quarta-feira, 11 de março de 2009

Quem vê caras...


Conhecia-a de vista desde há uns anitos.
Morando aqui na mesma rua que eu, de quando em vez sai de casa quando estou a tomar o café matutino.
Atravessava o asfalto em passo rápido e, subindo a meia dúzia de degraus, pedia um café. Em voz sempre tão baixa que nunca se me deu para a ouvir. E, enquanto este vinha e não vinha e, de seguida, lhe deitava o açúcar regulamentar e a gosto, acendia um cigarro, alternado de seguida entre a cafeína e a nicotina.
Ficava sempre na ponta do balcão mais perto da porta e, assim que pagava a despesa, saía com o mesmo passo acelerado, dirigindo-se ao carro, com o qual seguia para onde quer que fosse.
Tudo isto contado no pretérito porque, com a lei do tabaco, deixou de frequentar este café. Apercebi-me, que continuei a vê-la atravessar a rua, que tomou gosto ao do lado, onde o cigarro não é proibido, recorrendo ao “meu” apenas à segunda-feira. Por via de dia de folga do outro.
Nada de especial toda esta estória, não fora eu ter um pequeno fraquinho por esta minha vizinha. Os seus trinta e tal anos bem medidos, o modo de andar bem como as suas feições são de molde a olhar segunda vez, que o que é bonito deve ser visto, e é o caso.
Mas algo sempre me fez nunca a bordar ou meter conversa, como seria de esperar entre vizinhos frequentadores do mesmo café ao longo de anos. Não sabia se a pose, se a expressão, se o que quer que fosse, havia ali algo que me impedia de nutrir simpatia por ela. Um destes dias percebi o quê.

Numa rua de baixo, alguns carros estacionavam no passeio, obrigando os peões, como eu, a recorrer ao asfalto se quisessem seguir caminho. E, como de costume, preparei-me para os fotografar para mais tarde colocar as imagens num espaço web que giro.
Pois a dita senhora sai-se-me ao caminho, afirmando-se dona de uma das viaturas e tentando impedir-me de fazer as fotos. O tom de arrogância, de despotismo, de “Eu quero, posso e mando” era de tal forma claro que percebi de imediato o que não havia gostado nela lá no café. Mesmo não lhe conhecendo a voz.
Claro está que a fotografia foi feita, com ou sem o seu agrado, e após uma muito breve troca de palavras bem secas. E publicada onde o costumo fazer. E, obviamente, não ilustro este pequeno relato com imagem do seu carro ou dela mesma.
Mas um dia, quem sabe, talvez a fotografe à surrelfa. E a publique. Para que se saiba como alguém tão agradável à vista pode ser tão desagradável e arrogante na conversação.
Entretanto, que lhe faça bom proveito o café e cigarro tomado ali ao lado. Para que não perturbe o meu cafezinho matinal.



Texto e imagem: by me

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