Não é por ser uma
velharia com mais de trinta anos de fotografado e mais de dez de escrito que
deixa de ser verdade. Aqui fica:
O meu primeiro
trabalho profissional em fotografia foi no teatro. Ou, de outra forma, o meu
primeiro trabalho pago em fotografia.
Tratava-se de uma
companhia que já existia antes da revolução e cujas peças e trabalhos tinham
andado a fintar a censura e a polícia política. Em acabando ambos, manteve o
conceito de “Teatro de intervenção”, desta feita sem as peias censórias de
então.
Os anos que para
eles trabalhei, já em democracia entenda-se, foram para mim um manancial de
aprendizagens, que não apenas em fotografia: o género humano, o audiovisual, o
teatro, a arte, o que é ser criativo usando mensagens à sociedade e viver
disso.
Acontece que,
passados quase dez anos sobre o 25 de Abril, o público já não tinha grande
apetência para assistir a teatro em que para além da função lúdica também o
levasse a pensar. Tendência esta que se manteve e tem vindo a aumentar, diga-se
em abono da verdade.
Assim, havia dias
de representações em que havia mais gente em palco a representar que sentados
na plateia a ver fazer. Por vezes, era confrangedor estar ali, pensando que era
da receita da bilheteira, ou pouco mais, que eles viviam.
Apesar disto,
nunca se suspendeu uma representação em que houve um só que fosse espectador. E
o empenho de quem dava corpo e cara às personagens nunca esmoreceu, pese embora
haver dias de menos ânimo.
Deixei de
trabalhar para eles ao fim de três anos, levado pelo desejo de enfrentar novos
desafios fotográficos. A companhia encerrou passados bastantes anos, por morte
da directora e encenadora.
Do edifício resta
uma ruína que em breve o camartelo e as políticas urbanísticas do município
reduzirão a coisa nenhuma. Mas o que nunca se apagará ou enterrará são as
memórias de quem frequentou aquela plateia e de quem representou naquele palco.
Tal como aquilo que com eles aprendi.
E, neste momento
em particular, recordo um aspecto fundamental:
A comunicação e a
expressão criativa têm que se manter a todo o custo. E enquanto houver uma só
pessoa que queira receber o que há para contar o espectáculo continua. Mesmo
para além desse ponto!
E se esta não
fosse a centelha motivadora, ou uma delas, quantos pintores, escritores,
compositores, teriam desistido da sua actividade, por o seu trabalho não ser
reconhecido na sua época?
Hoje, temos a
herança cultural que temos!
E isso é das
coisas boas que recebemos e que podemos e devemos conservar e aumentar para os
vindouros!
By me
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