domingo, 18 de janeiro de 2009

Questões ardentes


Há objectos que nos proporcionam satisfação e prazer.
Satisfação pela obtenção dos resultados que o seu uso prevê: O chegar ao fim da viagem de automóvel, o escrever de um texto, o confeccionar uma refeição.
Mas o prazer advém do manuseio do utensílio em causa: a condução daquele carro, o sentir a aderência da caneta na mão e o seu suave deslizar no papel, a ergonomia do trem de cozinha e a facilidade com que se agarra ou transporta.
E estes objectos que nos dão prazer são cuidados e tratados, senão como preciosidades, pelo menos com as atenções que a sua conservação e bom estado de funcionamento implicam.
Por mim, um desses objectos é um isqueiro. Ou, se preferirem, um acendedor. De marca Zippo, passe-se a publicidade, sou um dos responsáveis da sua existência à venda em Portugal, que na época em que tal fizemos, só os conseguíamos ter se vindos dos EUA ou da base das Lajes.
Para além de cumprir com eficácia o que espero dele – acender, seja em que circunstancias for, um cigarro do meu vício – gosto de o sentir na mão, da facilidade com que funciona, do seu aspecto e tacto. Além disso, serve-me como base para bater os cigarros enquanto espero chegar o momento de o poder acender. Para já não falar no ruído característico, no cheiro inconfundível, variável de marca de gasolina para marca de gasolina. Tenho para mim que o mais agradável é a da Zippo, mas há quem divirja em gostos odoríferos.
Tenho vários, não muitos. Cada um tem a sua história própria e, para se criar a empatia com eles, há que os usar e re-usar, até que a mão saiba de cor cada fresta e reentrância, bem com a força e o jeito que ele exige. Hábitos!
Gasolina de quando em vez, pedra mais raro ainda, a torcida dura uns bons dois a três anos sem se queixar ou deixar de queimar. Mas há que ir cuidando disso.

Um destes dias acabou-se a pedra. Supunha ter uma embalagem de reserva no saco e não tinha. Acreditava ter uma outra de reserva em casa e lá estava: vazia! Havia, assim, que recorrer a um dos isqueiros de gás, descartável como muito dos tempos que correm, até encontrar onde se vendessem. E calhou ser num quiosque, ali junto da estação de caminho-de-ferro.
Foi-me dito que não havia da marca que queria, mas antes de uma outra, igualmente conceituada. Perante a minha hesitação (Zippo é Zippo, digam lá o que disserem), diz-me a vendedora, senhora dos seus trintas e tais:
“Pode levar à-vontade que são boas! É destas que o meu marido usa!”
Com isto, fiquei a saber sem ter perguntado:
a) que a senhora será casada;
b) que o marido fuma;
c) que o marido usa isqueiros recarregáveis.
E, para além disso, fiquei a saber também porque é que ele, o marido, usa isqueiro, talvez mais amiúde do que seria de esperar: É que a senhora, coitada, não era de forma alguma uma “brasa”!

Nota extra: as pedras de isqueiro que a senhora me recomendou funcionam como se espera que façam. Mas assim que encontrar da minha marca preferida, compro-as. Com outra marca, sinto-o como que meio corrompido. Manias minhas!


Texto e imagem: by me

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