terça-feira, 11 de julho de 2017

Chicas espertas

Vi-as chegar. Duas moçoilas, de vinte e troca o passo, vestidas para muito calor ou muito exibir. Nem importa.
Pararam junto do início da fila, que tinha umas talvez quarenta pessoas, olharam para aquela minúscula multidão, e deixaram-se ficar. Topei-as.
Quando o autocarro abriu a porta, os que estavam na fila começaram a entrar. Com a lentidão habitual. Até que, quase na minha vez, deram o golpe.
Como se nada fosse com elas, chegaram-se à frente e uma delas ainda subiu o primeiro degrau. Com muito pouca sorte, que estava ao alcance do meu braço.
Se a sua pele acobreada for de ficar com nódoas negras, terá o que mostrar nos próximos dias, que a minha mão filou-a pelo braço por alturas dos bícepes e puxei-a, com um valente “Alto! Onde pensa que vai?”, suficientemente volumoso para se ouvir dentro e fora do autocarro.
A amiga, ainda na rua, protestou com um “Estávamos distraídas, na conversa”, só para ver se pegava.
E a arredada, já no passeio, lançou em tom de insulto:
“Ele está é mal amado!”
Parei entre a porta e o obliterador, voltei-me e, por cima dos ombros de quem me seguia, retorqui:
“Mal-amado não estarei eu. Mas que você é mal-educada e arrogante, nenhum de nós tem dúvidas!”
E segui.
Não ouvi mais nada que não fosse, lá mais atrás no autocarro, a continuação do burburinho que se havia levantado com o desplante das caramelas.


By me

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