domingo, 30 de setembro de 2018

Leituras




Há uns tempos tive uma aventura estranha!
Uma senhora, mais ou menos com a minha idade e que trabalha numa cozinha, disse-me que não gostava de ler. Isso é uma coisa comum nos tempos que correm, mas depois contou-me uns trocos mais:
Havia completado a quarta classe já depois de casada para poder conseguir um emprego e nunca se tinha entendido bem com as letras e os números.
Ela lá fazia o que tinha a fazer, no seu trabalho de prever as ementas e as encomendas para a dispensa, e nos relatórios… mas era uma seca e o que mais odiava no seu trabalho.
Entendi-a!
O relacionamento com a leitura fora tarde, demasiado tarde. E forçado.
Mas fez-me pena que alguém não goste de ler apenas porque não teve oportunidade de descobrir o prazer que dá.
Vai daí fiz-lhe uma proposta incomum: “Se eu lhe oferecer um livro que sei que vai gostar, você lê-o todo? É pequeno, é coisa levezinha e sei que vai gostar!”
Ficou atrapalhada mas anuiu ao desafio.
Pus-me em campo. Tinha em mente o livro de Luís Sepúlveda “História de uma gaivota e do gato que a ensinou a voar”, obra de pequeno volume, texto simples, mas de enredo bonito, acessível a qualquer gosto de leitura. E procurei-o.
Acontece que a obra tinha sido adoptada pelo “plano nacional de leitura” e recomendada para o 7º ano de escolaridade.
“Bem escolhido”, pensei. “Que bosta!” concluí. Que editora que ficara com os direitos nesse tal “plano” ilustrara-o com desenhos infantis. Nem sequer juvenis: infantis! E não me passaria pela cabeça oferecer tal edição a esta senhora.
Ainda procurei uma edição anterior, em tudo quanto é lado, mas nada, pelo que acabei por lhe dar o “Crónica dos bons malandros” de Mário Zambujal. Sendo maior, referia-se a uma sociedade e comportamentos que ela conhecia de perto.
Foi um sucesso, disse-me ela. Até na camioneta, de casa para o trabalho e volta ela vinha entretida a ler, tal o prazer que tinha nele. E disse-me que haveria de começar a prestar atenção aos livros que o marido tinha, coisa que nunca havia feito.
Foi a minha boa acção do ano.
Quanto ao livro de Sepúlveda, acho que editores fizeram disparate do grosso. Se, por um lado, retiram-no do mercado dos adultos com essas ilustrações (e a obra não tem idade própria), por outro, com esses desenhos estão a retirar dos pequenos o real prazer que a leitura nos dá: imaginar o que lá não está.
Ao colocar ilustração num livro, está-se a condicionar a imaginação do leitor ao desenho exibido. Rostos, cenários, cores, tamanhos… E se uma classe inteira ler a mesma obra, ficam todos com a mesma condicionante.
Sabemos que o belo da literatura é a capacidade de o leitor completar com as suas próprias vivências e imaginação aquilo que o autor quis deixar em aberto. Com ilustrações isso morre. E é tanto mais grave quanto forem infantis numa idade em que as crianças já não querem ser tratadas como tal.

Se quiserem ler a obra, que recomendo, sugiro que a procurem num alfarrabista ou quejando, numa edição que não ilustrada. E deixem que a vossa imaginação vogue ao vosso sabor e não condicionada por um ilustrador, por muito bom que ele seja.



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sexta-feira, 28 de setembro de 2018

Alojamentos




Segundo fiquei a saber pelas notícias de ontem, não apenas o presidente da TAP se queixa de demasiados atrasos no aeroporto de Lisboa, com custos elevados para a operação, como se está a tentar acelerar a entrada em funcionamento do aeroporto complementar a este. Eventualmente no Montijo.
A justificação para tal, segundo me apercebi, é o aumento do turismo na capital e consequente movimento de passageiros.
Ao que parece, as autarquias e o governo estão preocupadas com o assunto.
No entanto…
No entanto é notícia quase todos os dias a pressão turística sobre o imobiliário, nomeadamente a questão do alojamento. E a consequente desertificação da cidade por parte dos lisboetas para dar lugar a pernoitas de turistas, em hotéis ou alojamento local.
Vamos ver se nos entendemos: ou bem que se controla o fluxo turístico e a respectiva pressão sobre a cidade, ou bem que isso não é problema e quantos mais vierem melhor.
Se se pretende controlar a pressão turística, então o aumento do tráfego aeroportuário e suas condições logísticas é um disparate.
Mas se o aumento de turistas é desejado, e a questão da desertificação da cidade é problema menor, então tratem lá, para ontem, de abrir o novo aeroporto. Que há que aproveitar enquanto Lisboa e Portugal forem destinos apetecíveis.
O que fazer com os AL e demais instalações hoteleiras quando acabar a mina, outros que decidam.
Que nessa altura se resolverá o que fazer com os hotéis em excesso, o desemprego de quem nele e na restauração trabalhar. E haver ou não residentes na cidade… Sabemos que os portugueses são simpáticos mas sujam as ruas e não deixam gordas gorjetas.



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quinta-feira, 27 de setembro de 2018

Minudências




Conheço alguém que acabou o Curso Técnico Superior Profissional em Audiovisual e Multimédia.
Não sabe o que é temperatura de cor.
Não quis eu saber que mais sabe. Suponho que os automáticos dos equipamentos suprimem esta questão e outras minudências



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Opções editoriais




Não é que eu ligue muito a estas coisas. Nem sequer que goste do homem.
Mas a verdade é que Marcelo Rebelo de Sousa discursou na Assembleia Geral das Nações Unidas.
Apesar de ser o tal dos abraços e selfies, Marcelo Rebelo de Sousa é o Presidente da República Portuguesa, seja qual for a empatia que os portugueses possam ter por ele.
E eu, alertado por um post numa rede social, fui saber se seria verdade ele ter discursado. E tive que procurar com afinco, nas notícias de entrada de seis jornais on-line portugueses.
É que apenas dois referiam tal facto, sendo que António Costa, Mário Centeno e mesmo Cavaco Silva conseguiram mais protagonismo jornalístico que o presidente.
Goste-se ou não, ele é a mais alta figura do estado. E tenha os objectivos e sucessos que tiver, a ONU será o porta-voz das vontades de todas as nações.
O discurso do nosso presidente em tal local não pode (ou não deve) ser liminarmente ignorado. Tanto mais quanto os discursos de outros presidentes tiveram direito a transmissão televisiva em directo, na íntegra e com tradução simultânea.
Há no jornalismo nacional, ou nas suas opções editoriais, algo de estranho e um conluio discreto mas real.

Imagem: edit by me, from the web

quarta-feira, 26 de setembro de 2018

Velharias



Porque mo lembraram, aqui fica um exemplar que, não sendo uma raridade mundial, não será das peças mais comuns.
Trata-se de uma Novoflex 600mm f:8, uma focal longa (e não uma teleobjectiva) concebida para fotografar natureza selvagem.
Infelizmente não possuo o apoio de ombro, o que a torna num conjunto não particularmente prático de usar senão com recurso a um tripé ou monopé.
Mas o seu sistema de focagem por gatilho, com prática, é particularmente útil para acompanhar com rigor objectos em movimento sem grandes amplitudes de movimentos. 
Claro que, nos tempos que correm, isto é obsoleto. As teleobjectivas vieram encurtar tamanhos e diminuir pesos, os sistemas motorizados de focagem minimizar esforços e, se bem empregues, muito eficazes. Além de permitirem fotografar aviões, por exemplo, sem se correr o risco de ter uma brigada de intervenção rápida da polícia ao nosso lado ainda antes de conseguirmos fazer uma imagem de jeito. 
Em qualquer dos casos, trata-se de um objecto interessante para a arqueologia da fotografia, em perfeito estado de funcionamento.
Não está à venda.

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terça-feira, 25 de setembro de 2018

A prática da arte




Ainda sobre a polémica sobre Arte, Mapllethorpe e Serralves, um excerto do livro “A prática da arte” (1970), de Antoni Tàpies, Barcelona 1923 – Barcelona 2012

“A arte é uma fonte de conhecimento, tal como a ciência, a filosofia, etc., e a grande luta empreendida pelo homem para ir ajustando a sua concepção da realidade – que é o que o enaltece e torna livre – não pode prosperar se se manipularem ideias que já foram concebidas e realizadas anteriormente. As formas caducas não podem conduzir a ideias actuais. Se as formas não são capazes de ferir a sociedade que as recebe, de a irritarem, de a impelirem à meditação, de fazerem com que ela veja que está atrasada, se não estiverem em ruptura, então não são uma verdadeira obra de arte. Perante uma verdadeira obra de arte, o espectador deve sentir-se obrigado a fazer um exame de consciência e a pôr em dia as suas velhas concepções. O artista deve fazer com que ele compreenda que o seu mundo era estreito, e deve abrir-lhe novas perspectivas. Isto é: deve levar a cabo uma autêntica obra humanista.
Quando o grande público encontra plena satisfação em determinadas formas artísticas, é porque essas formas já perderam toda a sua virulência.
Onde não houver verdadeiro impacto, não haverá arte. Quando a forma artística não é capaz de provocar o desconcerto no espírito do espectador e não o obriga a mudar de forma de pensar, não é actual.”



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Medidas




No dia em que os afectos se possam medir, termos lojas especializadas comerciando caixas de afectos, de acordo com normas internacionais.
Até lá, felizmente, os afectos são a granel, sem rigor, usando de “muito”, “pouco”, “mais-ou-menos”.



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segunda-feira, 24 de setembro de 2018

Photógraphos




Por vezes gostava de conseguir seguir a linha desta canção, da ópera “Porgy and Bess”: “I got plenty o’ nottin”.
O conceito de nada possuir que não os afectos, o universo e um tapete é algo de belo, quase utópico. Um desapego do material, um despojar do inútil…
Mas depois…
Depois vêm as vontades de usufruir de todas as outras coisas que temos por belas, por importantes e que, junto com os afectos, nos completam.

Uma ocasião, faz já muitos anos, numa ronda por livrarias tropecei num livro.
Tratava-se de uma colectânea de fotografias pornográficas do séc. XIX, um conjunto raro de encontrar. Que, se bem que o tema sempre tenha sido abordado fotograficamente ou com qualquer outra forma de expressão, a moral pública e a religião sempre fizeram questão de remeter essas representações para locais recônditos, com raríssimas excepções. E o séc. XIX não foi excepção. Aquela colectânea, que se bem recordo até estava muito bem impressa, era um documento na história da fotografia que engrandeceria qualquer biblioteca temática ou conhecimento.
Infelizmente, naquele momento não tinha eu dinheiro para ele, que recordo ser bem caro.
Quando por ele voltei, poucos dias depois, já tinha sido vendido. Para gaudio do comprador e frustração minha.
Sendo certo que não haverá temas tabu para serem fotografados, ao longo dos anos fui juntando algumas outras obras sobre o assunto. Algumas no meio de muitas outras que por aqui possuo. E muito menos do que gostaria, sobre o tema ou qualquer outro.
Que se há coisa que me dá prazer é ver ou rever livros ou exposições fotográficas, em que os autores deram o melhor de si para exprimirem sentimentos ou satisfazerem clientes ou público. Mesmo a pornografia, o nu, o erótico. Ou a guerra, os massacres, os políticos, a fome. Mesmo que se tratem de temas que não me sejam queridos, que me incomodem até, a fotografia é tão abrangente quanto a mente humana. E uma das coisas que me atrai na fotografia é o ela ser o espelho da humanidade. Um dos espelhos da humanidade.
E se aquilo que faço é em parte com esse objectivo, fará todo o sentido procurar os trabalhos de outros, mesmo que não me agradem, para deles tirar pistas e criar a minha própria linha de abordagem. Por muito má que seja, será a minha abordagem e a minha forma de ver e de me expressar.
Sobre o agora badalado e polémico caso da exposição de trabalhos de Mapplethorpe, o mais provável é não a ir ver.
Pese embora a qualidade das impressões dever ser muito boa, pese embora o tamanho das impressões estar de acordo com o autor (o tamanho da imagem final é algo que, as mais das vezes, se esquece e, no entanto, é vital no processo fotográfico, desde a tomada de vista até à exibição ou venda), pese embora seja bem diferente o ver fotografias numa parede ou num livro (já nem falo no ecrã do computador), o autor e o seu trabalho não me atrai o suficiente para ir passar um dia fora da minha cidade, com pernoita incluída.
Fico-me pelo livro com parte das suas fotografias que aqui tenho, há anos. A que, talvez uma vez por ano ou nem isso, dou uma olhada. E que, em sendo a oportunidade certa, uso para neófitos verem, mesmo que em terapia de choque, para que o seu conhecimento sobre a arte e a técnica fotográfica seja bem mais abrangente que aquilo que tantos académicos, lentes e profs permitem que se conheça.
O conhecimento não é, por si só, nem bom nem mau. É apenas uma ferramenta para os nossos próprios caminhos. E quantas mais ferramentas tivermos, melhor e mais profícuo será ele.

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domingo, 23 de setembro de 2018

Sabedoria




A minha avozinha, na sua sapiência de uma terceira classe incompleta, de um doutoramento prático em vida e sobrevivência e à luz de velas e de candeeiros de petróleo dizia:
“Viver não custa! Custa é saber viver!”



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Polémicas




Ainda sobre a questão da exposição no Museu de Serralves:
Tornam-se polémicas certas imagens. Retiram-se algumas, condiciona-se o acesso a outras. Não vou aqui pronunciar-me sobre a legitimidade de o fazer nem sobre a respectiva responsabilidade. Não estou na posse de todos os dados e o que sei sobre o assunto é o “diz que disse”. Pouco completo.
Mas questiono a polémica em torno de alguns trabalhos fotográficos e a total ausência de polémica sobre outros.
As fotografias agora expostas são de pessoas que permitiram o acto fotográfico e a respectiva utilização. Consensuais, portanto. Com a classificação de arte e polémicas apenas pela forma como os fotografados agem ou se mostram.
Mas também se chama de arte, com direito a galerias, publicações e prémios, fotografias de gente que não autorizou serem fotografadas e muito menos a sua utilização. A chamada “fotografia de rua”. E estas, nada consentidas, não serão objecto de polémica. Mais “paparazzi”, menos oportunidade sobre transeuntes, os fotografados são invadidos nas suas privacidades, gestos e poses perpetuadas, à revelia do seu consentimento ou conhecimento. Por vezes, na absoluta privacidade de suas casas, através de janelas ou vedações.
Nenhuma polémica em torno disto. Perfeitamente aceitável. Politicamente correcto. Artisticamente inserido.
Gosto de polémica! Faz agitar o lodo no fundo do lago. Infelizmente lagos há, tóxicos, que não apenas não se agitam como se lhes acrescenta toxicidade.
A fotografia de rua, com a sua total ausência de respeito pelos fotografados, é um bom exemplo!



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Práticas e métodos




Surge este post na sequência de uma conversa tida com uma amiga, que me descreveu métodos e práticas numa escola profissional.
E fiquei eu a pensar que profissionais dali sairiam. E que cidadãos.
Bem como nos resultados que obtive, em tempos.

Quando eu trabalhei com bandos de jovens que queriam aprender o pouco que sei, havia este aviso colado na porta. Da parte de fora!
Nunca aceitei, nem aceito, que a desatenção ou o desleixo de um ou dois prejudicasse o trabalho e a concentração do conjunto.
A regra era simples:
Trabalhávamos duas, três, por vezes quatro horas seguidas e juntos. Com os intervalos óbvios, que havíamos combinado acontecer quando os trabalhos permitissem e não seguindo a omnipotente e sempre ditatorial campainha.
Quem quer que chegasse depois da porta fechada poderia sempre ingressar no grupo nessas pausas, sem a temível e perigosa “falta”. E, se fosse necessário, gastaria eu um nico de tempo para o ou a colocar a par do que se havia feito ou dito.
Umas três ou quatro semanas depois de começarmos a trabalhar juntos, o aviso deixava de ser necessário. Por um lado, o índice de abstenção real era muito menor. Realmente menor. Por outro, todos entendiam a eficácia do método e percebiam que perturbar o todo o grupo ao entrar numa sala a meio de um trabalho era (é!) uma terrível falta de respeito para com os demais. Que a interrupção assim provocada fazia todos perderem a concentração e o rendimento na aprendizagem. E era garantido que se faria o possível para que ninguém ficasse para trás nos conhecimentos que adquiriam.

Na primeira reunião de notas que tive, naquele natal e naquela escola, eu era o novato, aquele que pouca ou quase nenhuma experiência lectiva tinha.
Quando disse de minha justiça sobre cada um dos alunos e descrevi um dos métodos de avaliação continua que usava – atitude profissional – e que isso era conteúdo programático e importante num curso profissional, fui discretamente gozado pelos demais professores ou formadores. “Lá vem este com coisas novas p’rós putos!”
Para minha satisfação (muito íntima e secreta) no ano lectivo seguinte esse item constava nas orientações dadas pela direcção aos professores.

Este aviso – e tudo o que com ele se relaciona – fazia e faz parte dessa formação e respectiva avaliação.
E da minha própria prática profissional.

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Confusões




Um cliente entra numa loja de fotografia e diz para o vendedor:
“Boa tarde. Eu quero comprar uma lente de 100mm para a minha câmara.”
“Com certeza!”, respondeu o funcionário. “Dê-me só um minuto.” E afasta-se para o interior da loja.
Regressa pouco depois, dizendo:
“Por sorte ainda tinha uma. Aqui tem.”
E colocou com todo o cuidado em cima do balcão um pedaço de vidro, achatado, redondo, abaulado de ambos os lados e com cabo metálico.
“Mas… Mas… Mas isto parece ser uma lupa. Não foi isso que pedi.”
“Ora essa! O senhor pediu uma lente de 100mm para a sua câmara. Aqui está uma de dez dioptrias. Agora é só saber como é que a quer usar na sua câmara. Talvez montado num aro, à frente da sua objectiva, como uma lente de aproximação.”

Um cavalheiro entra no consultório de um cirurgião e diz-lhe:
“Doutor: eu quero ser castrado!”
“Você está louco. Nem pense em fazer uma coisa dessas!”
“Ora essa! É isso que eu quero. É uma questão de fé.”
“Bem, se está assim tão determinado, isso pode ser feito. Mas terá que assinar um termo de responsabilidade, dizendo muito concretamente que é isso que quer que eu faça.”
O documento é assinado e a operação marcada.
Do dia seguinte à cirurgia um amigo vai visitá-lo à enfermaria do hospital e pergunta-lhe:
“Olha lá: internamento para uma circuncisão?”
“É pá! Bolas! Era isso!”

Podemos usar os termos que entendermos para referir as acções ou objectos que quisermos. Convém é que usemos os mesmos termos para os mesmos conceitos.



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sábado, 22 de setembro de 2018

Chamar os bois pelos nomes




Até lhe podem chamar de “batata frita”. Ou “cruzeiro do sul”. Ou “vagabundo cósmico”.
Mas a verdade é que este ajuste nas câmaras fotográficas não é o ajuste da “velocidade de obturação”!
Explicando:
Velocidade é uma relação entre uma qualquer acção e o tempo que demora a acontecer. Velocidade de um automóvel (km/h), velocidade de escrita (palavras por minuto), velocidade de atendimento (utentes por dia), etc. Acção por unidade de tempo.
Quando ajustamos este botão, ou o seu equivalente noutros modelos de câmara, aquilo que estamos a fazer é a definir quanto tempo estará exposto o sensor ou película. Dizemos mesmo “exposição longa” quando falamos de fotografar estrelas, por exemplo.
O que aqui está escrito, e em quase todos os modelos de câmara, é uma abreviatura do que de facto acontece: ao escolher “500” estamos a decidir que a exposição será de 1/500 de segundo. Ou, dito de outra forma, um quinhentos avos de segundo. Estamos a escolher tempo, não alguma acção por unidade de tempo.
Isto acontece porque os obturadores, mecânicos ou electrónicos, terem que fazer o seu trabalho de modo uniforme para que a exposição seja uniforme em toda a superfície do sensor ou película. No caso dos mecânicos e de obturador plano focal (junto ao sensor ou película), com duas cortinas, a velocidade de deslocação de ambas é igual. O que varia é o tempo que medeia entre o início do movimento da primeira e o início do movimento da segunda. Mas a velocidade com que se deslocam, uma e outra, é sempre igual. No caso das câmaras com obturador central (dentro da objectiva e já pouco comuns de serem fabricadas ou usadas), o que é regulado é o tempo que ele está aberto, no seu movimento semelhante ao do diafragma. No caso das câmaras sem obturador físico, muitas das câmaras digitais e todos os telemóveis, o que se ajusta é o tempo durante o qual o resultado da luz sobre o sensor é considerado para o registo.
Tempo! Não velocidade.
Se quiserem usar o conceito de “velocidade” na captação de imagem fotográfica, usem-no no tocante a sensibilidade. Aí sim!
Quando falamos em “ISO” (ASA, DIN, WESTON, GOST, etc.) aquilo que se considera é o tempo necessário para se obter um dado resultado na superfície fotossensível. No caso de película, quanto tempo de exposição para, com uma dada quantidade de luz, se obter o enegrecimento máximo no negativo ou branco puro no diapositivo. Falamos aqui numa relação tempo efeito – velocidade. Daí o podermos falar, sem margem para erros, em sensibilidades mais rápidas ou mais lentas. ISO 100 é mais lento que ISO 400.
Agora o ajuste que fazemos com este botão, ou no menu das digitais, é o do tempo de exposição. Nada de velocidades!
Mas se lhe quiserem chamar “fio de navalha” estejam à vontade. Saibam apenas que não é o termo correcto e garantam que quem vos lê ou ouve entende aquilo de que falam.

Quanto ao resto, e no tocante a tempo de exposição, uma dica antiga, dos tempos em que se fotografava em película e a “regra” se aplicava aos rolos de 35mm:
Para se evitar fazer fotografias tremidas, usando a câmara à mão, o denominador da fracção de segundo a usar no tempo de exposição deverá ser igual ou superior ao da distância focal que estamos a usar.
Por outras palavras, se estiver a usar uma objectiva de 100mm deverei usar um tempo de exposição de 1/100 ou inferior (1/125, 1/250, 1/500 etc.)
Nos tempos actuais, com outros formatos de película ou sensores e com estabilizadores de imagem (na objectiva ou no sensor) isto deixa de ser uma verdade absoluta. Mas a levar em linha de conta, com os devidos cálculos de correcção para sensores mais pequenos que o Full Frame (24x36mm).



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sexta-feira, 21 de setembro de 2018

Antiguidades




São metodologias que hoje a maioria talvez não fosse capaz de praticar.
Começando por olhar os assuntos e vê-los em termos de cinza. Do negro profundo ao branco puro. Tentando reduzir todos os cambiantes de cor em termos de brilho e contraste, ignorando os contrastes de cor. Não é coisa fácil, para quem vê a cores, regista a cores e trabalha as cores.
De seguida fazer o enquadramento. Uma focal fixa é uma zoom a dois tempos: pé direito e pé esquerdo. Mas o que acaba por ser divertido é olhar para o assunto e, antes de colocar a câmara e espreitar pelo visor, ter uma noção razoável daquilo que a objectiva capta.
Verificada a perspectiva, definir a profundidade de campo pretendida. Para tal, ponderar a abertura de diafragma. E este depende da relação do seu valor, do tempo de exposição, da velocidade da película e da quantidade de luz existente. Como esta câmara está temporariamente sem medidor de luz (sem pilha) estou a usar um fotómetro manual. Em modo de leitura de luz incidente, reservando para mim a análise dos contrastes e decidir em função disso.
Feitas estas contas e cálculos, enquadrar, focar, garantir que o diafragma está realmente fechado na abertura escolhida e premir o obturador.

Nas câmaras actuais, na sua maioria, boa parte destes passos são feitos pelo “japonês inteligente” que reside na câmara. Excepção feita ao ver em preto e branco, que isso não creio que esteja automatizado.
Não será a ferramenta que faz a obra-prima. Nem eu tenho o arrojo de supor que as consigo fazer.
Limito-me tirar prazer do imaginar o resultado final que, neste caso, só verei passados uns bons dias, talvez uma semana. E usar, passados tantos anos, as técnicas que aprendi nos meus inícios é um exercício divertido.
Que, entre outras coisas, me obriga a pensar antes de premir o botão. E isso é o fundamental.



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Crime e castigo divino




Por via de uma crónica de alguém que muito estimo e aprecio – Ana Sousa Dias – dou comigo a ler por alto sobre a mitologia da Grécia antiga.
E encontro uma referência que me faz fazer uma ligação com um outro artigo de jornal: A oposição peremptória do primeiro-ministro Húngaro à presença de imigrantes na Europa. Segundo o que li, terá dito “A solução é simples, não deixem entrar. E esses que já cá estão (na europa) mandem-nos de volta para casa.”
De acordo com o que aprendi agora sobre mitologia, Radamanto, Éaco e Minos seriam quem julgaria os mortos e os enviaria para o Tártaro para serem castigados. Radamanto julgaria as almas asiáticas, Éaco as almas europeias e Minos as gregas.
Tenho que presumir que o senhor Viktor Orbán deve achar que só falará com Minos ou com Éaco, já que se deve achar superior demais para se encontrar com Radanto.
Que todos os deuses nos protejam de gente assim!



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quinta-feira, 20 de setembro de 2018

Regressos



Um regresso às origens. Mesmo às origens.
Duas focais fixas, sem TTL e com medição exterior manual, 36 exposições pancromáticas, objectivas exclusivamente manuais, saber que irá demorar até poder ver o resultado, ver em monocromático...
Um regresso às origens.

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Informal????




A televisão mostrou-me uma notícia sobre uma cimeira informal europeia.
Prestei atenção e não achei nada informal.
Nem shorts, nem havaianas, nem t-shirts… E muito menos gangas.


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Quando estou mais em baixo tenho várias estratégias de me animar. Uma delas passa pela leitura.
E quando acontece o estar em baixo ser mais em baixo que barriga de jacaré, tenho duas leituras que são remédio santo:
A banda desenhada do Gaston Lagafe é uma delas. Não há crise biliar que lhe resista.
A outra é a página do “Luta Popular”. Infalível!
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Conservadorismo corporativo



Numa rua em que morei existiam três cafés a uns 40 metros uns dos outros.
Não sei qual a cronologia das inaugurações, que já lá estavam quando para lá fui.
Tinham clientelas díspares até porque tinham produtos diferenciados.
Com o passar dos anos, e porque a gestão de um deles deixava muito a desejar e isso era notório, passaram a dois. Isso e a crise, que reduziu drasticamente o consumo nos cafés.
Já lá não moro e não sei como os estes dois estão. Mas a diferenciação de serviços e clientela talvez os mantenha abertos.
A isto chama-se economia de mercado e de livre concorrência: cada um abre o negócio que entende, no ramo que prefere, e enfrenta o já existente. Tal como cada um tem que ser capaz de lidar com os novos negócios que surjam, adaptando-se aos tempos e aos modos.
Não será, exactamente, o sistema que perfilho, nomeadamente em actividades vitais como farmácias, hospitais, etc. 
No caso dos táxis, a existência de um monopólio privado e a resistência deste ao que de novo surge faz-me sair do sério. 
Sim, porque o que está realmente em causa não serão questões fiscais ou de segurança. Isso são os argumentos, mesmo que válidos, que um conjunto de industriais de transportes apresentam para que o seu negócio, tradicional e monopolista, não seja posto em causa. 
Aliás, veja-se o que estes industriais fazem no que toca a novas taxas, ao sistema de coroas do “táxi voucher”, ao estado de conservação e manutenção de tantos veículos, às disputas por limitação de licenças por concelhos, à exclusividade de utilização de praças…
Não sou utilizador das novas formas de mobilidade. Estas implicam pagamentos com cartões e isso é coisa que me incomoda. Na prática, no conceito e nas consequências.
Mas o ultra conservadorismo e o querer manter monopólios e privilégios por parte dos industriais de táxi também me desagrada. 
Bom seria que eles se adaptassem à inevitabilidade dos novos sistemas de negócio, no lugar de se baterem por monopólios ancestrais. Também os cocheiros deixaram de existir, restando apenas os turísticos ou históricos. É o que lhes está reservado, com ou sem manifestações mais ou menos ruidosas.

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segunda-feira, 17 de setembro de 2018

O melhor e o óptimo




Há uns anitos valentes li uma notícia num jornal.
Contava ele que havia sido encontrada uma gravação perdida de uma interpretação de um tema de Ravel por uma diva do belo canto: Victória de Los Angeles.
Esta gravação teria sido feita em Lisboa em 1957, pela então Emissora Nacional aquando de um recital público, e teria sido afirmado que fora a melhor interpretação da canção que se havia ouvido.
Acontece que esse registo havia sido perdido nos arquivos e supunha-se que para sempre.
Felizmente que a agora Radio e Televisão de Portugal, ao digitalizar os seus arquivos, a teria encontrado e divulgara a notícia.
Sendo uma coisa boa, ao contrário do que costuma acontecer nos nossos jornais, divulguei o assunto num espaço on-line.
Passado mais de um ano recebo uma mensagem de um desconhecido, vinda dos EUA, dizendo que era um amante do belo canto, que havia lido o meu post sobre a diva e a récita excepcional e se eu lhe poderia enviar o CD que entretanto havia sido feito.
Não o consegui fazer, pois não quis ficar sem o que tinha, e não consegui obter outro. Mas fiz o que pude: copiei faixa a faixa todo o disco e enviei-lho por e-mail. Achei que tinha feito o possível.
Passados talvez dois anos recebo nova mensagem deste mesmo desconhecido.
Renovava ele os seus agradecimentos e contava uma pequena-grande tragédia: era bibliotecário, vivia e Nova Orleães e toda a sua colecção de discos, alguns bem raros, havia sido destruída pelo furacão Katrina. Salvaram-se alguns poucos exemplares. E aquilo que lhe havia enviado, que ainda estava no servidor de correio electrónico.
Por vezes, o não conseguirmos fazer o melhor resulta em óptimo!


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domingo, 16 de setembro de 2018

Férias




Quando hoje vejo ou oiço falar da protecção que os pais dão aos seus filhos… Recordo a minha ida de férias quando catraio pequeno.
Com destino ao Algarve, onde viviam os meus avós, embarcava eu num autocarro na margem sul sozinho. Suponho que motorista e cobrador ficariam com a incumbência de me vigiar, mas ninguém me acompanhava, a um pirralho ainda na primária.
A viagem durava todo o dia, desde quase madrugada até depois da hora do lanche, com paragem em todas as vilas, aldeias e intermédias. E eu assistia a tudo isso sentado no banco da frente, com vista privilegiada para a estrada.
Havia sempre tempo, em algumas localidades, para ir à casinha ou para comprar um nogat, delícia de putos de então e que não se encontravam com facilidade pela capital.
O almoço era passado numa garagem, mais ou menos a meio caminho. Uma hora inteirinha, em que eu atacava o farnel que levava (hoje chamam-lhe marmita). Senti-me gente crescida quando, um ano, no lugar de lancheira me deram dinheiro para eu comer num café nas imediações da estação.
O desembarque era numa aldeia, sem estação ou abrigo, quase no meu destino. E haveria que esperar um pedaço ali, sentado ao lado do sinal de paragem em pedra, que viesse a outra carreira que haveria de me levar ao meu destino final. Nos primeiros tempos tinha o meu avô à minha espera, depois já nem isso, que eu bem sabia que seguiria na única que ali passasse. Sem nunca esquecer de cumprimentar o sr. Correia, cobrador dessa linha e que vivia lá na aldeia.
A casa de meus avós, na beira da estrada, distava uns bons quinhentos metros da aldeia, para um lado, e outro tanto da paragem anterior. Não fazia diferença, que a carreira faria o favor de parar ao portão, na curva, para eu desembarcar.
Tudo isto sem wi-fi, gps ou telefonemas inquisitórios sobre onde estaria eu, se teria comido bem ou se estaríamos atrasados. Matava o tempo contando os sinais de “curva” do caminho (eram muitos que não havia IPs então e o trajecto fazia-se pelas serras), tentando fazer ligação entre as matriculas dos carros que nos ultrapassavam com qualquer palavra ou expressão que me lembrasse ou palpitando sobre o tempo de ainda demoraria até à povoação seguinte, regulando-me pelo relógio da camionete. O meu primeiro relógio de pulso recebi-o eu aquando do exame da quarta classe, um Caunny de contrabando, a que perdi o rasto há muito mas de que acabei por encontrar uma fotografia na net há uns tempos.
O regresso de férias era equivalente, com a única diferença de embarcar na cidade perto da aldeia, no lugar de numa paragem intermédia. Que, se bem recordo, as carreiras tinham horários conjugados entre si e os comboios e a da manhã saía muito cedo para fazer a ligação com a estação da CP, lá na cidade.

Os bilhetes eram comprados a bordo, se o embarque não fosse numa estação ou fosse em cima da hora. O cobrador tinha um livrinho próprio, onde escrevia a origem e destino, bem como o valor, entregando parte ao passageiro, ficando o “canhoto” com ele. Mas antes de entregar era validado com um alicate destes, “obliterado” no seu termo correcto. Durante o trajecto, muitas folhas de papel furei eu com um, tentando fazer desenhos nela com o picotado obtido.
Sim porque levava um caderno para escrever e um bloco de papel de carta. Para os que não sabem, os blocos de papel de carta tinham um formato próprio, para que as folhas pudessem ser correctamente dobradas no sobrescrito. E mais finas, para que se pudessem escrever longas missivas e as cartas pouco pesassem. Eu tinha por dever enviar uma por semana para casa, que as férias duravam um mês ou mais. Tal como recebia uma por semana, em regra junto um ou dois livros para ler.

Quando vejo os pais hoje sobre protegerem os filhos, não lhes permitindo o subir a árvores, com mensagens regulares sobre localização e etc., alertando-os para um montão de perigos mas não lhes dando as ferramentas para os evitarem…
Lembro-me das aventuras de férias, saudáveis, incólumes e que me deram auto-suficiência para o resto da vida. A mim e a tantos outros.



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sábado, 15 de setembro de 2018

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Cristas terá confessado que já terá tomado banho em pelota com estranhos.
Felizmente o Google não tem imagens sobre o assunto.
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sexta-feira, 14 de setembro de 2018

Prazos de validade




De acordo com o que li por aí, parece que foi encontrada a fábrica de cerveja mais antiga de que se tem conhecimento.
Foi ali para os lados do médio oriente, numa região que se diz ter sido povoada pelos “natufianos” e datará de há cerca de 12000 anos. Dizem ainda que será mais antigo que o fabrico de pão.
Talvez que por isso o prazo de validade da cerveja seja muito maior que o de qualquer papo seco ou casqueiro.



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quinta-feira, 13 de setembro de 2018

O fotógrafo e a fotografia




Tive que fazer uma pesquisa no arquivo do Old Fasion. No meio de três mil e tal ficheiros, tive que encontrar um em particular. Não foi fácil. De todo.
Mas aproveitei a empreitada para rever o conjunto das imagens, ainda que não muito em detalhe a maioria. E para fazer arquivos de segurança redundantes, coisa que não estava bem feita.
No meio delas, encontrei esta fotografia.
É ela especial porque é o fotógrafo fotografado. E recordo as circunstâncias: quem premiu o cabo disparador que a originou foi uma pequenota que muito insistiu para também fazer uma fotografia como eu fazia.
Mas se esta é peculiar, encontrei quase uma dúzia de fotografias de uma mesma pessoa. Uma senhora, com sérios problemas materiais e outros, que volta e meia passava por ali e pedia-me que a fotografasse. Sempre sozinha e sem motivo extra que o querer ser fotografada.
Nunca soube se ela guardava as fotografias. Pelo olhar que lhes deitava, gostava de se ver, mas não seria coisa que cobiçasse.
Ao fim de algumas, talvez quatro, apercebi-me do que se passava:
Aquela mulher, que vivia sozinha e com parcos recursos, sem falar muito com outras pessoas ali pelo jardim da Estrela, que eu me apercebesse, o que queria mesmo era que alguém lhe prestasse atenção, que durante algum tempo, mesmo apenas aqueles quinze minutos de conversa, pose e impressão, alguém fizesse dela o centro do mundo.
E foi. Todas aquelas vezes.
Que quando uma fotografia acontece, todo o universo se comprime naquele espaço/tempo, transformando tudo o resto em coisa alguma. De um lado e do outro da objectiva.
Guardo esta senhora num lugar especial da minha memória, que não a fotográfica. Que ela, mais que quase todos os demais que fotografei, me fez talvez aprender que o fotógrafo tem um papel na sociedade que vai muito para além da imagem que regista e exibe. E que o acto fotográfico é bem mais importante que as qualidades estéticas ou técnicas que possam ser usadas.



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Impostos?




Alguém vai ter que me explicar isto:
É obrigatório que as crianças e jovens frequentem a escola até uma idade definida ou ano de escolaridade. Faz algum sentido, se pensarmos na sua preparação para a vida adulta e activa na sociedade.
Então porque raio é que, sendo obrigatório, terão eles (ou os pais) que comprar manuais, cadernos, canetas, etc.?
Tenho para mim que, sendo obrigatório e imposto pelo estado (leia-se sociedade), fará sentido ser essa mesma sociedade (ou estado) a suportar aquilo que impõe aos cidadãos.
Quando não, de obrigatório e vantajoso para cada um e para todos (ter cidadãos preparados é vantagem para todos) passa à condição de imposto.
Por outras palavras: a obrigatoriedade de frequentar a escola é vantagem económica para alguns, fabricantes e vendedores de manuais e consumíveis, disponibilizados no contexto da liberdade de mercado e do preço livre.
Não me parece justo incentivar os casais a procriarem, imporem-lhes o mandarem os filhos à escola e de seguida obrigarem esses mesmos casais a despesas cíclicas e avultadas para benefício de editoras privadas.
De algum modo esta questão assemelha-se à do cartão de identificação nacional. É obrigatório possuir um, é obrigatório estar actualizado e dentro do prazo de validade, mas haverá que pagar por ele. Não se trata, assim, de uma taxa de serviço mas de um imposto, que haverá que pagar ou ser-se objecto de punição.



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quarta-feira, 12 de setembro de 2018

Argolas




Aquele fulano foi de férias para uma pequena aldeia de interior, em busca do bucólico campestre.
Num passeio por um caminho de terra batida, vê um petiz, com uns dez anitos, trazendo por uma corda uma enorme vaca, de cornos de mais de um metro, presa por uma singela argola no nariz.
Assustado com a discrepância de tamanho e força ali patente, inquire o turista:
“Onde vais, dessa forma?”
“Vou levar a vaca ao toiro para termos bezerrinhos.”
“Então… Não devia ser o teu pai a fazer isso?”
Não, tem mesmo que ser o toiro.”

Confesso que me recordo desta anedota cada vez que vejo alguém com uma argola/piercing, enfiada no nariz.
E quase tenho vontade de lhe pendurar um cordel, na falta de uma corda.



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terça-feira, 11 de setembro de 2018

Mentira fotográfica




Estas duas fotografias foram feitas há doze anos, mais ou menos uns dias. Mediou entre ambas um hora ou quase. E aconteceram no âmbito do meu projecto Old-Fashion, no Jardim da Estrela.
As fotografias que fazia eram entregues gratuitamente, o que fazia desconfiar alguns e aproveitar outros. Foi o caso.
Estes três, romenos e sabendo muito pouco de português, bem souberam o significado da palavra grátis e quiseram ser fotografados. A Fotografia da esquerda.
Feita e entregue, terá agradado, pelo que quiseram fazer outra para enviar para a terra natal. E também a queriam grátis.
Acontece que o meu projecto não era subsidiado, pelo que o orçamento era reduzido e rigoroso. E eu só fazia uma grátis, evitando entregar mais. Se instassem muito, dizia que custava cinco euros, ainda assim bem barato.
Bem que insistiram que queriam grátis, que deus me ajudaria, que seria um favor… Mantive-me firme afastaram-se.
Regressaram passado uma hora ou quase e quiseram fazer de mim tolo, dizendo-me que sendo a primeira, seria grátis.
Dei pela marosca mas achei-lhes graça. E fiz a segunda. A da direita.
No final, e enquanto conversava com um dos mais novos, ou outro rapaz veio ter comigo e entregou-me uma mão-cheia (literalmente) de pequenas moedas. Um, dois, cinco, dez cêntimos. E afirmou ser o que tinham e que seria para pagar esta segunda fotografia.
Quando se afastaram contei o pecúlio: dois euros e troca o passo.
Era o que lhes sobrava depois de terem ido às compras.
Nuca fui tão abundante e generosamente bem pago como daquela vez.

Repare-se ainda na diferença de pose entre a primeira e a segunda (para enviar aos parentes na Roménia), em que o saco de compras está em evidência: companheirismo numa (sei que não eram familiares entre si) e vitoriosos na outra. Pese embora a penúria em que viviam.

A fotografia também mente, apesar do rigor da luz e da objectividade do fotógrafo.


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São espertos, os tipos



Acabo de acompanhar três horas e meia de informação. Não tive alternativa, que querem.
Pois sobre o panorama internacional nada mais foi relevante para ser noticiado que o relativo a futebol.
Nem sobre os EUA, nem sobre o Brasil, nem sobre as Suécia, nem sobre Itália, nem sobre França, nem sobre Espanha, nem sobre a Venezuela, nem sobre refugiados, nem sobre o médio oriente... Nadica de nada!
Faz sentido!
Desta forma nunca poderão ser acusados de tendenciosos ou manipuladores, falando de uns e omitindo outros, nem de "ajustarem" conteúdos aos interesses vigentes.

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segunda-feira, 10 de setembro de 2018

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Devia ser proibido ter que acordar de madrugada para ir trabalhar!
Ainda se fosse para fotografar, amar ou ver as estrelas, ainda se pode dizer que é para fazer algo de que se gosta e nos enche a alma.
Agora trabalhar?!
Devia ser proibido!
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domingo, 9 de setembro de 2018




A frase encheu-me o ouvido: “É preciso não contar com o ovo no dito cujo da galinha”!
Os ovos sempre foram tema para várias chalaças, incluindo a “omelete” versus “ovolete”. E muito mais há sobre ovos para além desta, desde a galinha dos ovos de oiro, passando pelas galinhas agradecerem por os ovos não serem cúbicos e acabando no ovo de Colombo.
Pena é o politicamente correcto “dito cujo”.
Parece, caramba, que dizer cú é feio, porco, algo para ser escondido pudicamente como se não fosse coisa que todos temos. Incluindo as galinhas, por onde passam os tais ovos.
Deixemo-nos de tretas: ovo é ovo, galinha é galinha e cú é cú!
A menos, claro, que se queira usar o termo absolutamente correcto, cientificamente exacto: cloaca.



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