Estava calor e eu aguardava a chegada da composição que me
levaria a casa.
Mas ainda antes de embarcar já eu estava a viajar para longe
no espaço e no tempo. Levado por aquele aroma ténue mas inconfundível.
Para uma estação ferroviária algures no Algarve, nos finais
da adolescência.
O calor intenso desse tempo e local faziam subir no ar uma
mistura aromática de ferro, óleo, combustível, ervas, madeira, um pouco de
maresia e mais qualquer outra coisa que nunca identifiquei.
E eu, sentado no chão e encostado à mochila como tantos
outros ali e então, mais não tinha que fazer que esperar ser levado à cidade
seguinte, à praia seguinte, ao apeadeiro seguinte, sem pressas que os horários
da automotoras se cumpriam ou não e o futuro seria quando fosse.
Nos dias de hoje as chulipas são de cimento, os comboios são
elétricos e já não tenho pernas para me sentar no chão.
Mas de quando em vez, quando o calor aperta e aqueles 20
minutos de espera parecem eternos no bulício suburbano, lá sinto aquele subtil aroma
de antanho, ao qual só falta o toque de maresia.
E se não posso recuar meio século, posso pelo menos fazer uma
representação iconográfica, mesmo que sem cheiro.
Pentax K100D, Sigma 70-300
By me


Sem comentários:
Enviar um comentário