Arrumações
dá nisto: tropeçarmos em coisas de que nem nos lembrávamos ou mesmo sabíamos
que ainda existiam.
No
meio do pó dos livros (saiba-se que é, também, o nome de uma excelsa livraria
em Lisboa) e do pó das caixas, mesmo fechadas, eis que encontro duas
preciosidades do passado: dois cartões de estudante, distando entre si um ano
apenas.
Tratam-se
dos cartões do Liceu D. Leonor, um do ano 74/75 outro do ano 75/76, altura em
que frequentei os antigos 6º e 7º anos dos liceus, já então chamados de “curso
complementar dos liceus”.
Poupo-vos
ao triste espectáculo de me verem sem bigode. Ainda o não tinha deixado crescer
na altura e, desde que veio, nunca mais saiu. Tal como vos poupo à evolução do
olhar dos 16 para os 17 anos. Não apenas a natural evolução da adolescência,
mas uma adolescência vivida naqueles anos, rica de acontecimentos e emoções
como poucas, de então para cá. E patente no olhar e no ricto ainda sorriso.
Mas
não vos poupo a este pequeno mas sintomático detalhe: o haver ou não gravata.
Se
a memória me não falha, ambas as fotografias foram feitas no mesmo fotógrafo em
Lisboa. Ainda existia há pouco, ainda que muito modernizado, com outro nome e
com o acrescento de “estúdio digital” na tabuleta. Já por lá fui perguntar e
soube que os actuais donos são os filhos do que me fotografava, e que já se
preparavam para se reformar. Dos arquivos de então, já não há memória.
Mas
o que acaba por ter graça é que no verão/outono de ‘74, altura em que a
primeira foi feita, ainda subsistia um dever de usar gravata num documento
importante. Que o retrato, feito no fotógrafo, era algo de importante! Um ano
depois, no verão de ‘75, já a gravata era coisa do passado, que se não usava
senão… nem eu sei bem quando.
Ficou-me
um semi-hábito. Tenho umas dezenas de gravatas, a esmagadora maioria com o
mesmo tema e por brincadeira. Raramente as usei, e sempre as mais discretas e
em ocasiões em que fiz questão de não destoar: num ou noutro casamento, num
funeral, por dever de ofício numa sessão solene com o papa João Paulo II e,
confesso, quando está frio. Que a gravata é para isso que serve: proteger o
pescoço.
Sobre
as fotografias de passe, do seu uso e do seu fazer, tenho uma ou duas teorias
que, em tendo eu tempo e disposição, as passarei para o papel ou ecrã, com
respectivas ilustrações.
Mas
que nos contam histórias, assim as saibamos ler, disso não haja dúvidas!
Vivam
as arrumações e os tropeções, que nos justificam uma pausa apetecida mas não
merecida.
By me
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