Vivemos
num mundo de imagens. Algumas bem claras e inequívocas, como a fotografia, o
cinema e o vídeo. Outras, meros códigos ou convenções, como os sinais de
trânsito ou os ícones informáticos. Outras ainda de interpretação nem sempre
imediata, como é o caso dos logótipos comerciais.
De uma
forma ou de outra, este produzir e consumir imagem tem por objectivo a
simplificação da comunicação. Dentro da linha de “uma imagem vale mil
palavras!”
E a
evolução e a complexidade da tecnologia também assim o impele e obriga. Quem se
recorda, no caso dos computadores, das linhas de comando complexas, com
palavras, letras e sintaxe rigorosas? Hoje o consumidor banal desconhece-as,
usando tão só imagens e códigos visuais coloridos. Tal como noutras máquinas,
os painéis de controlo são essencialmente compostos de símbolos e ícones, no
lugar de palavras ou letras. Gradual mas firmemente, a imagem vai substituindo
a palavra escrita.
E se isto
sucede nos comunicadores formais de grande volume (industriais, media,
audiovisual), sucede também com os comunicadores de pequeno porte mas a quem se
destinam os primeiros: os consumidores individuais.
A
tecnologia da imagem (fotografia, vídeo, infografismo) está ao alcance de quase
qualquer um nas sociedades ocidentais, sendo que a sua posse e uso se torna
quase que um símbolo de posição social, tal como o automóvel ou a marca de
roupa que se veste.
A própria
comunicação escrita convencional – a palavra – está a sofrer mutações. A
técnica vai permitindo substituir as palavras e letras por símbolos gráficos –
ícones de emoção, animados ou estáticos. Ou, mais simples ainda e menos
tecnológico, a quantidade de letras usada na escrita vai diminuindo, com
siglas, contracções e aglutinações.
De uma
forma ou outra, a sociedade tecnológica e de consumo em que vivemos nos
chamados “países desenvolvidos ou em vias de desenvolvimento”, a palavra
escrita vai definhando em favor da imagem ou do grafismo visual.
Indo ainda
mais longe e fazendo futurologia radical, estou em crer que dentro de algumas
gerações (quatro, cinco, seis?) a escrita como a conhecemos hoje será um
atavismo, usada apenas por lentes e estudiosos. Talvez também em documentos
formais ou oficiais.
Esta
hipotética evolução que antevejo não é nem boa nem má: é evolução. Mudanças nos
hábitos e culturas, levadas a cabo pela tecnologia e globalização, tal como os
copistas monásticos e o iluministas o foram com o advento da imprensa.
Mas, no
meio de tudo isto, nesta sociedade em mutação baseada na imagem e comunicação,
falha um aspecto vital: a preparação dos cidadãos.
A formação
académica de base, de crianças e jovens, baseia-se nas letras e palavras que
ainda são a base actual da comunicação.
Mas não os
prepara para saberem produzir ou consumir imagens. Prepara-os para saberem
interpretar um texto escrito (por um romancista, jornalista ou um formulário)
mas não para saberem ler uma fotografia, interpretarem um filme ou vídeo,
descodificarem publicidade. E se não o souberem ler, interpretar, descodificar,
serão estes agora jovens, futuros adultos analfabetos. E serão alvos fáceis
para os que, em sabendo-o, usem desse conhecimento em favor dos seus interesses
económicos, políticos, ideológicos de qualquer género.
A cultura
dos códigos iconográficos e da imagem está já aí! Sem que a maioria de nós de
tal se aperceba. E um povo ignorante, inculto, desatento, é o sonho de qualquer
governante, magnata ou líder religioso: dócil e obediente!
By me
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