sexta-feira, 6 de março de 2020

Pensar




Uma das principais preocupações de Ansel Adams, bem como de muitos outros fotógrafos, foi o conseguir reproduzir nos suportes fotográficos aquilo que o olho humano conseguia ver. Não em quantidade mas em qualidade.
Por que, e é sabido, a gama de contrastes que o nosso olhar consegue discernir é de longe superior à que qualquer suporte de imagem é capaz, por si só.
Daí o eles terem-se preocupado, uns mais, outros menos, em aquilatar dos contrastes do assunto a captar, das sensibilidades cromáticas (mesmo em preto e branco) e das capacidades de reproduzir os negros profundos e os brancos puros, com toda a gama de cinzentos intermédios.
Medições de luz no assunto, filtros coloridos, revelações controladas no negativo e no positivo… de tudo se usou (e usa) com esse objectivo. E com resultados de deixar qualquer um de boca aberta.
Hoje, pensam muitos, tudo se resolve com ajustes electrónicos no computador, eventualmente na câmara. Uns toques aqui ou ali e a coisa fica feita.
Como estão enganados!
Os grandes de hoje, por muito que saibam trabalhar sentados em frente do ecrã, deram-se ao trabalho de bem medir e controlar a luz antes do acto de premir o botão do obturador. E, muitas vezes, bem sabendo então o tipo de correcção que terão que vir a fazer.
E o resultado final, para além de encher o olho, tem toda a gama tonal do assunto, dos negros profundos aos brancos puros. E não, como muitos acham, do cinzento-escuro ao quase branco.
Claro que haverá sempre, repito o sempre, que considerar o suporte final onde a imagem vai ser observada ou consumida. E um dos problemas aqui inerentes passa pela calibração dos reprodutores da imagem, se não for impressa.
O fácil acesso aos equipamentos de captação de imagem, o preço zero de cada uma, as redes sociais e sites, a velocidade com que se quer que as imagens sejam degustadas e as aparentes fáceis edições posteriores fazem com que se baixe o nível qualitativo das imagens com que nos deparamos. E apenas porque, na esmagadora maioria dos casos, não se “pensa” no que se está a fazer mas tão só em fazer de qualquer modo, sabendo que depois “se dará um jeito”.

Pensar parece estar fora de moda: ou porque é lento ou porque é cansativo.



By me

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