Ainda sobre a
Bienal de Fotografia de Vila Franca de Xira, sobre um dos trabalhos eu digo “não”,
repito “não” e insisto no “não”.
Trata-se do
trabalho de Eduardo Matos e está “exposta” num hostal.
A procura não foi
fácil, considerando que os hostal são discretos na sua publicidade exterior e
que os nomes das ruas nesta cidade não são tão evidentes quanto um forasteiro
desejaria.
Mas eu gosto de me
perder nas cidades, que me leva a novas descobertas, e este foi mais um caso.
Quando paro em
frente ao edifício, com a minha câmara no ombro, o boné na cabeça e a mochila
pequena nas costas, a simpática mocinha que fumava um cigarro ao sol da tarde
pergunta-me se procuro um hostal. Achei-lhe graça, pois senti um nico de hesitação
na língua, oscilando entre o português e o inglês. Acertou logo à primeira.
Quando lhe disse
que procurava, sim, mas por causa daquilo (e apontei para o dístico do evento
posto na parede), ela sorriu e disse que sim, que era ali, mas que não era bem
uma exposição.
Perante a minha
cara de espanto ela disse-me para entrar que me dava um exemplar. E deu,
deixando cá fora chaves, telemóvel e um cigarro a arder.
Tratava-se de um
talvez opúsculo, oito páginas em formato A4, impresso em preto e branco, sobre formas
sentidas nas artes de pesca no rio Tejo, com esquemas, desenhos e fotografias.
Não terá sido este
o trabalho que mais me agradou, num evento de fotografia. Mas, caramba: nem eu
tenho que gostar de todos nem os trabalhos têm que ser feitos para agradar a
todos.
Portanto, está
tudo bem.
O que eu não
gostei mesmo, e contra isso protesto, quase que em vernáculo convencional, é
que o trabalho escrito apresenta-se ao público primeiramente em inglês e só
depois, se procurarmos, em português.
Não! Não! Não!
Estamos em
Portugal, o autor é português, o evento é português, as imagens são sobre algo
específico de Portugal, a maioria do público é portuguesa…
Apesar da globalização,
do transfronteiriço das artes, da língua inglesa ter assumido o papel destinado
ao Esperanto e de se tratar de uma língua viva em quase todo o planeta, temos
que manter as demais culturas. E a língua é um dos traços principais na definição
de cultura.
Remeter a língua
local e materna para segundo plano é, para além de uma soberba a roçar o caricato,
o negar aquilo que somos. Enquanto povo e enquanto indivíduos.
Não creio que este
senhor que assim renega as suas origens linguísticas fosse o que é hoje se as
tivesse diferente.
E insulta-me
quando menoriza aquilo que eu sou. Enquanto elemento de uma cultura e enquanto
cidadão.
Falta acrescentar
que quando fizermos tábua rasa de todas as culturas, quando falarmos todos a
mesma língua e pintarmos ou fotografarmos ou esculpirmos ou arquitectarmos todos
do mesmo modo, deixaremos de ser humanos para passar a ser robots de carne e
osso.
É muito pouco
importante se eu gostei ou não do trabalho que apresentou.
Mas farei o possível
por divulgar a ofensa sentida na forma como o apresentou!
O seu nome é
Eduardo Matos.
A imagem? Uma das
da sua “exposição”, roubada da net.
By me
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