sábado, 22 de setembro de 2018

Chamar os bois pelos nomes




Até lhe podem chamar de “batata frita”. Ou “cruzeiro do sul”. Ou “vagabundo cósmico”.
Mas a verdade é que este ajuste nas câmaras fotográficas não é o ajuste da “velocidade de obturação”!
Explicando:
Velocidade é uma relação entre uma qualquer acção e o tempo que demora a acontecer. Velocidade de um automóvel (km/h), velocidade de escrita (palavras por minuto), velocidade de atendimento (utentes por dia), etc. Acção por unidade de tempo.
Quando ajustamos este botão, ou o seu equivalente noutros modelos de câmara, aquilo que estamos a fazer é a definir quanto tempo estará exposto o sensor ou película. Dizemos mesmo “exposição longa” quando falamos de fotografar estrelas, por exemplo.
O que aqui está escrito, e em quase todos os modelos de câmara, é uma abreviatura do que de facto acontece: ao escolher “500” estamos a decidir que a exposição será de 1/500 de segundo. Ou, dito de outra forma, um quinhentos avos de segundo. Estamos a escolher tempo, não alguma acção por unidade de tempo.
Isto acontece porque os obturadores, mecânicos ou electrónicos, terem que fazer o seu trabalho de modo uniforme para que a exposição seja uniforme em toda a superfície do sensor ou película. No caso dos mecânicos e de obturador plano focal (junto ao sensor ou película), com duas cortinas, a velocidade de deslocação de ambas é igual. O que varia é o tempo que medeia entre o início do movimento da primeira e o início do movimento da segunda. Mas a velocidade com que se deslocam, uma e outra, é sempre igual. No caso das câmaras com obturador central (dentro da objectiva e já pouco comuns de serem fabricadas ou usadas), o que é regulado é o tempo que ele está aberto, no seu movimento semelhante ao do diafragma. No caso das câmaras sem obturador físico, muitas das câmaras digitais e todos os telemóveis, o que se ajusta é o tempo durante o qual o resultado da luz sobre o sensor é considerado para o registo.
Tempo! Não velocidade.
Se quiserem usar o conceito de “velocidade” na captação de imagem fotográfica, usem-no no tocante a sensibilidade. Aí sim!
Quando falamos em “ISO” (ASA, DIN, WESTON, GOST, etc.) aquilo que se considera é o tempo necessário para se obter um dado resultado na superfície fotossensível. No caso de película, quanto tempo de exposição para, com uma dada quantidade de luz, se obter o enegrecimento máximo no negativo ou branco puro no diapositivo. Falamos aqui numa relação tempo efeito – velocidade. Daí o podermos falar, sem margem para erros, em sensibilidades mais rápidas ou mais lentas. ISO 100 é mais lento que ISO 400.
Agora o ajuste que fazemos com este botão, ou no menu das digitais, é o do tempo de exposição. Nada de velocidades!
Mas se lhe quiserem chamar “fio de navalha” estejam à vontade. Saibam apenas que não é o termo correcto e garantam que quem vos lê ou ouve entende aquilo de que falam.

Quanto ao resto, e no tocante a tempo de exposição, uma dica antiga, dos tempos em que se fotografava em película e a “regra” se aplicava aos rolos de 35mm:
Para se evitar fazer fotografias tremidas, usando a câmara à mão, o denominador da fracção de segundo a usar no tempo de exposição deverá ser igual ou superior ao da distância focal que estamos a usar.
Por outras palavras, se estiver a usar uma objectiva de 100mm deverei usar um tempo de exposição de 1/100 ou inferior (1/125, 1/250, 1/500 etc.)
Nos tempos actuais, com outros formatos de película ou sensores e com estabilizadores de imagem (na objectiva ou no sensor) isto deixa de ser uma verdade absoluta. Mas a levar em linha de conta, com os devidos cálculos de correcção para sensores mais pequenos que o Full Frame (24x36mm).



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