Tive que fazer uma pesquisa no arquivo do Old Fasion. No
meio de três mil e tal ficheiros, tive que encontrar um em particular. Não foi
fácil. De todo.
Mas aproveitei a empreitada para rever o conjunto das
imagens, ainda que não muito em detalhe a maioria. E para fazer arquivos de
segurança redundantes, coisa que não estava bem feita.
No meio delas, encontrei esta fotografia.
É ela especial porque é o fotógrafo fotografado. E recordo
as circunstâncias: quem premiu o cabo disparador que a originou foi uma
pequenota que muito insistiu para também fazer uma fotografia como eu fazia.
Mas se esta é peculiar, encontrei quase uma dúzia de
fotografias de uma mesma pessoa. Uma senhora, com sérios problemas materiais e
outros, que volta e meia passava por ali e pedia-me que a fotografasse. Sempre sozinha
e sem motivo extra que o querer ser fotografada.
Nunca soube se ela guardava as fotografias. Pelo olhar que
lhes deitava, gostava de se ver, mas não seria coisa que cobiçasse.
Ao fim de algumas, talvez quatro, apercebi-me do que se
passava:
Aquela mulher, que vivia sozinha e com parcos recursos, sem
falar muito com outras pessoas ali pelo jardim da Estrela, que eu me
apercebesse, o que queria mesmo era que alguém lhe prestasse atenção, que
durante algum tempo, mesmo apenas aqueles quinze minutos de conversa, pose e
impressão, alguém fizesse dela o centro do mundo.
E foi. Todas aquelas vezes.
Que quando uma fotografia acontece, todo o universo se
comprime naquele espaço/tempo, transformando tudo o resto em coisa alguma. De
um lado e do outro da objectiva.
Guardo esta senhora num lugar
especial da minha memória, que não a fotográfica. Que ela, mais que quase todos
os demais que fotografei, me fez talvez aprender que o fotógrafo tem um papel
na sociedade que vai muito para além da imagem que regista e exibe. E que o
acto fotográfico é bem mais importante que as qualidades estéticas ou técnicas
que possam ser usadas.
By me
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