quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Eu, agnóstico, me confesso



Durante anos, dezenas de anos, a eucaristia dominical foi transmitida a partir de estúdios, na RTP.
E eu, enquanto operador de câmara, perdi a conta a quantas transmiti, mas serão, p’la certa, várias centenas. Domingos comuns e outros.
E durante anos, até hoje, sempre disse que essas transmissões eram das que mais prazer me davam fazer. 
Claro que esta minha afirmação sempre deixou muita boa gente a olhar para mim com cara de espanto. Como é que eu, agnóstico convicto e crítico do papel da igreja na sociedade, podia afirmar ter prazer neste trabalho?
Por dois motivos, bem distintos mas igualmente importantes.
Por um lado, e quando as missas eram transmitidas a partir de estúdio e não a partir de igrejas, permitia uma abordagem estética que muito me satisfazia enquanto operador de câmara. Os movimentos de câmara no seu pedestal eram possíveis, que o chão o permitia, bem como a ausência de obstáculos como bancos, colunas e confessionários que encontramos em qualquer igreja. Enquanto profissional da imagem, podia levar ao limite as minhas capacidades e perícia de operação. E esse desafio dá prazer.
Por outro, sempre afirmei que a transmissão da missa é um programa televisivo da maior importância que qualquer estação de TV pode ter. 
Não no sentido de divulgar uma fé em que não creio. 
Antes porque o público, aquele que está a ver a eucaristia pelo ecrã, está a fazê-lo por vontade e decisão própria. Para satisfazer uma necessidade que entende por real. Faz do televisor que tem à sua frente o substituto possível para a sua impossibilidade de assistir ao vivo à missa. Ou porque está acamado, ou porque está preso, ou porque está distante de uma igreja, ou porque a igreja da sua zona já não celebra… 
Quem assiste à missa pela TV fá-lo por decisão assumida e não como um programa de entre a panóplia de programas existentes (desporto, informação, recreio, cultura…) 
Dando razão a uma qualquer cabecinha pensadora que terá afirmado que “serviço público de televisão” eram as missas, respondo-lhe daqui que não é só mas muito mais, mas que tenho muito orgulho em todas as que transmiti.
Com elas, e com tudo o mais, vamos continuando a fazer o tal “Serviço Púbico de Televisão”. Com orgulho, satisfação e contra ventos e marés.

By me

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