Recordo o motivo pelo qual, há mais de uma vintena de anos,
comprei um leitor de DVD’s: composição de imagem!
Um dos filmes que marcaram a minha vida, talvez pela
circunstância em que o vi pela primeira vez, foi o “West Side Story”, algures
em 1975. O enredo, a música, a coreografia, a direcção de fotografia, tudo isso
faz dele um mais que excelente filme.
Os anos foram passando, muitos, e fui montando a minha
própria videoteca, em VHS. Uns comprados, outros nem tanto. E muito antes de
haver televisão por cabo.
Uma noite foi difundido esse filme, numa estação nacional.
Não gostei! A televisão então funcionava em formato 3 por 4 e o filme era em Panavision.
Este formato, muito mais próximo daquilo de que eu gostava, era cortado pelo 3
por 4, deixando as partes laterais do enquadramento de fora. O que, sendo um “crime”,
poderia deixar a maioria do público indiferente se ignorassem certos aspectos.
Como a coreografia ter explorado cada pedacinho do formato cinematográfico e,
ocasionalmente, o televisor ficar a negro, com os personagens fora de visão.
Procurei por tudo quanto era sítio uma cópia do filme
integral e nada. Até que encontrei num exemplar em DVD. Não tinha leitor, mas
tratei de comprar um e deliciei-me com o que vi!
Vem isto a propósito de duas coisas:
Por um lado, não sei se me apetece ver a nova versão do
filme. Por muito mestre que Spilberg seja a realizar filmes, a minha memória
vai ser “conspurcada” com esta, tanto na forma de contar a história como na
forma de a mostrar visualmente. E já nem quero falar na sonoridade das vozes.
Por outro aldo, a dificuldade que tenho em que os
laboratórios de fotografia aceitem imprimir imagens que não respeitem as
proporções/padrão do papel e dos aparelhos que possuem. Eu, que gosto de
fotografias assumidamente horizontais e longe do formato das películas e
sensores, não aceito que as cortem e digo-o ao encomendar o trabalho. E, por
resposta, oiço quase sempre: “Ah, e tal, mas assim vai ficar com margens
brancas em cima e em baixo.”
Pois que fiquem com margens, que tratarei (ou não) de as
retirar. Mas não será um qualquer técnico de impressão, ou um automatismo
irracional, que irão truncar aquilo que quis de uma determinada forma, pensada
e executada para assim ser mostrada.
A menos que haja uma enorme cumplicidade entre fotógrafo e
impressor (incluindo os paginadores da imprensa), o trabalho original não pode
nem deve ser adulterado apenas porque apetece ou não respeita padrões.
E aqui incluo as impressões a duas páginas, tão comuns em
livros e revistas. A linha de união das páginas, tal como a diferença de
curvatura entre ambas, altera de sobremaneira a forma como lemos as imagens,
truncando-as, alterando-lhes a relevância dos centros de interesse, criando
novas linhas de fuga ou outras... embirro solenemente com os que assim publicam
imagens.
A adulteração de um original só deve acontecer depois de
consultado o seu criador, por muito mau que o original seja!
E é por isso também que fico de cabelos em pé quando vejo
reportagens televisivas sobre exposições (pintura, escultura, fotografia) em
que os jornalistas mostram pedaços das obras, com movimentos de câmara sobre
elas, levando o público a ter o olhar conduzido pela reportagem e não
respeitando a condução do olhar definida pelo autor da obra através das linhas
criadas, dos contrastes existentes, da perspectiva escolhida.
Voltando ao início, não creio que vá ver a nova versão do “West
Side Story”.
By me
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