Em torno de tudo se pode
contar uma estória. Basta olhar para o que quer que seja e dar asas à
imaginação.
Sobre esta metade de
laranja posso imaginar como as flores que lhe deram origem escaparam a um
casamento e foram objecto de uma salutar orgia de insectos que as polinizaram.
Posso ainda imaginar mãos a colhe-las e depositá-las em caixotes, que seriam
levados para calibre e posterior venda. E ainda posso imaginar estar ela, junto
com irmãs e primas num escaparate de um mercado ou lugar de hortaliça e a ser
apalpada, metida num saco, pesada e trocada por dinheiro. Até chegar aqui e ser
violentamente seccionada e esburacada.
Só parte desta estória é
passível de ser verdade. A partir do momento em foi colhida não foi enviada
para escolha e venda, mas sim amavelmente trocada por um pouco do sei sobre
fazer esta e outras fotografias.
E o estar aqui desta
forma impede-a de ser comida. Foi cortada e colocada neste pires, tal como a
sua outra metade, e cravada com estes cravinhos de cabeça, com o único fito de
aromatizar a casa. Que a combinação do aroma da laranja com o dos cravinhos é
fresco e agradável. E não provem de uma lata nem consome energia eléctrica.
Quanto ao porquê de usar
a luz assim: Bem, por um lado é a primeira fonte de luz que concebo – o chamado
contra-luz. As demais que coloco são apenas para a controlar e às sombras que
ela provoca.
Em seguida, porque
permite delinear razoavelmente bem alguns volumes e texturas.
Depois porque eu mesmo
sou “do contra” e usar a luz ao contrário do habitual é algo que me agrada.
Por fim, porque cria uma
certa dose de mistério, se pouco atenuada, o que se adequa ao deixar a
imaginação voar.
Manias!
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