Quando o vi, não estava assim nem aqui.
Sentado a poucos metros, fumava um cigarrito sem máscara. Cumprimentámo-nos
à distância, enquanto eu fazia o mesmo.
Mas, talvez por eu o ter a descoberto, fiquei com vontade de
meter o nariz e encetar uma converseta. E aproximei-me.
Depois de um bom dia, que fica sempre bem, fiz-lhe a
pergunta: “Já nos conhecemos há muito, por aqui. Há quanto anos usa este mesmo
local nesta época?”
“Já faço isto há uns vinte anos. Mas aqui, no natal, desde
2009 ou 2010”.
O sotaque não deixou dúvidas: era natural de algures do
leste europeu. E questionei-o também nisso.
“Sou romeno, mas já cá vivo há muito.” O vocabulário era
perfeito.
Acabou o cigarro e levantou-se, que ali sentado, na
conversa, o dia não rende. E colocou a máscara, tal como as luvas, que encobrem
mãos bem tatuadas.
Foi então que percebi o que me incomodara: só parte da cara
estava pintada, a metade superior. Ao colocar a máscara, quase nada de pele se vê.
Está certo! Não apenas gasta menos tinta, como esta com a
humidade da respiração e sob o pano, deve ser bem incómoda, mais que o resto.
Pedi-lhe por uma fotografia, que acedeu. Felizmente, a sua
posição habitual, voltado para a porta do centro comercial, permitiu-me a luz
que mais gosto: vinda do lado de lá do assunto.
Feito registo, uma das raras verticais que faço, escolhi
algumas das moedas maiores que tinha no bolso e deitei-as na caixa, à sua
frente. No fim de contas, ele está a trabalhar e deve ser pago por quem usufrui
desse trabalho.
Afastei-me com um aceno de cabeça, que os sorrisos ficaram
tapados pelas máscaras, ao que respondeu com uma ligeira vénia e um tirar de
chapéu.
Espero vê-lo, no ano que vem, sem máscaras de permeio.
By me
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