quinta-feira, 17 de agosto de 2017

O roubo na esquadra



Quem me contou a estória afiançou-me como sendo verdade e tendo acontecido aqui, algures nos finais dos anos 40, princípios dos anos 50. E como quem ma contou morava nas imediações, até acredito nela.
Um dia o chefe da esquadra da zona terá dito para um seu subordinado que passasse na relojoaria ali da rua para que eles fossem buscar o relógio de parede da esquadra. Andava ele a atrasar-se (ou seria adiantar-se?).
Certo é que, mais tarde nesse mesmo dia alguém se apresentou na esquadra de polícia, dizendo que vinha buscar o dito relógio. E levou-o. Para onde ninguém sabe, que o tipo não vinha a mando do relojoeiro. Seria um larápio que estaria na loja quando o recado foi dado, a preparar talvez um trabalhinho, e ouvindo o recado aproveitou a ocasião.
Falsa ou verdadeira, a estória, serve ela para mostrar que as coisas mais audazes se fazem quando menos se espera e com a maior das naturalidades, ou tudo falha.
Mas, a ser verdadeira a estória, 50 anos depois alguém roubou este prédio mesmo ao lado da esquadra onde se teria passado o insólito acontecimento. A pressão urbanística e imobiliária, aliada à idade provecta do edifício, fez com que fosse derrubado – só ele – para criar este simulacro de rua, que nem sei se terá ao menos nome, para acesso ao bairro das Olaias, por trás.
Ficou assim, com este aspecto, como se alguém tivesse tirado uma fatia do bolo mesmo antes de o colocar na mesa.

O relógio terá ido, até porque efémero o tempo; o imóvel também, até porque já não fazem prédios como antigamente. Ficou a memória de uma estória rocambolesca que, sendo verdade, é divertida; não o sendo, ficamos todos com pena que não o seja.

By me

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