quarta-feira, 2 de agosto de 2017

Jornaleiros



A fechar um noticiário televisivo, informam-nos que existiu um concurso de fotografia mundial, com mais de 590.000 imagens candidatas, produzidas por mais de 88.000 fotógrafos de 150 países.
Dizem-nos ainda que a vencedora será anunciada em Setembro, em Berlim.
Curiosamente, não nos contam qual o nome do concurso ou quem o promoveu, o que significa que tanto pode ser algo de enorme qualidade como um mero concurso publicitário de um qualquer produto lácteo.
Mas o que me fez “saltar a tampa” foi que decidiram mostrar-nos “algumas das melhores” de entre as cem apuradas para a fase final.
E fiquei a saber que quem fez o vídeo com elas, sonoramente ilustrado, se entendeu mais artista que os artistas a concurso, fazendo reenquadramentos às fotografias originais, definindo com isso novos centros de interesse, insuspeitas linhas de fuga, equilíbrios não imaginados pelos autores. Tudo isto bem patente nos movimentos de “zoom out” com que as imagens nos foram apresentadas.

A classe de jornaleiros de serviço entende-se acima de qualquer crítica e dona da verdade. E já não lhe basta relatar com adjectivos e juízos de valor os acontecimentos políticos e sociais: Agora também se imiscui nos valores estéticos, subvertendo-os e adaptando-os aos seus interesses e gostos pessoais.
Imagine-se que “dançavam” dentro de um Adams, ou de um Weegee, ou de um Weston ou de um Hockney, ou de um Kappa, ou de um…


Na imagem: “Joiners”, por David Hockney

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