Hoje comemora-se o dia mundial da Fotografia.
Rezam as crónicas que terá sido nesta data, mas em 1839 que
o governo de França terá anunciado o Daguerreótipo – o processo de registo da
luz permanente, inventado por Daguerre – como um presente ao mundo, tornando gratuito
os direitos de patente.
Em boa verdade, as experiências no processo já duravam havia
algum tempo. E, em paralelo, havia um outro a pesquisar no mesmo campo, Foz
Talbot, que reclamou a invenção. Sem sucesso e a paternidade da fotografia foi atribuída
a Daguerre.
Disputas à parte, a verdade é que a fotografia veio mudar o mundo
como o conhecemos.
Mostra-nos todo aquele mundo onde não fomos, porque distante
ou ao virar da esquina. Mostra-nos a ciência como não a conhecemos, porque
muito grande, muito pequena, ou mesmo de todo ignorada. Mostra-nos as gentes e
os locais, perpetuando momentos que queremos guardar porque belos ou horrendos.
Serve de documento sobre o passado e para o futuro, sobre o que somos ou fomos.
Usando de duas frases feitas, um fabricante publicitou os
seus produtos fotográficos com “Para mais tarde recordar” e um mestre em
fotografia afirmou que “A fotografia é a taxidermia do tempo”.
Serve também a fotografia como forma de expressão. Mais que
apenas registar na matéria a luz, permite com isso materializar pensamentos e
sensações. Fotografa-se uma pedra porque nos recorda o castelo, ou uma flor
porque nos lembra o amor, ou uma paisagem porque é o que no momento nos apetece
fazer perante a tranquilidade que sentimos, ou um rosto para traduzir os
afectos perante todos os rostos.
Claro que o acto de fotografar também um acto de cobiça.
Fotografa-se um pôr-do-sol ou um automóvel ou um ser humano porque deles
gostamos e não os podemos possuir, ficando com o seu ícone em papel ou impulsos
eléctricos.
Nos tempos que correm, a fotografia também é uma forma de
afirmação social. Fazem-se e exibem-se fotografias para mostrar o quão
eficiente se é no domínio das técnicas e dos equipamentos. E estes também se
exibem para com eles demonstrar a qualidade do que se faz. São demasiados os
que usam a fotografia para se afirmarem tão bons ou melhores que os outros.
Usa-se a fotografia como forma de competição, agora que ela está ao alcance de
qualquer um.
Não sou fotógrafo. Tenho a mania que sou, mas a pobreza do
que faço bem demonstra o contrário.
Uso a fotografia, mais que à procura do instante decisivo ou
que como documento perante terceiros, como forma de exprimir o que me vai na
alma, impulsionado por aquilo que vejo e aquilo que sinto perante o que vejo.
Mais que ícones do que vejo, as minhas fotografias são ícones do que sinto. Tento,
em vão, materializar com elas aquilo que também não consigo demonstrar por
palavras, ditas ou escritas.
Uso o tempo de exposição e a luz e a perspectiva para
registar o tempo que é ou que foi, interpretado por mim, tentando contar
histórias e estórias. Umas vezes mostrando a realidade, outras mostrando a realidade
que sinto. Umas vezes mostrando o que é, outras mostrando o que foi, outras
ainda os fantasmas que, entre o que é e o que foi, entrevejo na minha mente
através da minha objectiva.
Hoje é dia mundial da Fotografia.
Sugiro-vos que, entre o instante decisivo e o para mais
tarde recordar, a pratiquem. Como a sentem e não como forma de competição.
By me
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