Até lhe podem chamar de “batata frita”. Ou “cruzeiro do sul”.
Ou “vagabundo cósmico”.
Mas a verdade é que este ajuste nas câmaras fotográficas não
é o ajuste da “velocidade de obturação”!
Explicando:
Velocidade é uma relação entre uma qualquer acção e o tempo
que demora a acontecer. Velocidade de um automóvel (km/h), velocidade de
escrita (palavras por minuto), velocidade de atendimento (utentes por dia),
etc. Acção por unidade de tempo.
Quando ajustamos este botão, ou o seu equivalente noutros
modelos de câmara, aquilo que estamos a fazer é a definir quanto tempo estará
exposto o sensor ou película. Dizemos mesmo “exposição longa” quando falamos de
fotografar estrelas, por exemplo.
O que aqui está escrito, e em quase todos os modelos de
câmara, é uma abreviatura do que de facto acontece: ao escolher “500” estamos a
decidir que a exposição será de 1/500 de segundo. Ou, dito de outra forma, um
quinhentos avos de segundo. Estamos a escolher tempo, não alguma acção por
unidade de tempo.
Isto acontece porque os obturadores, mecânicos ou
electrónicos, terem que fazer o seu trabalho de modo uniforme para que a
exposição seja uniforme em toda a superfície do sensor ou película. No caso dos
mecânicos e de obturador plano focal (junto ao sensor ou película), com duas
cortinas, a velocidade de deslocação de ambas é igual. O que varia é o tempo
que medeia entre o início do movimento da primeira e o início do movimento da
segunda. Mas a velocidade com que se deslocam, uma e outra, é sempre igual. No
caso das câmaras com obturador central (dentro da objectiva e já pouco comuns
de serem fabricadas ou usadas), o que é regulado é o tempo que ele está aberto,
no seu movimento semelhante ao do diafragma. No caso das câmaras sem obturador
físico, muitas das câmaras digitais e todos os telemóveis, o que se ajusta é o
tempo durante o qual o resultado da luz sobre o sensor é considerado para o
registo.
Tempo! Não velocidade.
Se quiserem usar o conceito de “velocidade” na captação de
imagem fotográfica, usem-no no tocante a sensibilidade. Aí sim!
Quando falamos em “ISO” (ASA, DIN, WESTON, GOST, etc.) aquilo
que se considera é o tempo necessário para se obter um dado resultado na
superfície fotossensível. No caso de película, quanto tempo de exposição para,
com uma dada quantidade de luz, se obter o enegrecimento máximo no negativo ou branco
puro no diapositivo. Falamos aqui numa relação tempo efeito – velocidade. Daí o
podermos falar, sem margem para erros, em sensibilidades mais rápidas ou mais
lentas. ISO 100 é mais lento que ISO 400.
Agora o ajuste que fazemos com este botão, ou no menu das
digitais, é o do tempo de exposição. Nada de velocidades!
Mas se lhe quiserem chamar “fio de navalha” estejam à vontade.
Saibam apenas que não é o termo correcto e garantam que quem vos lê ou ouve
entende aquilo de que falam.
Quanto ao resto, e no tocante a tempo de exposição, uma dica
antiga, dos tempos em que se fotografava em película e a “regra” se aplicava
aos rolos de 35mm:
Para se evitar fazer fotografias tremidas, usando a câmara à
mão, o denominador da fracção de segundo a usar no tempo de exposição deverá
ser igual ou superior ao da distância focal que estamos a usar.
Por outras palavras, se estiver a usar uma objectiva de
100mm deverei usar um tempo de exposição de 1/100 ou inferior (1/125, 1/250,
1/500 etc.)
Nos tempos actuais, com outros formatos de película ou
sensores e com estabilizadores de imagem (na objectiva ou no sensor) isto deixa
de ser uma verdade absoluta. Mas a levar em linha de conta, com os devidos cálculos
de correcção para sensores mais pequenos que o Full Frame (24x36mm).
By me
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