Quem me contou a
estória afiançou-me como sendo verdade e tendo acontecido aqui, algures nos
finais dos anos 40, princípios dos anos 50. E como quem ma contou morava nas
imediações, até acredito nela.
Um dia o chefe da
esquadra da zona terá dito para um seu subordinado que passasse na relojoaria
ali da rua para que eles fossem buscar o relógio de parede da esquadra. Andava
ele a atrasar-se (ou seria adiantar-se?).
Certo é que, mais
tarde nesse mesmo dia alguém se apresentou na esquadra de polícia, dizendo que
vinha buscar o dito relógio. E levou-o. Para onde ninguém sabe, que o tipo não
vinha a mando do relojoeiro. Seria um larápio que estaria na loja quando o
recado foi dado, a preparar talvez um trabalhinho, e ouvindo o recado aproveitou
a ocasião.
Falsa ou
verdadeira, a estória, serve ela para mostrar que as coisas mais audazes se
fazem quando menos se espera e com a maior das naturalidades, ou tudo falha.
Mas, a ser
verdadeira a estória, 50 anos depois alguém roubou este prédio mesmo ao lado da
esquadra onde se teria passado o insólito acontecimento. A pressão urbanística
e imobiliária, aliada à idade provecta do edifício, fez com que fosse derrubado
– só ele – para criar este simulacro de rua, que nem sei se terá ao menos nome,
para acesso ao bairro das Olaias, por trás.
Ficou assim, com
este aspecto, como se alguém tivesse tirado uma fatia do bolo mesmo antes de o colocar
na mesa.
O relógio terá
ido, até porque efémero o tempo; o imóvel também, até porque já não fazem
prédios como antigamente. Ficou a memória de uma estória rocambolesca que,
sendo verdade, é divertida; não o sendo, ficamos todos com pena que não o seja.
By me
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