada.
Foi assim que eu, que não uso fios, pulseiras, anéis ou mesmo relógio de pulso, tenho uma pulseira colocada. Pelo menos até me deitar.
Da mesma forma que tenho a certeza que a minha satisfação em ter sido ofertado é bem menor que a dele, que a ofertou. Que, quando se afastou, nem fez o périplo pelas restantes mesas ocupadas de turistas. Levava, estampado na cara, um discreto sorriso, pouco conveniente para o negócio, mas bem mais lucrativo para a alma.
Obrigado e boa sorte!


Texto e imagem: by me

1 comentário:

Anónimo disse...

pois eu e um grupo de amigos aconteceu nos o msm sendo k o individuo no final perguntou s nao tinhamos umas moedas....