terça-feira, 31 de março de 2009

Se souber porquê, sei como


Tenho usado esta frase ao longo da vida. É válida em todas as circunstâncias, mesmo que a resposta seja “porque quero” ou “porque gosto”.
Entendo ainda que a sua validade ser maior ainda no caso da fotografia. Há que entender ou conhecer o que fotografamos (ou captamos em vídeo ou cinema) para podermos ter um bom “retrato” ou, em alternativa, uma boa “interpretação”.
Não conhecer ou entender em profundidade o assunto a fotografar conduz-nos, irremediavelmente, a uma imagem superficial que do todo – incluso ou excluso do enquadramento – apenas mostra uma fracção do assunto, com uma correspondência, se alguma, com ele.
Esta abordagem à photographia – ou à vida se preferirem – tem-me levado a formular inúmeras perguntas, quase uma por instante. E, por cada resposta, novas perguntas que me levam, espero eu, a uma visão mais alargada, quiçá mais profunda, do universo em que me insiro. E, talvez, retrata-lo melhor usando da minha própria perspectiva.
Mas ocasiões há em que fico sem saber como abordar os assuntos. A minha reacção emocional perante a situação deixa-me sem saber o como, ainda que possa saber o porquê.

No Jardim da Estrela, no âmbito do meu projecto “Oldfashion”, sou confrontado com duas senhoras. Uma de vinte e poucos, ou já bem entrada na casa dos quarenta.
Dizem-me que já me haviam visto por ali, que já tinham sentido curiosidade naquilo e que, em o sabendo grátis, queriam fazer uma fotografia. E, enquanto se tratam dos preparativos, acrescentam que não querem o seu retrato na internete.
Obviamente que a sua vontade é para respeitar, mas estranhei-a. Tinham um aspecto por demais bem-disposto, desempoeirado e livre de tabus para tal decisão. Ainda que eu fosse capaz de sentir, algures debaixo de tudo aquilo, um “não-sei-o-quê” de estranho.
Mantendo a boa-disposição mas curioso, não resisti e perguntei-lhes o porquê de tal vontade. Ficando eu sem saber o como. Como reagir ou fotografar perante a resposta.
Diz-me a mais nova, rápida e sem “papas-na-língua, que são vítimas de violência doméstica e que não pretendem publicidade extra sobre elas. O sorriso triste da mais velha, a seu lado, foi o suficiente para confirmar o que tinha sido dito.
O que se diz? O que se faz? Como se fotografa?
Com cara e tom meio de circunstância, disse-lhes que a sua vontade seria respeitada e que lamentava que fossem esses os motivos. E a fotografia foi feita de acordo com o habitual, local, exposição e impressão. A pose foi a que escolheram, também como é hábito.
Na despedida, para além da vénia de saudação e de um divirtam-se cordial, lancei-lhes um meio tolo “Boa sorte!”
Porque tolo era como me sentia, sabendo o porquê mas ignorando o como lidar com a situação!


Texto e imagem: by me

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