Nem todos os dias, em
saindo da cama de manhã, tenho inspiração para uma primeira publicação.
Nessas ocasiões, busco-a
em textos ou fotografias antigas, já usadas ou nem tanto.
É este o caso e tem sete
anos.
Talvez por ser onde foi:
Coimbra;
Talvez porque o raiar do
dia prometia-o bonito e ameno e cumpriu;
Talvez porque a minha
própria predisposição me tornasse mais alerta;
Talvez por ser Lua Cheia,
ainda que quase ninguém o soubesse em pleno dia…
Certo é que não me
recordo de ter visto num dia de Inverno, ainda que apetitoso, tanta gente
enamorada em público.
Ele era no comboio, ele
era nas ruas, ele era nos cafés, ele era nos jardins, ele era… Por todo o lado
se podiam ver pares de todas as idades, de braço dado, p’la cintura ou no
ombro, de mão dada a passear, em ternurentos beijos, mais ou menos
repenicados,… Bonito de ver e capaz de fazer sorrir a alma mais empedernida!
Mas a cereja no topo do
bolo aconteceu aí pelas quatro e tal da tarde.
Saía eu de um bar, de ter
ido ver uma exposição de fotografia (aliás, o motivo da viagem: várias
exposições) e parei na esplanada a olhar para uma janela partida. E oiço, mesmo
ao meu lado, uma voz feminina a dizer:
“Oh amor, então tu não
sabes pregar botões?”
Surpreso e com a
discrição possível, olhei de revés:
Um casal, aí na casa dos
18/20 anos, sentados com imperiais em frente. Terá ele respondido qualquer
coisa, que não percebi, mas cujo semblante denunciava algum embaraço, e ela
respondeu, no mesmo tom:
“Mas tu, aqui nas calças,
também te falta alguns. Deixa ver: um, dois… e atrás, também? Mas é tão fácil:
a linha na agulha, num buraquinho, depois no outro…”
Uma outra resposta dele,
igualmente em tom sumido, e ela terminou:
“Anda lá! Vamos a tua
casa buscar isso e tratamos do assunto na minha. Vais ver que é rápido, amor.”
E, de mão dada, desceram
a rampa que, muito apropriadamente, dá o nome ao bar: “Quebra Costas”.
E fiquei eu ali, a vê-los
afastarem-se, deixando na mesa as imperiais meio bebidas e a aquecerem, como,
eu, ao sol. E, entre elas, este botão.
Ainda estive para os
chamar e entregar-lho. Mas depois…
Certamente que
encontrarão botões para pôr ou tirar nas respectivas casas, na casa de um ou de
outro. E não precisariam de um intruso p’lo caminho.
Fica o botão no meu bolso
para que, em voltando a Coimbra e em os encontrando, lhes faça dele oferta.
By me
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