terça-feira, 31 de março de 2020
Pensando
Fotografamos os espaços, a luz, os sorrisos, os objectos, porque não os podemos possuir, não os podemos levar para casa. Cabem, certamente, na alma ou coração de cada um, mas não na parede ou numa gaveta.
Nós, os fotógrafos, somos uns invejosos e cobiçadores! Entre outras coisas.
E se tiverem dúvidas sobre tamanha afirmação, consultem os vossos arquivos bem como os trabalhos de fotógrafos conceituados.
Irão constatar, sem surpresas, que poucos são os que fotografam ou exibem fotografias das pessoas que lhes são afectivamente próximas.
Não precisam!
Aquilo de que realmente gostam ou amam está ali, permanentemente, ao alcance de um olhar ou na superfície da memória.
Ou, talvez, sejam os fotógrafos uns seres muito egoístas. E queiram guardar só para si, para a sua intimidade, os tesoiros que têm. Sem artifícios ou tecnologias.
Grandes pensadores se debruçaram sobre o acto de fotografar e os motivos que estão por detrás disso.
Interessante mesmo é verificar que raríssimos são os que afirmam tal coisa.
Ou bem que estou completamente enganado ou então tiveram eles medo de serem apedrejados na praça pública.
By me
segunda-feira, 30 de março de 2020
.
Porque haveriam de gastar tempo e usar maquinaria complexa e cara para espreitar cá para dentro quando, se me perguntassem, eu responderia sem errar:
“A minha cabeça está completamente vazia. Um pouco de lixo e nada mais!”
By me
Uma por dia
Volta e meia há que fotografar um livro. Ou porque não temos
um scanner por perto ou porque o que queremos reproduzir é maior que o scanner.
E raramente temos um vidro para colocar sobre o livro, o que
acaba por, não apenas por alterar a geometria do que queremos mostrar, como ter
uma ou as duas páginas levemente abauladas.
O que nos levanta um problema, as mais das vezes não
constatado no momento da fotografia por menos experientes e preocupados com
isso: brilhos na superfície das folhas.
E estes brilhos, para além de pouco bonitos, conseguem
ofuscar detalhes da imagem. Como é o caso do exemplo junto, em que não se vê a
data impressa pelo autor da fotografia – 1902.
Basta mudar um pouco a posição da fonte de luz, ou rodar um
pouco o livro, para que o problema desapareça ou fique quase anulado.
Fotografem e sejam felizes
By me
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Uma por dia
Fotografia e livros
Confesso que prefiro ver fotografias de bons autores em
livros.
Por um lado tenho mais calma ou paciência para ver um livro
que para acompanhar o que há na net.
Por outro, em regra a qualidade do que foi impresso é mais
garantida que as que aparecem na net. Desde que haja o cuidado em escolher uma
boa editora.
Por fim, um livro pode ser degustado em qualquer lado, não
depende de energia ou duração de baterias e o sofá é, muitas vezes, mais confortável
que a cadeira da secretária.
No entanto há um senão que me aborrece de morte: quando o
paginador do livro decide imprimir a duas páginas.
Se é verdade que a imagem tem maior tamanho, também é
verdade que a união das duas páginas quebra violentamente a unidade da
fotografia, introduzindo um traço vertical em nada consentâneo com o trabalho
do autor. Deixamos de ver “uma imagem” para passarmos a ver “duas” imagens
justapostas.
E mesmo que nos consigamos abstrair bastante dessa quebra,
haverá sempre alguma alteração de geometria na proximidade da união de páginas.
Há obras fotográficas, tanto em monografias como em colectâneas,
a que só temos acesso neste tipo de livros.
Quando não tenho alternativa, lá os compro. Mas sempre com
alguns impropérios aos paginadores ou editores, que preferem o lucro da venda
dos livros ao respeito pelos autores apresentados.
Na imagem: “Nocturno”, de Doutor Alfred Kiesteis, 1902,
Alemanha
By me
Registos
Esta fotografia tem uns vinte anos, mais coisa, menos coisa.
Foi feita num mercado de Londres, fazendo parte das
fotografias de férias de alguém que me é próximo.
Claro que é uma fotografia importante para quem lá esteve.
Talvez que também para quem nela está representado.
Para a enormidade dos demais milhões de seres humanos do
planeta nada terá de extraordinário. Excepto…
Excepto o facto de mostrar uma actividade agora proibida em
quase todo o mundo.
Aos sete pecados mortais, comuns a quase todas as
civilizações, de súbito juntou-se-lhes mais um, de consequências a curto prazo
e realmente mortais.
Daqui por uns anos (um, dois, três?) este tabu cairá em
desuso para felicidade de quase todos.
Restará deste período que agora vivemos as imagens que os
mais afoitos consigam fazer.
Para quem tiver imagens equivalentes, guarde-as de parte. Se
puder e tiver coragem, façam o equivalente destes dias, do vazio público que
hoje vivemos.
E, quando for possível, registem o regresso à normalidade.
O “antes, durante e depois” será uma boa história para
contar aos netos e à humanidade.
Texto: by me
domingo, 29 de março de 2020
Viva quem faz
Num domingo de quarentena generalizada alguém do meu prédio
distribuiu isto por todos os apartamentos. Anonimamente.
Chama-se a isto fazer algo pela comunidade.
Viva quem faz!
By me
Uma por dia
Esta fotografia foi feita para mostrar uma ampulheta e a
passagem do tempo.
Como fonte de luz, um candeeiro de lâmpada nua atrás do
papel vegetal.
Tem um ligeiro tratamento de edição: um pequeno aumento de
contraste, possível de fazer com qualquer editor de imagem, mesmo no telemóvel.
A forma de suportar o papel vegetal encontra-se aqui:
By me
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Uma por dia
sábado, 28 de março de 2020
Poupança de esforço
Eis um contador de tempo que esta noite não terei que
acertar.
Sendo que tem tamanho para marcar meia hora, bastaria nem
lhe dar a volta para ficar certo.
By me
Imodéstias
Tenho aqui uma anca que não me facilita certos movimentos.
Ou porque dói ou porque tenho medo que doa.
Mas isso não impede que fotografe.
Ou me sento, ou desço e subo bem devagar e com apoio, ou invento
técnicas que, levando ao mesmo resultado fotográfico, evitem esses movimentos.
Foi o caso desta. Um tripé e uma cadeira foram auxiliares
preciosos.
Outra técnica, que tanto funciona para baixo como para cima,
é o recurso a um monopé e com ele e com a câmara na ponta, fotografar quase
rente ao chão ou bem de lá de cima.
Tenho o orgulho de reclamar ter sido o primeiro a usar a
câmara bem subida no monopé, uns dois metros mais acima da minha cabeça, para
fotografar manifestações em Lisboa. Chamei a essas imagens, bem como outras com
a mesma técnica mas em diferentes situações, de “Se eu fosse mais alto”.
Dois anos depois de ter a começado a usar, encontrei mais gente
a fotografar do mesmo modo.
Não reclamo a invenção. Até porque não sei se algures no
planeta outros o terão feito antes de mim.
Mas dá-me um certo prazer saber que mais gente por cá achou
que valia a pena usar esta técnica depois de me verem a praticar.
By me
Uma por dia
Dizem as regras de composição de imagem que a câmara ou
objectiva deverão estar à mesma altura que o ponto de vista a olho nu.
Ou ainda que a objectiva deverá estar ao nível dos olhos da
pessoa fotografada.
Em termos gerais isto estará certo. Queremos, as mais da
vezes, colocar em pé de igualdade observador e fotografado, não dando
superioridade ou inferioridade a nenhum deles, só pelo facto de estar a ser
visto de cima ou de baixo.
Claro que poderemos sempre fazer o oposto, propositadamente e
com esse objectivo.
Mas… e quando se trata de assuntos que não envolvam pessoas
e, por conseguinte, não se põe a questão de igualdade?
Os pontos de vista (ou perspectivas) diferentes do habitual
podem dar dinamismo à imagem. E colocar o espectador num local diferente, com
as consequentes diferentes sensações.
Se na imagem da esquerda se mostra algo de um ponto de vista
mais convencional, a da direita mostra-nos que se veria se estivéssemos sentados
no chão. Ou como vê uma criança um ecrã.
Saber provocar emoções ou sentimentos em quem vê, entendendo
a sua forma de pensar e sentir, é tão vital quanto o saber usar o diafragma ou
calibrar o balanço de brancos.
Fotografem e sejam felizes
By me
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Uma por dia
sexta-feira, 27 de março de 2020
Uma por dia
Nestes dias de confinamento uma das coisas que muitos
mostram é o que conseguem ver pela janela.
O seu mundo circundante, o horizonte de que podem usufruir.
No entanto as mais das vezes aquilo que conseguimos ver é esse
mesmo horizonte e nada mais. Uma imagem mais subida ou nem tanto, podendo
referir-se a qualquer lugar ou qualquer circunstância.
Por vezes o incluir algo em primeiro plano que mostre,
efectivamente, onde estamos pode redefinir toda a história contada.
Não apenas o “confinamento” como dará profundidade. Para
além de mostrar algo menos “belo” acrescenta algo de mais “íntimo”.
Fotografem e sejam felizes
By me
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Uma por dia
Álcool e mulheres
Em 2017 o actual ministro das finanças holandês, Jeroen
Dijsselbloem, à época presidente do eurogrupo, terá afirmado que os países do
sul da europa gastavam muito em álcool e mulheres.
É verdade!
É ver como o álcool esgotou no comércio e como as mulheres
(limpeza, supermercados, enfermeiras, farmacêuticas, etc.) continuam a ser
escandalosamente pagas para estarem ali, a fazerem os serviços que tantos
outros não querem fazer.
É curioso verificar como é agora a Holanda que põe algum
tipo de obstáculos a uma organização diferente dos dinheiros europeus. Tal como
optou por não confinar os cidadãos a quarentena.
Felizmente o país dos moinhos produz muitas flores para
colocar nas suas tumbas.
By me
E os outros?
Foi há uns dias, no último antes de entrar em reclusão
domiciliária temporária. Que, lá onde trabalho, alternamos grupos em casa com
grupos em actividade, somados com os em teletrabalho.
Na gare do Oriente, em Lisboa, enquanto transitava entre o
comboio e o autocarro, fui abordado por três pedintes. Três.
A média ali, pelo menos a que comigo sucede, é de um ou dois
por semana. Três num dia não recordo. Mas entendo.
A quantidade de gente de gente nas ruas é muito menor, a
maioria a fazer contas à vida e a gerir o que tem e a generosidade diminui.
Donde, os que vivem da caridade alheia, mesmo que não sejam
sem-abrigo, têm os seus “rendimentos” muito diminuídos. E disputam os locais
onde ainda passa gente, na tentativa de “ganhar” algum.
Falamos em planos de contingência. Em distanciamento social.
Em consequências económicas. Em previsões de inflação e desemprego.
Os que vivem de mão estendida, solitários nos vãos de escada,
num qualquer quarto esconso ou pardieiro em ruinas são “não pessoas”, quase
ignorados.
Em breve, quando a pandemia por cá ultrapassar a capacidade
de os serviços médicos estiver para além do possível, as escolhas terão que ser
feitas.
Estes são os que já hoje estão condenados.
By me
quinta-feira, 26 de março de 2020
Uma por dia
Nesta série “Uma por dia” vou tentado mostrar o como é fácil
fotografar em casa sem questões elaboradas ou materiais dispendiosos.
E sendo que a luz é aquilo de que dependemos para
fotografar, não é complicado encontrar soluções simples. Por vezes apenas a
janela “faz a festa”.
E se a luz provoca sombras e com elas evidencia textura e
volumes, também provoca brilhos nas superfícies que o permitem. O que pode ser
particularmente desagradável ou especialmente desejável.
A cobertura de um bolo caseiro tem, em regra, brilhos. É o
caso deste. Difícil seria evitá-los. E indesejável, já que lhe tiraria parte ou
a totalidade do aspecto apetitoso.
Dosear esse brilho, bastando para isso escolher o ângulo
certo, faz parte do trabalho do fotógrafo e, em condições profissionais, pode
levar muitas horas a conseguir. Ou não, como é este o caso.
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Uma por dia
Equidade
Parece que a Assembleia da República está a trabalhar em
regime reduzido, com apenas um quinto dos deputados no plenário, por decisão
dos líderes dos grupos parlamentares.
Poderá chamar-se a isto um regime de lay-of.
Será que irão ter o mesmo regime de apoio social, com os
salários reduzidos, como os cidadãos que os elegeram?
By me
quarta-feira, 25 de março de 2020
Uma por dia
Fotografar em casa pode ser resultado de uma ideia tida e
construída a situação ou apenas o saltar o olhar sobre algo que temos à nossa
frente. Claro que pode também ser a conjugação de ambas.
O certo é que é frequente a quantidade de luz não ser a
suficiente para efeitos fotográficos e temos que reforçar. Com uma fonte
adicional, com a substituição da lâmpada, com um jogo de luz de todo inovado.
Se pretendermos recriar algo verosímil, haverá que ter algum
cuidado com alguns pormenores. Um deles o lado de onde vem a luz.
Em boa verdade, quando se concebe um “desenho de luz”, essa
é a primeira preocupação: de onde vem a luz, onde está a sua fonte. Candeeiro,
janela, sol…?
Mas também é verdade que, ao recrearmos uma situação nos
devemos preocupar em ser fiel ao tipo ou origem de luz que existiria se fosse
casual.
Numa mesa de refeições a regra é ser de cima. Equitativa
para os diversos lugares ocupados, não criando sombras que nos atrapalhem ao
escolher as espinhas de peixe, por exemplo.
Numa mesa de trabalho, onde escrevemos ou manipulamos
objectos, o ideal é esta vir do lado oposto à mão útil. Do lado esquerdo se
somos destros, do lado direito se somos canhotos.
Suponho que a maioria de vós sejam destros. É o que dizem as
estatísticas.
Destas duas fotografias, em quase tudo idênticas, qual a que
menos vos faz sentir confortável: a que tem a luz vinda da esquerda ou a que
tem a luz vinda da direita?
Quando colocarem uma fonte de luz para fazerem uma
fotografia, considerem este aspecto.
Também podem considerar que a luz vem do lado de lá do
assunto, no lugar de estar colocada atrás e ao lado da câmara. Mas esta é uma
abordagem diferente e bem mais elaborada. No conceito e na técnica.
Fotografem e sejam felizes
By me
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Uma por dia
Zonas de conforto
É fácil de ver que em regime de confinamento a comida (o
acto de comer e o acto de a fazer) são substitutos de actividades diversas e no
exterior.
Quanto mais não seja porque é uma forma de matar o tempo. Ou
de quebrar a rotina.
Gente há que tenta inovar naquilo que como. Uma vez mais
para quebrar a rotina. Quiçá para surpreender quem usufruir do resultado
culinário.
Por mim, que gosto de inovações gastronómicas mas também da
tranquilidade do palato, de quando em vez gosto de regressar aos prazeres da
mesa com o mais básico e tranquilo: leite achocolatado e pão com manteiga. Isto
enquanto me entretenho com banda desenhada bem humurada, no caso “Gatão de
Bronca” ou, no título original, “Gaston Lagafe”.
Um sorriso, um riso ou uma gargalhada são coisas que
combinam bem com o regressar às origens.
By me
Denúncia
Sim, fui à rua.
Sendo que não fazemos açambarcamento aqui em casa, haveria
que reabastecer de produtos básicos: pão, vinho, tabaco.
No regresso dou com isto. Um escândalo! E se mais ninguém
denuncia, aqui estou eu para isso.
Uma coisa destas jogada fora quando poderia muito bem servir
para argumento ao sair de casa com um “passear o cão”!
Alguém avise a sociedade protectora dos animais para o
recolher.
By me
terça-feira, 24 de março de 2020
Uma por dia
Questão frequentemente esquecida pelos menos experientes é o
fundo onde o assunto principal se insere.
Quer seja por perspectiva, por contraste de cor ou luz, por
texturas… As mais das vezes concentram-se no principal motivo de querer fazer a
fotografia, menosprezando o resto.
E, no entanto, é esse mesmo “resto” que pode evidenciar ou
anular o objecto ou pessoa que estamos a fotografar.
Prestar atenção aos brilhos, às texturas, às cores, às
formas, o como se conjugam ou anulam, o como ambos – assunto e fundo – se adequam
ao que queremos contar…
Por vezes, basta mudar um pouco de eixo em relação à luz –
no caso uma simples janela – para que tudo mude. Mesmo que as posições
relativas assunto/fundo não se alterem.
By me
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Uma por dia
Teologias
E podem sempre colocar-se várias questões teológicas sobre o
que vai acontecendo pelo mundo.
Será esta pandemia um castigo divino por causa da arrogância
humana de tudo querer saber?
Será uma demonstração prévia de um eventual apocalipse que
se avizinha?
Será que chama a si os anciães para com eles se aconselhar?
Estará apenas a querer reduzir o número de habitantes,
deixando espaço para as outras suas criações?
Estará a testar o ser humano na sua capacidade de compaixão
e solidariedade?
Estará a demonstrar que ele, deus, não habita nos templos
mas antes nos corações?
Estará a tentar forçar os seus pastores a repartirem o que
foram acumulando ao longo dos séculos?
Ou será que adormeceu por um pouco e a coisa
descontrolou-se?
Estas questões e muitas outras darão “pano para mangas” a
inúmeros especuladores teológicos. Os arautos da desgraça, os videntes nas
folhas de chá, os sacerdotes ávidos de poder…
Ainda verei à venda garrafas de água do gelo do polo sul,
onde é sabido não existirem humanos. Ou ventiladores, feitos com motores de
cortador de relva e mangueiras de aquário.
No pós-covid teremos os mártires e os santificados. Uns por
se terem sacrificado, outros por terem praticado milagres.
E desculpem o azedume, mas esta coisa de ontem não ter
encontrado tabaco alterou-me os humores.
By me
segunda-feira, 23 de março de 2020
Uma por dia
As regras mais básicas, para os mais inexperientes, dizem
que se deve fotografar com o sol nas costas do fotógrafo. Ou a janela.
Isto garante imagens medianamente bem expostas, garantindo
que não se perde nenhuma por mal feita.
Mas, convenhamos, são imagens “chatas”, sem volume, sem
texturas, sem graça.
O truque, se algum, é ter a fonte de luz (neste caso uma janela
sem que o sol entrasse directamente) com alguma angulação em relação ao eixo
câmara/assunto.
Haverá sempre que observar os tamanhos das sombras, tanto no
assunto quanto as que se projectam no fundo, e optar pelas que nos parecem mais
agradáveis. Ou, se preferirem, que tipo de sombra mais de adequa ao que
queremos contar.
É que, não nos enganemos, fotografar é contar algo, é contar
uma história ou estória.
E se ao escrevermos no papel usamos palavras como em
fotografia usamos o assunto, usamos pontuação como em fotografia usamos sombras
e perspectiva.
By me
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Uma por dia
domingo, 22 de março de 2020
Calma
Em tempos de crise, em que a maioria ou já tem medo ou já
tem pânico ou está a caminho de um ou de outro, tem que haver quem se mantenha
calmo por fora, por muito quase desesperado que possa estar por dentro.
By me
Um copo com os amigos
Não pode ir à noite beber uns shots com os amigos?
Quem diz que não?
Cada um em casa arranja um copo, deita-lhe o conteúdo que
mais gostar e à hora combinada, usam um qualquer programa de conversação com
vídeo e fazem um brinde em simultâneo.
A vantagem disto é que o podem fazer a quantidade de vezes
que quiserem sem se preocuparem no como chegar a casa ou se vão conduzir.
Tem ainda a vantagem adicional de juntarem no mesmo momento
e espaço virtual amigos que, eventualmente, estão a quilómetros de distância,
mesmo que noutros países.
De caminho, combinam o local preferido de todos para, em
torno de uma mesma garrafa, o fazerem bem pertinho uns dos outros quando isto
acabar.
By me
Uma por dia
São as sombras que nos ajudam a definir volumes. Tal como
estados de espírito.
Algumas podem ser bem marcadas, outras muito suaves.
As primeiras acontecem com uma só fonte de luz e tão pontual
quanto possível, natural ou artificial.
As segundas com uma fonte de luz tão difusa quanto possível.
Um céu encoberto é um bom exemplo. Mas em casa, sem grandes complicações ou
custos, também se conseguem. Um Candeeiro e uma folha de papel vegetal (neste
caso uma de cozinha, daqueles de ir ao forno) fazem a festa.
Fotografem e sejam felizes
By me
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Uma por dia
sábado, 21 de março de 2020
Uma por dia
Fotografar é registar a luz. E nem sempre é fácil termos a
luz que queremos.
Mas podemos sempre fazer o possível sem dispêndios ou
complexidades.
Qualquer candeeiro de mola (ou leve) pode ser colocado em
quase qualquer lugar ou altura. Para tal, basta atarmos uma vassoira às costas
de uma cadeira e pronto: um suporte facilmente ajustável em altura, colocável em
quase qualquer lugar.
Isto conjugado com o cartão/embalagem metalizado de que já
falei e conseguimos criar uma ambiência mais consentânea com o que pensamos ou
imaginamos.
Mesmo usando uma simples mesa sem mais enfeites por fundo.
Fotografem e sejam felizes.
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Uma por dia
Tirar partido de
Uma das vantagens (que algumas existirão) desta reclusão profiláctica
a que alguns de nós estamos “obrigados” é o tempo que poupamos nas deslocações
diárias.
Podemos levantarmo-nos mais tarde e podemos deitarmo-nos
mais tarde sem que isso afecte compromissos. Só pelo prazer disso!
E uma das fórmulas da felicidade é encontrarmos satisfação
no que vivemos sem desistirmos dos nossos sonhos.
By me
Natureza
De quando em vez vemos o anúncio da morte de alguma figura
conhecida.
Artes, letras, desporto, política…
Nos tempos que correm, pergunta-se logo se terá sido de
covid 19. E há algum alívio quando a notícia do óbito diz “causas naturais”,
com uma sensação de “este não foi mais um”.
No entanto, pergunto eu:
“Não será este vírus natural?”
By me
sexta-feira, 20 de março de 2020
Uma por dia
Por vezes haverá que usar apenas uma fonte de luz ao
fotografar.
Porque é uma opção de quem fotografa, porque não há outra
fonte disponível, quer se trate de um candeeiro, quer se trate do sol a entrar
pela janela.
A verdade é que a luz crua do sol ou de um candeeiro pode
provocar sombras intensas, duras, que fazem da imagem resultante mais
agressiva. Ou não corresponder ao que desejamos.
Não é, de todo, difícil resolver o problema, sem recorrer a
tratamentos no computador.
Uma qualquer embalagem de líquido em que o seu interior seja
metalizado (leite, vinho ou sumos) ou caixa de bombons, lavada, aberta e
espalmada faz um excelente reflector. Os topos, dobrados para um lado e para
outro, servem sem problemas, como forma de manter o cartão metalizado na
posição desejada, com ajuda de qualquer coisa que faça peso sobre eles. No
caso, usou-se um saleiro e um pimenteiro. Por vezes uso um cinzeiro.
Fotografem e sejam felizes.
By me
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Uma por dia
Recursos
Felizmente que eu guardo de tudo cá em casa.
Em faltando o abastecimento no supermercado, irei à
arrecadação.
By me
Adaptações
Com a situação sanitária e a declaração do estado de
emergência, que acredito que será prolongado, suspeito que as tradicionais
manifestações de 25 de Abril e 1 de Maio sejam suspensas.
Ou por bom senso dos seus promotores ou proibição das
autoridades.
Seria a primeira vez desde 1974 e muitos serão os que o
lamentarão.
No entanto…
No entanto acredito que tal seja benéfico.
Quando os festejam se rotinam no onde, quando, como, porquê
e quem, acabam por perder significado. Em boa verdade, há já toda uma geração
que ignora estes festejos em tudo o que significa que não o serem feriados.
A inovação nas celebrações pode e deve mudar de forma para
reavivar os significados e abranger mais gente. As grandes manifestações de
alguns milhares de pessoas, com desfile, discursos, petiscos e regresso a casa
ficam limitadas a isso mesmo. Até porque os media cada vez mais dispensam menos
tempo a tais actos públicos.
Talvez faça sentido que as organizações (políticas e
sindicais) pensem em alternativas (impostas pelas circunstâncias) e promovam
outras e novas formas de manifestação. Nas janelas, nas redes sociais, em
discursos feitos e transmitidos pelas tecnologias de comunicação… com maior
abrangência populacional, talvez que com mais impacto nas gerações mais novas.
A avenida da Liberdade este ano talvez esteja vazia. Mas não
sairá a Liberdade das nossas mentes e corações.
Bom ano novo
Não, não estou com erro de calendário nem alucinado com febres altas, felizmente.
De acordo com a tradição persa, será nesta data que se comemora o início do ano. Não dependendo de uma qualquer data arbitrária de um qualquer calendário, na antiga Pérsia a celebração acontecia aquando do equinócio da Primavera. Hoje, portanto.
É na primavera que renasce a natureza, dando-nos as primícias animais e vegetais. E disso dependemos.
Os antigos atribuíam divindades ao que ela, a natureza, fazia. Os actuais fazem o mesmo assumindo-o ou não, com esta ou aquela história associada.
Poemos controlar ou minimizar os efeitos de alguns aspectos da natureza. Pandemias incluídas. Não podemos modificar os ciclos astronómicos.
Mas podemos – devemos – celebrar os importantes, como sempre foi feito desde que humanidade deles se apercebeu.
Bom ano novo para todos.
By me
quinta-feira, 19 de março de 2020
Uma por dia
Um dos aspectos que muitos descuram ao fotografar um objecto
é o que o circunda: o fundo.
Se se tratar de um objecto relativamente pequeno, fundos
confusos podem fazer “morrer” o assunto principal. Por outro lado, um fundo sem
nenhum detalhe (neutro) pode tornar a imagem “chata”. Algum tipo de contraste
de cor, luz ou detalhe pode fazer a diferença.
Em casa o que não falta são fundos diversificados: na sala,
no quarto, na cozinha, na casa de banho, na escada…
De igual forma, não é de todo difícil criar um fundo neutro,
recorrendo a um tecido que, de algum modo, contraste com o assunto ou o faça sobressair.
Uma prateleira, as costas de uma cadeira, o topo de uma porta… dependendo do
peso do tecido e de onde está pendurado, molas, fita adesiva, grampos de
carpinteiro… muitas são as formas de o suster.
Usem a imaginação e explorem o espaço de que dispõem.
Fotografem e sejam felizes
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Uma por dia
Sinais dos tempos
Há uns anos valentes quando o telefone tocava o atendimento
era algo parecido com isto:
“Estou! Quem fala?”
Com o evoluir das tecnologias e a generalização dos telemóveis,
o atendimento é algo como:
“Olá! Onde estás?”
Nestes dias, e com a situação que vivemos, o atendimento
talvez seja assim:
“Viva! Estás em casa e seguro?”
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quarta-feira, 18 de março de 2020
Cancelado
O campeonato da europa de futebol foi cancelado; o festival
da eurovisão foi cancelado; festivais de rua foram cancelados; viagens de avião
canceladas; comboios cancelados; espectáculos de teatro; encontros
governamentais foram cancelados; celebrações religiosas foram canceladas,
comércio cancelado; passeios de namorados cancelados…
O mundo está a ser cancelado.
Imagem editada da net
By me
Uma por dia
Há sempre forma de fotografar e assuntos para fotografar,
mesmo que confinados em casa.
Estas fotografias foram feitas há pouquinho aqui em casa. Propositadamente
com o telemóvel e sem qualquer tratamento posterior que não a justaposição de
ambas para aqui as exibir.
Não estão bem expostas. Não mandei o automatismo fazer a
medição de luz no mesmo ponto.
Não estão iguais no que se refere a cor. Não calibrei o telemóvel
para um dado tipo de luz e automatismo fez isto.
A imagem da esquerda foi feita para ilustrar uma historinha das
minhas. Nada mais haveria que mostrar que não o que lá está. Mas repare-se
como, com objectos mais que banais em qualquer casa, o lápis foi fixado.
Fotografem e sejam felizes.
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Uma por dia
Solidariades
As coisas e as pessoas são como são!
Há um lugar onde tomo uma refeição por dia. O pagamento dessa refeição é feito por cartão-refeição. Não que goste muito, mas não tenho alternativa.
A máquina que lê o cartão e onde é feita a confirmação da despesa não está ligada à máquina registadora, o que implica que quem cobra tem que marcar diversas teclas antes e depois de a apresentar ao consumidor.
E, tal como os multibancos normais, também aqui acontece uma enorme promiscuidade no que se refere a partilhar locais de contacto: é toda uma enormidade de clientes e um operador.
E se cada um se pode proteger após o pagamento, que está a vender nem tem tempo de se desinfectar após cada transacção.
Preocupado com isto (e toda a cautela é pouca) levei um lápis como este e ofereci-o ao profissional que estava de serviço nesse momento, sugerindo que o usassem para premir as teclas, bastando a desinfecção aquando da mudança de operador, protegendo-se entre si nesse local.
Agradeceu-me quem o recebeu. E passou a usar o lápis em exclusividade, não o deixando para os demais que naquela caixa trabalham. Nem mesmo com a recomendação de o higienizarem aquando da mudança de turno.
Não estou, de todo, arrependido do que fiz. No fim de contas, fiz o que tinha a fazer, tentando que as medidas de protecção individuais e colectivas sejam prática de todos.
Mas não me apetece nada voltar a sorrir para este funcionário. Ou fazer algo mais por ele.
Um destes dias, em passando por necessidade num supermercado, comprarei uma ou duas embalagens destes lápis. São pouco mais que ao preço da chuva.
E farei questão que todos os que usam aquele terminal de pagamento tenham esta medida de protecção individual adicional.
Solidariedade não pode ser apenas uma palavra bonita no dicionário.
By me
terça-feira, 17 de março de 2020
Uma por dia
Ser positivo ou proactivo é uma das chaves para ultrapassar
as situações de crise. Esta é uma situação de crise.
E se é certo que a contaminação é algo de garantido para
muitos de nós, a maioria, contaminado ou não, vai ficar confinado em casa por
uns tempos. Com tudo aquilo que isso implica. Material e emocionalmente.
Que a casa (ou residência, ou lar) é algo de que gostamos e
onde queremos estar mas, dias a fio poderá ser bem mais que entediante. Pela
repetição do que vemos nas quatro paredes, pelas conversas repetidas sempre com
as mesmas pessoas, pela sensação de clausura…
Saber viver com isso é uma arte ou uma técnica. E várias
serão as abordagens para uma sobrevivência saudável a tal provação.
Sugiro, para os que gostam de fotografia, que a usem como
forma de escapismo.
É que, e ao contrário do que muitos pensam, não é preciso ir
longe para fotografar. Nem paisagens paradisíacas. Nem modelos de sonho. A
nossa casa, repleta que está de objectos e recantos, é um manancial quase
inesgotável de assuntos a fotografar, bastando para isso querer e usar de um
nico de imaginação.
Para este quebrar de rotina forçada nem sequer se necessita
de usar grandes meios, dispendiosos equipamentos, amplos espaços. Basta, por
exemplo, reservar por duas horas a mesa comunitária e usá-la como base de
trabalho.
A partir daqui, e usando todas aquelas coisas que todos
tempos por casa, usar da imaginação e fotografar.
Molas de roupa, vassoiras, cadeiras, lençois, tolhas de
banho, candeeiros de mesa, cordel, cartolina, camisas, calças, feijões… há todo
um manancial de objectos banais que, bem usados, podem fazer a diferença.
A clausura “forçada” pode ser mortal na rotina. Cabe a cada
um, para além de se proteger do tal vírus, se proteger do desânimo, da rotina,
da irritação quanto à situação.
Para todos aqueles que gostam de fotografia, sejam “experts”
ou nem pouco mais ou menos, com um montão de “tralha” ou um telemóvel, virei
aqui deixar diariamente e à medida que o meu trabalho permita (sim, não estarei
confinado que o ofício não permite e ainda não estou infectado) algumas dicas e
sugestões de como quebrar a rotina diária a custo zero e com as banalidades que
possuímos.
Divirtam-se e sejam felizes.
By me
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Uma por dia
segunda-feira, 16 de março de 2020
O dia seguinte
Sejamos realistas: o vírus veio para ficar. Por algum tempo,
pelo menos.
Mas também é certo regressará para algures, talvez para o
inferno de onde saiu.
Com ele levará muitos. Hoje, amanhã, no mês que vem. Inevitável,
gostemos ou não.
Mas é igualmente garantido que muitos, muitos mais, ficarão.
Incólumes, com dores de alma ou mazelas físicas. A pandemia passará e a grande
maioria de nós ficará por cá para contar a história.
Mas será bem mais difícil de contar a história ou regressar
ao quotidiano habitual se agora, enquanto enfrentamos o bicho, nos deixarmos
abater, ficando em casa apenas a lamber feridas e no desespero.
Desafio todos, sabendo ou não quem ficará, que se prepare
para o “dia seguinte”. Com humor, com amor, cada um melhor que no dia anterior.
As actuais tecnologias permitem-nos o apoio reciproco sem
cruzarmos a porta. As tecnologias actuais ou antigas permitem-nos ler e
aprender. O convívio familiar restrito permite-nos o limar arestas (e não
aguça-las) e fazer planos para o futuro.
Trabalho, lazer, família, tudo pode ser planeado para o “dia
seguinte”, construtivamente, proactivamente, positivamente.
Sabemos que a mente tem muita força, inclusive sobre o
corpo. Ter uma atitude positiva, mesmo em tempos de adversidade, é uma forma de
limitarmos o contágio e reforçarmos as nossas defesas. Mentais e físicas.
Fique em casa e planeie o que fazer quando tal não for
necessário. O sonho não paga imposto nem é atacável pelo corona.
Sejam felizes.
By me
domingo, 15 de março de 2020
Para o futuro
É sabido que são as condições adversas que condizem os
humanos a soluções inovadoras. Tanto nas ciências quanto nas artes.
E estamos a atravessar um momento adverso!
Para além dos que já estão doentes, o risco de novos casos –
e é garantido que acontecerão – conduz a situações de recolhimento forçado,
medo quando não pânico, corte ou suspensão de relações sociais, isolamento.
Gente há – e espero que muita – que retirará destes
condicionalismos lições para o futuro. Tanto técnicas e sistemáticas quanto
criativas e inovadoras.
Espero que os especialistas no campo das ciências humanas
estejam já a recolher dados – talvez que a partir de casa – sobre comportamentos.
Sociais e individuais.
Que as soluções de hoje – fruto da organização social com as
tecnologias de comunicação – levam a comportamentos bem diferentes de situações
análogas do passado.
As redes sociais, os media, a observação de campo nos círculos
restritos ou alargados conduzirão, estou certo, a novas teorias ou a
confirmação de outras. Desta feita, e infelizmente, sem ser em laboratórios ou
com voluntários, mas na vida real, bem real.
E acredito que, também infelizmente, que o animal que existe
em cada humano, virá ao cimo, perdendo-se parte da civilização. Em condições
extremas, e para lá caminhamos, o “cada um por si” será a tónica dominante,
passado que for o tempo de solidariedade.
Deixo aos sociólogos, antropólogos, psicólogos e outros “-ólogos”
o cuidado de observarem os dias que correm e disso tirarem elações e
ensinamentos.
E deixo a todos – repito todos – a lembrança: chegámos onde
chegámos enquanto sociedade e cultura, porque fomos capazes de ser solidários e
agirmos em conjunto.
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