domingo, 3 de abril de 2022

Modelo prime




Esta fotografia foi feita no âmbito de uma acção de formação de iluminação de estúdio que frequentei.

Teve uma componente teórica e uma componente prática, com uma modelo para praticarmos. E cada um dos formandos escolheu o tipo de luz que melhor entendeu. Esta foi uma das minhas abordagens que, como não poderia deixar de ser, considera que a luz principal vem do lado de lá do assunto. Preferências minhas que agora não irei desenvolver.

O que de facto acabou por ter graça foi demais fromandos, bem como o formador, terem achado estranho, ou incomum, a objectiva que estava a usar: uma velhota Tamron, de 90mm e completamente manual. Foco e exposição.

Estranharam o ser uma focal fixa, ou “prime” como hoje lhes chamam, e o ser manual.

Tentei explicar-lhes que, e para além de estar habituado a tal, gosto de ser eu a tomar decisões sobre o que capto (forma, conteúdo, técnica) no lugar de deixar parte desse trabalhao ao “japonês inteligente” que reside no interior da câmara.

Claro que os automatismos são úteis. Em momentos em que a rapidez de acção é vital. O desporto é um bom exemplo.

Mas sendo que gosto de brincar com a luz e contrastes, ainda não consegui que o tal japonês me adivinhe o que tenho em mente.

Por outro lodo, e apesar de não ser um especialista na edição de imagem, conheço razoavelmente bem a câmara e o seu resultado, bem como as ferramentas do editor que uso para, quando faço a tomada de vista, ter uma noção muito aproximada do resultado final.

Já quanto ao serem focais fixas... bem, é uma prazer pessoal. Gosto de, em vendo o assunto e decidindo o enquadramento e perspectiva, escolher a objectiva que vou usar. Treino no olhar é importante e eu gosto de me treinar e aprimorar. E, indo mais longe, se necessitar de repetir de seguida porque algo não correu como gostaria, tenho a certeza que o ângulo de visão é o mesmo que a anterior.

Como se isto não bastasse, nos meus inícios na fotografia, as objectivas zoom eram não só dispendiosas como não muito comuns no mercado. E, pese embora tenha sido uma zoom a primeira objectiva adicional que comprei, sempre preferi a focais fixas.

O que acaba por ter graça é que ainda hoje, passados que são quase dez anos sobre esta fotografia, a maioria prefere o uso de zoom. Talvez porque se esqueçam ou não saibam que o corpo humano tem uma zoom perfeita, a dois tempos: pé esquerdo e pé direito.

Ainda sobre esta fotografia, um detalhe adicional:

Dos diversos formandos presentes fui o único que sugeri uma história para que o modelo interpretasse. Contei-lhe um motivo para ali estar, o que eventualmente pudesse pensar a esse respeito e deixei que agisse em conformidade. Os demais formandos fotografaram as poses que ela foi propondo e fazendo, com a expressão, com os membros, com o corpo. Com uma reduzida cumplicidade entre os dois lados da objectiva.

Por aquilo que pude ver do que fiz e do que fizeram os demais, só comigo ela “ofereceu” o ombro esquerdo à câmara, como aqui se vê. O que bate perfeitamente com a situação que lhe sugeri. Nos restantes trabalhos a posição corporal ou foi frontal ou foi com o ombro direito um pouco avançado.

Para quem tiver curiosidade, sugiro que inverta esta imagem e tente perceber como a história que conta é completamente diferente.

Os meus cinco cêntimos.


By me

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