Leio que alguns semáforos em Lisboa vão passar a dar
passagem aos autocarros que estejam atrasados no seu percurso. Uma alteração no
sistema automático de regulação de trânsito com a colaboração da Carris.
A ideia é boa. Permitir uma maior mobilidade aos transportes
públicos, reduzindo perdas de tempo e obstruções de via.
Eu iria mais longe, aumentando a eficácia das autoridades municipais
na remoção de viaturas estacionadas que impeçam ou dificultem seriamente a
circulação dos transportes públicos. Sem apelo nem agravo.
Mas não basta!
Há que devolver a cidade aos cidadãos. Todos! E não apenas
aos que conduzem veículos ou os que se deslocam em transportes públicos.
Os peões têm sido lembrados nas zonas de lazer mas continuam
a ser menosprezados no tocante à partilha do espaço público com os veículos.
Um bom exemplo é o tempo dado nos semáforos para travessia
das faixas de rodagem. São demasiados os locais onde não é possível atravessar
a rua de uma só vez respeitando os sinais verde e vermelho. E é ver cidadãos,
de maior ou menor idade, parados entre faixas, à espera do respectivo verde.
Ou, em alternativa, a desrespeitarem os semáforos, arriscando a vida e a
segurança dos demais. Porque o tempo dado para atravessar é absurdamente curto.
Um outro bom exemplo é a forma como os espaços dos peões são
ocupados. Passadeiras semaforizadas ou não, passeios, locais de paragem para
embarque nos transportes públicos… As autoridades policiais fazem vista grossa
sobre a matéria e, mesmo quando alertadas no local sobre situações mais que
evidentes, encontram forma de não intervirem.
Um destes dias, no centro da cidade e onde os peões abundam,
um reboque ocupava por inteiro uma passadeira semaforizada. Tinha acabado de
carregar uma moto e ambos, o da moto e o do reboque, estavam de conversa.
Não gostei, senti-me incomodado, e abordei um agente da
polícia municipal que ali estava a fazer nem sei o quê. Pedi-lhe que
interviesse, fazendo o reboque recuar para dar espaço à travessia em segurança.
Disse-me que tinha sido ele a autorizar aquela manobra, que seria
por pouco tempo. Esse “pouco tempo” acabou por se traduzir em quase vinte
minutos. Vinte minutos em que algumas dezenas de peões se viram na contingência
de atravessar sem segurança. E havia espaço para, recuando, tudo se processar dentro
da lei e do bom senso.
São estes pequenos episódios, tanto por parte dos decisores
como dos executantes, que fazem com que a vida dos peões por cá seja uma
aventura cheia de adrenalina e paciência, na disputa do espaço público aos
automóveis.
Aumentem a eficácia dos transportes colectivos. Mas dêem aos
cidadãos o espaço e tempo necessário para usufruírem da cidade. Aquela onde
vivem.
By me
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