Teria uns trinta anos, bem medidos. A sua cor de pele e a modéstia da suas roupas em nada destoavam na estação de comboios daquele bairro periférico, construído naquela zona de ninguém que é a fronteira entre dois municípios.
Quando a composição parou, neste primeiro de Janeiro, aproximou-se da porta e premiu o botão para a abrir. Mas não entrou.
Em vez disso, deixou-se ficar no cais, olhando com intensidade para um lado e para o outro. Sem dúvida que estava a tentar descortinar em que porta estaria o revisor, para saber se poderia entrar por aqui ou teria que correr um pouco, não muito, para a porta seguinte. E esta outra, sendo que ficava na segunda das duas unidades quádruplas, não estava acessível por dentro, pelo que o revisor não se lhe chegaria.
Entretanto, de outras portas, passageiros foram saindo, de todas as idade e aspectos, mas sempre dentro da mesma tónica modesta.
Um destes, aí já de uns cinquenta contados, ao passar por ele a caminho da saída, estendeu-lhe a mão e passou-lhe algo. Quase nada se falaram e, pelas expressões, suspeito que não eram íntimos. Que ele agarrou e, acto continuo, entrou. A porta fechou-se, o apito fez-se ouvir e retomámos a marcha.
Aquilo que ele recebeu, vi-o depois na sua mão, era um bilhete de comboio. Suponho que ainda não validado pelo “pica” e com viagem paga até duas estações depois, o fim daquela zona de tarifa.
Esta é, sem sombra de dúvida, uma boa forma de se começar o ano, supondo que ele começa em algum dia: usar de solidariedade para com quem tem os mesmos tipos de dificuldades, partilhando o pouco que se tem. Mesmo que seja para fugir à tirania das tarifas, dos revisores e das multas!
Nem tudo está perdido no género humano!
Texto e imagem: by me
Quando a composição parou, neste primeiro de Janeiro, aproximou-se da porta e premiu o botão para a abrir. Mas não entrou.
Em vez disso, deixou-se ficar no cais, olhando com intensidade para um lado e para o outro. Sem dúvida que estava a tentar descortinar em que porta estaria o revisor, para saber se poderia entrar por aqui ou teria que correr um pouco, não muito, para a porta seguinte. E esta outra, sendo que ficava na segunda das duas unidades quádruplas, não estava acessível por dentro, pelo que o revisor não se lhe chegaria.
Entretanto, de outras portas, passageiros foram saindo, de todas as idade e aspectos, mas sempre dentro da mesma tónica modesta.
Um destes, aí já de uns cinquenta contados, ao passar por ele a caminho da saída, estendeu-lhe a mão e passou-lhe algo. Quase nada se falaram e, pelas expressões, suspeito que não eram íntimos. Que ele agarrou e, acto continuo, entrou. A porta fechou-se, o apito fez-se ouvir e retomámos a marcha.
Aquilo que ele recebeu, vi-o depois na sua mão, era um bilhete de comboio. Suponho que ainda não validado pelo “pica” e com viagem paga até duas estações depois, o fim daquela zona de tarifa.
Esta é, sem sombra de dúvida, uma boa forma de se começar o ano, supondo que ele começa em algum dia: usar de solidariedade para com quem tem os mesmos tipos de dificuldades, partilhando o pouco que se tem. Mesmo que seja para fugir à tirania das tarifas, dos revisores e das multas!
Nem tudo está perdido no género humano!
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