No dia de hoje fala-se da revolução, dos militares que a
fizeram e deram o corpo às balas, da queda de um regime ditatorial, da
liberdade...
Fala-se de tudo o que deve ser falado neste dia, faltando,
no momento em que escrevo estas linhas, saber os conteúdos dos discursos
solenes.
Mas há algo de que se não fala e que quem viveu, mesmo como
adolescente como eu era, foi vital então e nos tempos que se seguiram: a
sensação – melhor, a certeza – de que o futuro era nosso, estava nas nossas
mãos e que tinhamos que o construir.
Nós mesmos, com algumas certezas e muitas incertezas,
improvisando de acordo com as circunstâncias, discutindo, ventilando ideias e
aprendendo com todos os outros uma forma de viver e pensar nova. Mesmo com os
contra-revolucionários e nos momentos mais complexos.
Esta certeza de autonomia de liberdade nela foi-se diluindo.
Hoje dependemos de instituições, de decisões superiores, encostamo-nos ao “alguém
tem que fazer alguma coisa”. Sempre esquecendo que esse alguém somos nós.
O espírito revolucionário é algo difícil de manter porque
implica alguma ausência de conforto, de estabilidade. Coisa que nós, que o
vivemos independentemente das idades e dos feitos, vamos perdendo com o passar
dos tempos. Um pouquinho hoje, uma cedência amanhã, um encolher de ombros
depois...
Talvez que quando já não restar ninguém que tenha vivido ’74
e seguintes seja altura de um outro dia memorável, em que o povo mais ordene e
que a paz pôdre seja varrida por um vento de libertação individual e interior.
Honra seja feita, encontramos jovens com esse espírito de
revolução. Poucos mas encontramos. Porque são jovens (e a contestação é parte
integrante do amadurecimento), porque o são realmente para além das idades e
dos estatutos.
Mas são poucos, espalhados e ainda desorganizados. Conto com
eles para as novas mudanças que fazem ou farão falta, quando eu já nem um
cartaz consiga colar ou um grito possa soltar.
By me
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