O que a seguir contarei nada tem de novo. Nem o pensamento
de per si nem o eu o deixar por estas coisas das webs. Mas útil será deixá-lo
outra vez.
Para os que já o leram voltarem a pensar nele, para os que
nunca tal haviam cogitado terem um outro assunto para ponderarem.
Falo do tempo de observação de uma fotografia e de como isso
influi na fotografia contemporânea.
Quem quer que vá a uma exposição fotográfica usará de,
talvez, trinta segundos para ver cada obra à sua frente. Nalguns casos, se
muito agradar, mais tempo. O tamanho, o local, a pré-disposição para ver
fotografias, tudo isto levará a estes valores temporais.
Quem vir um livro ou revista contendo fotografias usará,
possivelmente, uns dez segundos com cada uma. Dependerá das condições em que
acede a elas (em casa, num comboio, numa biblioteca, na sala de espera de um
médico...). E dependerá do tema e do interesse nele e no autor. Tal como
dependerá da pressão existente para a tarefa que se lhe seguir: sair na próxima
paragem, ser o próximo a ser atendido, a hora de fecho do local...
Quem vir fotografias num site ou grupo on-line sobre
fotografia usará, sendo optimista e em média, uns dois a três segundos com
elas. Se agradarem, se o tema for interessante, se o autor nos merecer alguma
atenção... as mais das vezes menos que esse tempo. Porque, quando não, haverá sempre
mais uns milhares ou milhões de fotografias para ver há que ser rápido.
Acontece que a maioria das pessoas que fazem fotografia,
quer como ofício quer pelo mero prazer de o fazer, querem alguma resposta do
público. Quer seja pelo número de visitantes na galeria, quer seja pela tiragem
do livro ou revista, quer seja pelas críticas dos especialistas, quer seja
pelos likes deixados na rede.
Mas uma fotografia de leitura mais elaborada, que exija mais
tempo ou tamanho para ser entendida ou apreciada, não recebe comentários ou
likes on line. Porque, ao usar de tão pouco tempo de observação, o público nem
se apercebe do conteúdo no seu todo, perdendo muitas vezes o prazer da
observação.
Assim, quem publica nas redes em busca de reconhecimento ou
como forma de comunicação acaba por aprender que isso só sucede se as imagens
forem minimalistas. Na quantidade de elementos visíveis, na simplificação das
linhas implícitas ou explícitas, nos contrastes luminosos (neste caso pela
variedade de calibrações dos sistemas reprodutores de imagem).
E todas essas pessoas que procuram o agrado ou feed-back do
seu trabalho acabam por simplificar as imagens que produzem, que as subtilezas
fotográficas não colhem likes.
O consumo e produção fotográfica na e para a web acaba por
redundar em fotografias fracotas, más mesmo em muitos caso. Ou, pelo menos,
muito menos elaboradas do que os seus autores poderiam ou sabem fazer.
O digital na fotografia, tanto na produção como na
divulgação, veio permitir que muitos acedessem a tal “arte” com muito mais
facilidade, permitindo o surgir de excelentes fotógrafos.
Mas também veio estupidificar a produção e consumo
fotográfico, fazendo da simplificação a tónica dominante.
Pergunto, sem ironias, quantos de vós se deterão a observar
esta fotografia no seu todo e nos seus detalhes. “Two ways of life”, de Oscar
Gustav Rejlander, 1857.
By me
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