sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

Peões e viaturas



Leio que alguns semáforos em Lisboa vão passar a dar passagem aos autocarros que estejam atrasados no seu percurso. Uma alteração no sistema automático de regulação de trânsito com a colaboração da Carris.

A ideia é boa. Permitir uma maior mobilidade aos transportes públicos, reduzindo perdas de tempo e obstruções de via.
Eu iria mais longe, aumentando a eficácia das autoridades municipais na remoção de viaturas estacionadas que impeçam ou dificultem seriamente a circulação dos transportes públicos. Sem apelo nem agravo.
Mas não basta!
Há que devolver a cidade aos cidadãos. Todos! E não apenas aos que conduzem veículos ou os que se deslocam em transportes públicos.
Os peões têm sido lembrados nas zonas de lazer mas continuam a ser menosprezados no tocante à partilha do espaço público com os veículos.
Um bom exemplo é o tempo dado nos semáforos para travessia das faixas de rodagem. São demasiados os locais onde não é possível atravessar a rua de uma só vez respeitando os sinais verde e vermelho. E é ver cidadãos, de maior ou menor idade, parados entre faixas, à espera do respectivo verde. Ou, em alternativa, a desrespeitarem os semáforos, arriscando a vida e a segurança dos demais. Porque o tempo dado para atravessar é absurdamente curto.
Um outro bom exemplo é a forma como os espaços dos peões são ocupados. Passadeiras semaforizadas ou não, passeios, locais de paragem para embarque nos transportes públicos… As autoridades policiais fazem vista grossa sobre a matéria e, mesmo quando alertadas no local sobre situações mais que evidentes, encontram forma de não intervirem.
Um destes dias, no centro da cidade e onde os peões abundam, um reboque ocupava por inteiro uma passadeira semaforizada. Tinha acabado de carregar uma moto e ambos, o da moto e o do reboque, estavam de conversa.
Não gostei, senti-me incomodado, e abordei um agente da polícia municipal que ali estava a fazer nem sei o quê. Pedi-lhe que interviesse, fazendo o reboque recuar para dar espaço à travessia em segurança.
Disse-me que tinha sido ele a autorizar aquela manobra, que seria por pouco tempo. Esse “pouco tempo” acabou por se traduzir em quase vinte minutos. Vinte minutos em que algumas dezenas de peões se viram na contingência de atravessar sem segurança. E havia espaço para, recuando, tudo se processar dentro da lei e do bom senso.
São estes pequenos episódios, tanto por parte dos decisores como dos executantes, que fazem com que a vida dos peões por cá seja uma aventura cheia de adrenalina e paciência, na disputa do espaço público aos automóveis.

Aumentem a eficácia dos transportes colectivos. Mas dêem aos cidadãos o espaço e tempo necessário para usufruírem da cidade. Aquela onde vivem.

By me

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