quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

Desabafo




Eu sei que há quem não goste do termo: photo-cronista.

Que não só é um termo que não existe formalmente, como está escrito numa grafia não convencional. Além do mais, é uma classificação que me atribuo.

Tenho outra, alternativa, mas não gosto tanto dela: crono-fotógrafo. Mas não me soa tão bem.

Quando não, vejamos: não sou fotógrafo. Não ganho a vida com a fotografia, apesar de já o ter feito. Nem a fazer fotografia, nem a negociar em fotografia, nem a ensinar fotografia. Já fiz disto, umas vazes mais, outras nem tanto, mas desisti.

Por um lado, o mundo comercial da fotografia é um mundo-cão. É necessária muita competição, comercial, social, relações públicas, para se conseguir singrar sem entrar em conflito com conceitos éticos que se possam possuir. Eu tenho alguns e não abdico deles.

Por outro, tenho a sorte de não necessitar da fotografia para pôr comida na mesa. Não vivo abastadamente, tão só do meu salário, e os proveitos da fotografia foram sempre extras. Simpáticos, por vezes agradaveis, mas extras.

Por outro lado ainda, não sei ou não tenho génio suficiente para fazer boas fotografias. Algumas agradam-me, que será o que importa, mas fotografias para “encher o olho”, daquelas que, se não forem encomendas, têm saída no mercado, não as sei fazer. Conheço as técnicas, as estéticas, os motivos e as ocasiões, mas falta-me aquele algo de génio para ser bom fotógrafo.

Consciente do que sou e sou capaz, procuro na escrita um acréscimo de satisfação. Mas sou fraco com as letras. Ou são as ideias, ou a sua organização, ou o vocabulário, ou o enredo... as letras não serão o meu forte, apesar de gostar disso.

Mas sou e gosto de observar o que me cerca. E de o contar, com imagens ou com palavras. Os insólitos, o que de bom e de mau vai acontecendo, fruto da actividade humana ou não. Gosto de fazer pequenos recortes no universo e garantir que outros têm acessos a eles.

Assim, acabei por encontrar uma maior satisfação na conjugação das duas formas de comunicar: fotografia e escrita. E surgiu o termo photo-cronista. Fotografias do quotidiano, ilustradas com palavras. Ou crónicas do dia-a-dia, ilustradas com fotografias.

Da qualidade do que faço não me pronuncio. Seria ser juiz em causa própria. Mas se encontro satisfação no que vou fazendo e o vou divulgando será porque, de algum modo, satisfazem os meus padrões mínimos.

Photo-cronista: nem uma coisa nem outra, mas uma simbiose de ambas.


By me

Sem comentários: