Eu sei que há quem não goste do termo: photo-cronista.
Que não só é um termo que não existe formalmente, como está
escrito numa grafia não convencional. Além do mais, é uma classificação que me
atribuo.
Tenho outra, alternativa, mas não gosto tanto dela:
crono-fotógrafo. Mas não me soa tão bem.
Quando não, vejamos: não sou fotógrafo. Não ganho a vida com a
fotografia, apesar de já o ter feito. Nem a fazer fotografia, nem a negociar em
fotografia, nem a ensinar fotografia. Já fiz disto, umas vazes mais, outras nem
tanto, mas desisti.
Por um lado, o mundo comercial da fotografia é um mundo-cão. É
necessária muita competição, comercial, social, relações públicas, para se
conseguir singrar sem entrar em conflito com conceitos éticos que se possam
possuir. Eu tenho alguns e não abdico deles.
Por outro, tenho a sorte de não necessitar da fotografia para
pôr comida na mesa. Não vivo abastadamente, tão só do meu salário, e os
proveitos da fotografia foram sempre extras. Simpáticos, por vezes agradaveis,
mas extras.
Por outro lado ainda, não sei ou não tenho génio suficiente
para fazer boas fotografias. Algumas agradam-me, que será o que importa, mas fotografias
para “encher o olho”, daquelas que, se não forem encomendas, têm saída no
mercado, não as sei fazer. Conheço as técnicas, as estéticas, os motivos e as
ocasiões, mas falta-me aquele algo de génio para ser bom fotógrafo.
Consciente do que sou e sou capaz, procuro na escrita um
acréscimo de satisfação. Mas sou fraco com as letras. Ou são as ideias, ou a
sua organização, ou o vocabulário, ou o enredo... as letras não serão o meu
forte, apesar de gostar disso.
Mas sou e gosto de observar o que me cerca. E de o contar, com
imagens ou com palavras. Os insólitos, o que de bom e de mau vai acontecendo,
fruto da actividade humana ou não. Gosto de fazer pequenos recortes no universo
e garantir que outros têm acessos a eles.
Assim, acabei por encontrar uma maior satisfação na conjugação
das duas formas de comunicar: fotografia e escrita. E surgiu o termo
photo-cronista. Fotografias do quotidiano, ilustradas com palavras. Ou crónicas
do dia-a-dia, ilustradas com fotografias.
Da qualidade do que faço não me pronuncio. Seria ser juiz em
causa própria. Mas se encontro satisfação no que vou fazendo e o vou divulgando
será porque, de algum modo, satisfazem os meus padrões mínimos.
Photo-cronista: nem uma coisa nem outra, mas uma simbiose de
ambas.
By me
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