segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Bienal de fotografia de VFX



Ainda sobre a Bienal de Fotografia de Vila Franca de Xira, sobre um dos trabalhos eu digo “não”, repito “não” e insisto no “não”.
Trata-se do trabalho de Eduardo Matos e está “exposta” num hostal.
A procura não foi fácil, considerando que os hostal são discretos na sua publicidade exterior e que os nomes das ruas nesta cidade não são tão evidentes quanto um forasteiro desejaria.
Mas eu gosto de me perder nas cidades, que me leva a novas descobertas, e este foi mais um caso.
Quando paro em frente ao edifício, com a minha câmara no ombro, o boné na cabeça e a mochila pequena nas costas, a simpática mocinha que fumava um cigarro ao sol da tarde pergunta-me se procuro um hostal. Achei-lhe graça, pois senti um nico de hesitação na língua, oscilando entre o português e o inglês. Acertou logo à primeira.
Quando lhe disse que procurava, sim, mas por causa daquilo (e apontei para o dístico do evento posto na parede), ela sorriu e disse que sim, que era ali, mas que não era bem uma exposição.
Perante a minha cara de espanto ela disse-me para entrar que me dava um exemplar. E deu, deixando cá fora chaves, telemóvel e um cigarro a arder.
Tratava-se de um talvez opúsculo, oito páginas em formato A4, impresso em preto e branco, sobre formas sentidas nas artes de pesca no rio Tejo, com esquemas, desenhos e fotografias.
Não terá sido este o trabalho que mais me agradou, num evento de fotografia. Mas, caramba: nem eu tenho que gostar de todos nem os trabalhos têm que ser feitos para agradar a todos.
Portanto, está tudo bem.
O que eu não gostei mesmo, e contra isso protesto, quase que em vernáculo convencional, é que o trabalho escrito apresenta-se ao público primeiramente em inglês e só depois, se procurarmos, em português.
Não! Não! Não!
Estamos em Portugal, o autor é português, o evento é português, as imagens são sobre algo específico de Portugal, a maioria do público é portuguesa…
Apesar da globalização, do transfronteiriço das artes, da língua inglesa ter assumido o papel destinado ao Esperanto e de se tratar de uma língua viva em quase todo o planeta, temos que manter as demais culturas. E a língua é um dos traços principais na definição de cultura.
Remeter a língua local e materna para segundo plano é, para além de uma soberba a roçar o caricato, o negar aquilo que somos. Enquanto povo e enquanto indivíduos.
Não creio que este senhor que assim renega as suas origens linguísticas fosse o que é hoje se as tivesse diferente.
E insulta-me quando menoriza aquilo que eu sou. Enquanto elemento de uma cultura e enquanto cidadão.
Falta acrescentar que quando fizermos tábua rasa de todas as culturas, quando falarmos todos a mesma língua e pintarmos ou fotografarmos ou esculpirmos ou arquitectarmos todos do mesmo modo, deixaremos de ser humanos para passar a ser robots de carne e osso.

É muito pouco importante se eu gostei ou não do trabalho que apresentou.
Mas farei o possível por divulgar a ofensa sentida na forma como o apresentou!
O seu nome é Eduardo Matos.


A imagem? Uma das da sua “exposição”, roubada da net.
By me 

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