sexta-feira, 22 de agosto de 2025

Calor na linha




Estava calor e eu aguardava a chegada da composição que me levaria a casa.

Mas ainda antes de embarcar já eu estava a viajar para longe no espaço e no tempo. Levado por aquele aroma ténue mas inconfundível.

Para uma estação ferroviária algures no Algarve, nos finais da adolescência.

O calor intenso desse tempo e local faziam subir no ar uma mistura aromática de ferro, óleo, combustível, ervas, madeira, um pouco de maresia e mais qualquer outra coisa que nunca identifiquei.

E eu, sentado no chão e encostado à mochila como tantos outros ali e então, mais não tinha que fazer que esperar ser levado à cidade seguinte, à praia seguinte, ao apeadeiro seguinte, sem pressas que os horários da automotoras se cumpriam ou não e o futuro seria quando fosse.

Nos dias de hoje as chulipas são de cimento, os comboios são elétricos e já não tenho pernas para me sentar no chão.

Mas de quando em vez, quando o calor aperta e aqueles 20 minutos de espera parecem eternos no bulício suburbano, lá sinto aquele subtil aroma de antanho, ao qual só falta o toque de maresia.

E se não posso recuar meio século, posso pelo menos fazer uma representação iconográfica, mesmo que sem cheiro.

 

Pentax K100D, Sigma 70-300


By me

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