Adoro ler notícias, não importa onde, que me suscitem
dúvidas.
Ou dúvidas que entrem em confronto com o que julgo saber ou
dúvidas porque confrontado com assuntos sobre os quais nada sei.
No caso específico, as dúvidas surgiram com uma notícia que
falava sobre a orientação de sepulturas antigas e como elas ajudaram a definir
qual a religião e datas dos envolvidos.
E fiquei a saber que as sepulturas medievais cristãs tinham
em comum o estarem com os pés virados para sudeste, com o objectivo de o corpo,
num momento de ressurreição, ficar de frente para Jerusalém, a terra sagrada
dos cristãos. Sabia eu que havia uma tradição equivalente mas nas sepulturas
dentro das igrejas, em que os corpos ficavam orientados para que, em
regressando à vida, ficassem de frente para o altar. Não o sabia em relação à
Terra Santa.
E fiquei a saber que as sepulturas islâmicas se orientavam
de modo rigorosamente oposto – com a cabeça virada para sudeste – com o fito
de, em regressando do mundo dos mortos, a primeira coisa que vissem fosse Meca,
a cidade santa para os islâmicos.
Isto no que toca a sepulturas na Península Ibérica, que
noutros locais seriam outras orientações mas com os mesmos motivos.
Como complemento, fiquei a saber que a existência de
pequenas capelas nos cemitérios cristãos é coisa relativamente recente.
Ter-se-á prendido com a interdição das igrejas como local de sepulcro, em Portugal
e em meados do séc. XIX, e por motivos de higiene. Mas haveria a necessidade,
em função da crença religiosa, de os corpos estarem perto dos santos ou de um
altar aquando da ressurreição. Daí o construírem-se capelas, com ou sem santos,
dentro dos cemitérios.
É isto importante para a minha felicidade? Factualmente não!
Mas o ter esclarecido um campo do saber, mesmo que muito
pela rama, e que ignorava quase por completo, não apenas satisfez a minha
curiosidade perante o desconhecido como me ajuda a entender melhor a sociedade
em que vivo. E perceber certas necessidades que muitos têm, mesmo que não
saibam o porquê de as ter.
Para quem gosta de retratar o mundo em que vive, entendê-lo
é vital.
Sem comentários:
Enviar um comentário