domingo, 29 de janeiro de 2017

Nada de novo



Antes que o sol se esconda de vez atrás de um horizonte apenas sabido porque tapado por nuvens baixas e molhadas, vou buscar pão.
Na sala do fundo, três homens sentados e um de pé concentram-se num ecrã onde um jogo de futebol se vai desenrolando, felizmente que em silêncio. Na mesa, junto a eles, três chávenas de café, vazias, três cálices ainda em uso e duas garrafas de mini. Vazias.
Na sala da frente, cinco mesas ocupadas.
Em três delas a actividade dominante é a consulta do telemóvel. Incluindo duas amigas balzaquianas, sentadas frente a frente.
Numa outra, um já idoso jogador debate-se com o cálculo de probabilidades das apostas mútuas da Santa Casa. A mesa está coberta de papeis e boletins, que disputam lugar com uma chávena, um cálice. Vazios. E duas canetas.
Na quinta mesa um casal que faz questão de se manter informado. Ele num jornal desportivo, ela num jornal generalista de má fama. Não há espaço na mesa para que possa lá estar loiça de qualquer género.
Cá fora os contentores de lixo transbordam. Hoje é domingo e ontem foi sábado. Mas parece que há quem não tenha agenda.
No chão entre eles o lixo que escorrega, onde se evidencia um sapato solitário. Mais um, no meio de tantos que se vão encontrando, ainda que nem todos em evidência.
Ao entrar no prédio, seguro a porta para que uma família de vizinhos entre, fugindo da chuva. Nem agradecem o gesto nem respondem à saudação, limitando-se a, sempre em silêncio, abarbatarem-se com o único elevador que está no piso zero e seguirem da direcção oposta à minha. No outro, que entretanto chegou, imperava um odor de mistura entre humidade e fumo de tabaco. No chão, duas folhas de publicidade comercial, uma delas de pequeno tamanho e oferendo os préstimos de um canalizador/pedreiro/reparador de electrodomésticos. Na minha caixa de correio estarão dois iguais, mas hoje não a abri.


Nada de novo, nesta tarde de domingo numa rua de um bairro suburbano. Classe media/baixa, baixa.

By me 

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