Foi um destes
dias.
Liguei o televisor
num desses canais temáticos e foi mesmo a tempo de apanhar o fim de um
programa. A voz masculina que se ouvia afirmava, em tom apocalíptico, que
devemos usar as tecnologias para vivermos em segurança contra o terror.
Mudei de canal
para um outro que nos mostrava uns quaisquer animais que, com a tranquilidade
secular, comiam, trepavam às árvores e cuidavam das crias.
É que tenho para
mim que esse tal terror se diverte à brava com as tais medidas de segurança da
tecnologia – vigilância, inspecção, suspeição – já que elas, as medidas, mais
que garantirem a segurança de quem nelas confia, alimentam o tal estado que o
terror deseja: medo.
A cada passo que
damos, em cada palavra que proferimos, por cada pensamento que temos, ficamos
sempre com a sensação que o terror deles se poderia aproveitar contra nós, mas
que os vigilantes, que cada vez mais tudo conseguem saber e sobre tudo
conseguem agir, nos garantem que podemos estar descansados que eles nos
protegem.
E vamos dando
graças por eles, os vigilantes, lerem a nossa correspondência, escutarem as
nossas conversas, espreitarem os nossos gestos, escrutinarem as nossas
bagagens. E os nossos medos, assim alimentados e assim tranquilizados,
mantêm-nos na dependência deles, dos vigilantes, para gáudio do tal terror.
Que já nada
precisa de fazer, que nós mesmos nos encarregamos de nos aterrorizar.
Paulatinamente
vamos cedendo na nossa privacidade, na nossa condição de indivíduos autónomos,
capazes de decidir das nossas vidas, em prol de uma sociedade castrante e
castrada, qual rebanho que deixa os cães morder as canelas, conduzindo-nos para
um redil gradeado e farpado.
Cada vez mais
tenho a certeza que os tais do terror vestem fatinhos caros, falam para as
câmaras e assinam decretos.
By me
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