E é bonito ter feito esta fotografia? Não! Nada
bonito, mesmo.
No entanto, foi uma tentação a que não resisti.
Esta janela, despudoradamente descoberta, bem como
outras duas da mesma casa, rasgadas ao alto como os tectos, mostravam o
interior de duas salas de uma mesma casa. Casa velha, talvez com um século,
abeirada de uma via estreita mas com algum movimento e à distância de uma
pedrada de um jardim frondoso e acolhedor, onde no quiosque que a esta hora
estava apinhado de gente nas mesas a ler ou conversar, o balcão exibia um
isqueiro pendurado por um cordel. Disse-me o dono que a quantidade de gente que
ali vai pedir lume é incrível, bem de acordo com o bom negócio que faz em o
tempo estando bom.
Mas antes de lá chegar fiquei parado no meio do passeio,
fumando o mewu cigarro e olhando para as janelas. Primeiro com os olhos, depois
com a objectiva.
Não estava eu preparado para fotografar sob a mais que
fraca influência das parcas e escassas luminárias públicas desta rua. Acredito
que quem aqui mora ou caminhe gostasse de ver melhor os eventuais buracos na já
bem velha calçada por onde se caminha. Mas a rua não seria a mesma e, quiçá,
não me teria atraído o contraste do exterior com o interior. Mesmo sem tripé, e
recorrendo à minha corrente de autoclismo, tentei dar um ar da minha graça,
levando bem longe a capacidade do sensor da câmara no seu distinguir entre luzes
e sombras.
Desta minha intrusão na intimidade de um lar que me é
desconhecido e que assim ficará para todos os que isto virem, peço desculpa.
Mas não resisti a sorrir ao olhar para uma janela,
depois outra, uma terceira em dobrando a esquina. E em todas verificar o mesmo:
Sem grandes pompas e com um certo ar de modernidade,
as paredes estavam cobertas de livros. Uns mais encadernados e clássicos,
outros desirmanados e de tamanhos vários, numa das paredes a estante
notoriamente desarrumada, indicando um uso frequente…
Nesta casa, onde mora não sei quem nem quantos,
gosta-se de livros!
E isso foi motivo para, num início de noite fria (ou
mesmo que o não fosse), fazer um registo indiscreto.
Digamos que fotografia e livros resulta num casamento
quase perfeito e bonito. Ao contrário desta imagem.
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