sexta-feira, 15 de abril de 2022

Fotografias de férias e memória




Eu não costumo fazer fotografias de férias.

Aquelas fotografias dos lugares ou das pessoas nos lugares, dos monumentos ou das paisagens monumentais... essas fotografias não costumo fazer. Não quer dizer que as não faça, mas não é meu hábito.

Tenho alguns motivos para isso.

Por um lado, os chamados “postais ilustrados”, à venda nos quiosques para turista como eu sou quando lá estou, foram feitos com a melhor luz do local. Caramba, o fotógrafo, se for residente na zona, sabe qual a melhor época e a melhor hora para tirar o melhor partido da luz.

Por outro lado ainda, não creio que precisemos de fotografias para cumprirmos o velho slogan “para mais tarde recordar”. Se a estada num local ou a viagem por uma zona não foi suficientemente boa para ficar na memória, o que vi e tudo o mais que senti, então não merece recordar.

Por fim, mas o mais importante de tudo, com o passar dos anos e o rever essas imagens de férias, a nossa memória fica quase que mais marcada por aquilo que consta nas fotografias que pelo que se sentiu no local. Talvez que os estudiosos da mente humana discordem desta abordagem de como a memória funciona, mas quando excitamos amiúde a memória com uma imagem, o que vem à superfície é aquilo mesmo, com alguns resquícios do que antecedeu ou sucedeu. Mas todo o resto que temos guardado vai ficando sobreposto por aquele recordar frequente de um momento ou visão, dificultando o acesso a outras memórias correlcionadas.

Não, eu não costumo fazer fotografias de férias. Até porque não necessito de documento para provar, a mim ou aos outros, que estive lá.

Quando em férias, as fotografias que faço são equivalentes às que faria por perto de casa: uma perspectiva incomum, um jogo de luz bonito, um retrato apelativo, visual ou emotivamente...

Não necessito de atestar a minha presença naquele lugar e tempo. Eu sei, eu recordo e é quanto me basta.

 

Vem tudo isto a propósito de ver fotografias de gente que conheço junto de gente conhecida. Das artes e das letras, da política, do desporto...

Em havendo oportunidade, faz-se uma selfie com essa figura ou, em tempos, pedia-se a alguém que fizesse a fotografia. E, mais tarde, usam-se essas mesmas fotografias para atestar o ter estado com essa pessoa. Mesmo que tenha sido apenas uma vez na vida. Uma espécie de “Eu sou importante porque estive com gente importante. Verifiquem isso aqui!”

E se alguém necessita de fotografias com gente importante para se sentir e demonstrar importância é porque, ao fim e ao cabo, se sente pouco importante no dia-a-dia. Lamento-os e à sua baixa auto-estima.

Até porque somos todos importantes, não importa o estatuto, a condição sócio-económica ou o reconhecimento público.


By me

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