A fotografia de Daguérre tal como a imprensa de
Gutemberg podem ser – e são – considerados marcos na história da comunicação e
do desenvolvimento da humanidade. E se a imprensa veio substituir o trabalho
elaborado e elitista dos copistas, fazendo com que a mensagem por
códigos-padrão (escrita) fosse acessível a todos e em todos os lugares, a
fotografia veio “paralelizar-se” com a pintura no acesso à mensagem gráfica sem
códigos-padrão (imagem).
Simplificou os processos de produção da imagem,
passando a ser possível a qualquer um a sua produção e globalizou o seu
consumo, passando a ser possível um sem-número de exemplares, fiéis entre si,
todos originais (ao invés da pintura), e fora dos museus e galerias privadas.
Indo mais longe, e com a simplificação das técnicas
fotográficas, deixou de ser necessário ser-se um especialista para produzir
fotografias. A indústria evoluiu no sentido de deixar ao consumidor apenas o
trabalho de apontar e premir o botão, deixando o trabalho monótono e elaborado
da revelação e impressão para os laboratórios e técnicos especializados.
Actualmente, com os suportes digitais, mesmo aqueles
estão quase que condenados à extinção, já que câmara e computador pessoal se
completam.
Acontece que a simplificação dos processos elaborados
(hardware) não veio alterar profundamente os processos intelectuais (software)
da criação da imagem.
Continua a ser necessário “Pensar” na imagem, imaginar
o resultado final, saber-se o que se quer mostrar ou contar, conhecer como transformar
a tridimensionalidade e os cinco sentidos na bidimensionalidade e na
exclusividade da visão. E, neste campo, não há tecnologia que simplifique. Há
que pensar e sentir, mesmo que não se pense ou sinta que se está a pensar ou
sentir.
E não nos enganemos: Isto dá trabalho! Muito trabalho!
É a tentativa e erro, é o estudo, são as inúmeras frustrações por cada
satisfação, é a paciência, é a pré-disposição diária para o fazer…
Mas, se pensarmos um pouquinho no comportamento
humano, chegamos à conclusão que o bicho-homem não gosta de trabalhar. Toda a
evolução das civilizações e das técnicas foi e é no sentido de facilitar as
tarefas, de minimizar o esforço, de aumentar a satisfação. Fotografia incluída!
Donde a lei, quase universal, do menor esforço, não se
coaduna com o trabalho físico e intelectual. Aquilo que se procura – uma forma
fácil e sem esforço de fazer fotografia – é quase uma impossibilidade!
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