sexta-feira, 31 de agosto de 2018

Regras de fumador



Qualquer utilizador da rede pública de transportes, qualquer que seja o meio, e que seja fumador, qualquer que seja a marca e tipo, sabe esta regra:
Em esperando um qualquer autocarro, numa qualquer paragem, e estando já à espera há um pedaço, se acender um cigarro é garantido que o autocarro surge na esquina segundos depois.
Pois! Eu não sou um qualquer!
Este foi o terceiro!


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quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Tempo e medidas




Suponho que nunca se perguntaram porque é que a semana tem sete dias. Não dez, tantos quantos os dedos das mãos, ou quinze, por um outro motivo qualquer. Sete!
Claro que a tradição judaico-cristã nos afirma que o universo foi criado em sete dias por um deus. Essa será uma explicação teológica, válida para crentes.
Mas há uma outra, bem mais prosaica, que talvez espante os menos avisados: a Lua.
Sabemos que o ciclo lunar tem 28 dias. E que cada fase da Lua (crescente, cheia, minguante e nova) dura sete dias. Aí está.
Para os antigos, que não tinham mecanismos de medição do tempo, este era medido em função dos fenómenos que conheciam e que ser repetiam.
O mais básico seria o dia, facilmente constatável. De seguida a Lua, também repetido e previsível. Mas 28 dias é muito tempo. Quase um mês.
Daí que as fases da Lua, cíclicas e regulares, numa quantidade de dias facilmente comensuráveis.
Para os que tenham dúvidas, legítimas face à ancestralidade do ciclo de sete dias, repare-se na quantidade de civilizações que ainda têm por tradição o calendário lunar. Claro que estas, por imposição do comércio e demais relações internacionais, acabaram por considerar não apenas o conceito de anos em função da translação em torno do Sol, com o ajusta de um dia extra por cada quatro anos, como o calendário gregoriano, com os seus meses não regulares. E as semanas, a não caberem em quantidade certa em cada mês. Excepto o Fevereiro, com 28 dias. Menos o bissexto.
A origem das unidades, sejam elas quais forem, é sempre meio obscura. Tal como o sistema hexadecimal, usado para movimentos circulares: horas, graus, minutos, segundos.
Entender o passado, onde se alicerça o presente, permite-nos construir o futuro. Seja em unidades de medida, pensamentos ou emoções. Mesmo que estas não se meçam.

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Justiça




O endeusar a lei, fazendo dela e dos seus agentes elementos infalíveis da sociedade, só significa uma coisa:
Que essa mesma sociedade está caduca, enquistada, conservada em códigos éticos e morais de antanho.
Uma sociedade que se queira evolutiva, melhorada a cada dia que passa, tem que assumir que as leis e as regras podem ser mudadas, que as opiniões dos de hoje podem não ser iguais aos de ontem e que a lei, mais que ser servida por Homens, existe para servir os Homens.
Por outro lado, os agentes da lei, porque a interpretam e nos diversos patamares em que ela existe, são humanos. Passíveis de erro, mesmo de erros sucessivos, nas interpretações, demonstrações e aplicações.



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Eu, agnóstico, me confesso



Durante anos, dezenas de anos, a eucaristia dominical foi transmitida a partir de estúdios, na RTP.
E eu, enquanto operador de câmara, perdi a conta a quantas transmiti, mas serão, p’la certa, várias centenas. Domingos comuns e outros.
E durante anos, até hoje, sempre disse que essas transmissões eram das que mais prazer me davam fazer. 
Claro que esta minha afirmação sempre deixou muita boa gente a olhar para mim com cara de espanto. Como é que eu, agnóstico convicto e crítico do papel da igreja na sociedade, podia afirmar ter prazer neste trabalho?
Por dois motivos, bem distintos mas igualmente importantes.
Por um lado, e quando as missas eram transmitidas a partir de estúdio e não a partir de igrejas, permitia uma abordagem estética que muito me satisfazia enquanto operador de câmara. Os movimentos de câmara no seu pedestal eram possíveis, que o chão o permitia, bem como a ausência de obstáculos como bancos, colunas e confessionários que encontramos em qualquer igreja. Enquanto profissional da imagem, podia levar ao limite as minhas capacidades e perícia de operação. E esse desafio dá prazer.
Por outro, sempre afirmei que a transmissão da missa é um programa televisivo da maior importância que qualquer estação de TV pode ter. 
Não no sentido de divulgar uma fé em que não creio. 
Antes porque o público, aquele que está a ver a eucaristia pelo ecrã, está a fazê-lo por vontade e decisão própria. Para satisfazer uma necessidade que entende por real. Faz do televisor que tem à sua frente o substituto possível para a sua impossibilidade de assistir ao vivo à missa. Ou porque está acamado, ou porque está preso, ou porque está distante de uma igreja, ou porque a igreja da sua zona já não celebra… 
Quem assiste à missa pela TV fá-lo por decisão assumida e não como um programa de entre a panóplia de programas existentes (desporto, informação, recreio, cultura…) 
Dando razão a uma qualquer cabecinha pensadora que terá afirmado que “serviço público de televisão” eram as missas, respondo-lhe daqui que não é só mas muito mais, mas que tenho muito orgulho em todas as que transmiti.
Com elas, e com tudo o mais, vamos continuando a fazer o tal “Serviço Púbico de Televisão”. Com orgulho, satisfação e contra ventos e marés.

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fake news




Vai sendo espalhado, aqui e ali, que a Arábia Saudita terá executado com decapitação uma activista.
Vão aparecendo fotografias da senhora, umas dela sentada sorrindo, outras obvias fotomontagens do mesmo rosto em variadas situações. Tal como foi publicado um vídeo, entretanto apagado pelo youtube, da decapitação em praça pública de uma mulher.
Fui dar uma olhada, aqui e ali, para encontrar outros conteúdos que não copy/past e que confirmassem o facto.
E fiquei a saber que essa decapitação, documentada com vídeo e com fotografias do mesmo, ocorreu em 2015 com outra mulher. Imagens bárbaras de uma birmanesa, executada em Meca, na Arábia Saudita, por ter abusado sexualmente e morto a sua enteada de sete anos.
Quanto à senhora de quem agora se fala, presa desde há três anos tal como o seu marido e mais quatro pessoas por activismo dos direitos das mulheres, continua em prisão e será julgada em Dezembro deste ano.
Efectivamente, ela corre o risco de ser executada, já que essa é a pena pedida pela acusação.
Mas a notícia da sua morte por decapitação é, por enquanto falsa.


Nota adicional: gastei pouco mais de meia hora a saber o que acima relato. E o que me despertou a curiosidade sobre o facto foi ele não ter sido noticiado em nenhuma fonte “credível”, das esquerdas às direitas, dentro e fora do país.
Tal silêncio, mesmo tratando-se de algo num país fortemente fechado à comunicação social, fez despertar em mim uma campainha de desconfiança. Reforçada por não ver nenhum relato vindo de ONGs ou da Amnistia Internacional.
O meu cepticismo em relação aos media só é ultrapassado pelo meu cepticismo em relação ao sensacionalismo das redes sociais.



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quarta-feira, 29 de agosto de 2018

Mudanças


Acho que estou a perder qualidades!
De conversa com alguém, e para que essa pessoa não esquecesse o nome da rua em que estávamos, digo-lhe eu:
“Não tens telemóvel? Fotografa a placa e assim não perdes a referência!”
Caramba!
Se, por um lado, já nem ofereço papel e caneta para um apontamento que não se quer perder, por outro já sugiro a fotografia como bloco de notas. Indo mais longe, sugeri o uso fotográfico de um telemóvel.
Estarei a perder qualidades, terei entrado na modernidade ou optei pela lei do menor esforço?
Seja como for, foi a primeira vez que o sugeri, pese embora já o tenha feito.
A idade está alterar-me.


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Não gosto




Não gosto de ver gente com carteira de jornalista a divulgar nas redes sociais links cujo conteúdo não se confirma em parte alguma.
E em que aquilo que é contado é tão surpreendente que faria manchete em qualquer jornal.
E verificar que a origem desse link não é mais que uma página de divulgação de tendências politico-partidárias, sem fundamentos ou solidez de conteúdos.
Não gosto de ver jornalistas a fazer isto!
Menos ainda quando se trata de gente que conheço.



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terça-feira, 28 de agosto de 2018

Éticas



Vejamos as coisas desta forma:
Existem, basicamente, três tipos de audiovisual: Ficção (ou entretenimento), documentário e informação.
Na primeira categoria cabe tudo e mais um par de botas. Podem ser contadas todas as estórias e histórias que, forma e conteúdo, são entendidos como ficção pelo público. Não há enganos nem tentativa de enganos.
Na segunda categoria contam-se histórias usando alegorias. As imagens e/ou sons podem não corresponder aos factos que se querem contar. Mas estes, os factos, são verdadeiros. Aquela história aconteceu mesmo e os sons e as imagens são ilustrações interpretativas. Quem vêm um documentário sabe-o e não toma por verdadeiro o que vê ou ouve. Sabe que são alegorias, sendo que podem ou não corresponderem aos factos. Narrados. 
A terceira categoria é rigorosa. Não é passível, legal ou eticamente, de serem introduzidos sons ou imagens em informação que não sejam reais. São interpretadas como tal, são contadas como tal e a fidelidade ao real é o factor primordial para a credibilidade. 
É com base nisto que alguns jornais, rádios e televisões são credíveis e o que noticiam é tomado ao pé da letra. E é com base nisto que alguns jornais, rádios ou televisões têm o cognome de “treta”, não sendo credível o que nos contam.
Note-se que este conceito de credibilidade é válido na forma e no conteúdo. Na história que é contada e na forma como é contada. Um audiovisual feito como verdade mas que seja apenas meia-verdade no relato, meia-verdade nos sons, meia-verdade nas imagens é embuste, é uma quebra de ética, punível ou não por lei.
Faço muita questão que naquilo que faço e que aqui vêem, bem como naquilo que faço e que aqui não vêem, as águas estejam bem separadas:
Ficção é ficção, documental é documental, informação é informação. 

Mas sabemos, infelizmente, que a ética é como a palavra de honra: fora de moda, arcaica, algo que consta dos romances de cordel ou não, que os nossos avós tinham por importante, que alguns se esforçaram por escrever a esse propósito, mas que não é conforme a interesses económicos e, muito menos, tem cabimento em mentes de arrivistas interesseiros.
Gostava de ter uns três ou quatro milhares de livros sobre ética no audiovisual. Para os deixar cair, todos de uma vez, em cima de algumas cabecinhas pensantes ou executantes da treta.

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Verso e reverso




Recuperando uma de arquivo:

Verso e reverso

Sabemos que a imagem é rainha nos tempos de hoje. Talvez mesmo imperatriz.
Mais ainda: sabemos que a imagem – com os seus significados e significantes – é bem mais antiga que a escrita, e que nós hoje quase que veneramos essas antiguidades.
Mas a história da imagem não é nem linear nem pacífica. O seu peso mágico ou místico nas diversas culturas foi variando com os tempos. Tal como as associações que cada uma e cada individuo fazia ou faz à imagem ou ao que ela representa.
Antes de endeusarmos a imagem nos tempos que correm, talvez seja útil termos uma ideia do que ela foi no passado.
Aqui, uma transcrição de parte do artigo sobre “iconoclastia” retirado da Wikipédia (que vale o que vale mas pode servir de pista para outros estudos ou cogitações).

Iconoclastia ou Iconoclasmo (do grego εικών, transl. eikon, "ícone", imagem, e κλαστειν, transl. klastein, "quebrar", portando "quebrador de imagem") foi um movimento político-religioso contra a veneração de ícones e imagens religiosas no Império Bizantino que começou no início do século VIII e perdurou até ao século IX.
Os iconoclastas acreditavam que as imagens sacras seriam ídolos, e a veneração e o culto de ícones por conseqüência, - idolatria.
Em oposição a iconoclastia existe a iconodulia ou iconofilia (do grego que significa "venerador de imagem"), ao qual defende o uso de imagens religiosas, "não por crer que lhes seja inerente alguma divindade ou poder que justifique tal culto, ou porque se deva pedir alguma coisa a essas imagens ou depositar confiança nelas como antigamente faziam os pagãos, que punham sua esperança nos ídolos [cf. Sl 135, 15-17], mas porque a honra prestada a elas se refere aos protótipos que representam, de modo que, por meio das imagens que beijamos e diante das quais nos descobrimos e prostamos, adoramos a Cristo e veneramos os santos cuja semelhança apresentam.
Em 730, o imperador Leão III, o Isáurio proibiu a veneração de ícones. O resultado foi a destruição de milhares de ícones pelos iconoclastas, bem como mosaicos, afrescos, estátuas de santos, pinturas, ornamentos nos altares de igrejas, livros com gravuras e inumeráveis obras de arte. O iconoclasmo foi oficialmente reconhecida pelo Concílio de Hieria de 754, apoiado pelo imperador Constantino V e os iconófilos severamente combatidos, especialmente os monges. O concílio não teve a participação da Igreja Ocidental e foi desaprovado pelos papas, provocando um novo cisma. Posteriormente a imperatriz Irene, viúva de Leão IV, o Cazar, em 787 convocou o Segundo Concílio de Niceia, que aprovou o dogma da veneração dos ícones, e recuperou a união com a Igreja Ocidental. Os imperadores que governaram após ela – Nicéforo I e Miguel I Rangabe – seguiram com a veneração. No entanto, a derrota de Miguel I na guerra contra os búlgaros em 813, levou ao trono Leão V, o Arménio, que renovou a iconoclastia.
Durante a regência da imperatriz Teodora, o iconoclasta patriarca de Constantinopla João VII foi deposto, e em seu lugar erguido o defensor da veneração Metódio I. Sob a sua presidência em 843, ocorreu outro concílio, que aprovou e subscreveu todas as definições do Segundo Concílio de Niceia e novamente excomungou os iconoclastas. Ao mesmo tempo foi definido (em 11 de março, data da reunião do concílio em 843) a proclamação da memória eterna da ortodoxia e o anatematismo contra os hereges, ainda realizada na Igreja Ortodoxa atualmente como o "Domingo da Ortodoxia" (ou "Triunfo da Ortodoxia").
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Ao colocarmos hoje no lugar de quase deus a actividade que fazemos (imagem, fotografia), convém que tenhamos a noção que tudo isso já foi pensado pelos antigos e que o verso e o reverso já foi ponderado.
Talvez que o problema da actual sociedade de informação (imagem incluída) seja a dificuldade de criarmos algum pensamento realmente original.



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segunda-feira, 27 de agosto de 2018

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Uma senhora, já idosa, diz sobre o estar retida no Funchal devido aos ventos que impedem os voos:
“Foi o primeiro ano que tive de férias mas nunca mais volto”
É triste ouvir alguém dizer, já quase no fim da vida, que é o primeiro ano que esteve de férias.
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sábado, 25 de agosto de 2018

Cegueiras



Recorda-me um post que li ainda agora um romance de ficção científica que li há muito.
Uma espécie de seres comedores de humanos havia cruzado as teias do tempo de universos paralelos, para conseguir reunir os “rebanhos”. Os heróis foram parar a uma sociedade rural e vitoriana, onde foram acolhidos como viajantes perdidos pela elite local.
Durante o jantar de recepção, os empregados de mesa despiram-se até à nudez integral e, calmamente, retiraram todas as jóias dos comensais, sem que estes esboçassem um só gesto de protesto.
Na manhã seguinte foram os heróis acusados de roubo e perseguidos pela turba enfurecida. Em desespero, lembrou-se um de uma solução estranha: mandou os amigos despirem-se até à nudez total. E a turba passou por eles como se ali não estivessem.
Explicou ele, depois, que naquele espaço/tempo a nudez era tão censurada que atingiu o ponto de não ser sequer perceptível. Pelo que os nativos não eram capazes de ver quem estivesse despido. O bloqueio moral assim os condicionava.
Nos nossos dias, apesar da democratização do saber através dos média e das webs, acontece o mesmo: os preconceitos morais, políticos, desportivos ou outros, conduzem à cegueira de quem os segue, impossibilitando a visão global do mundo que nos cerca.

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Demagogias




Vejo alguns a insurgirem-se contra um tal de “comboio especial”, fretado pelo PS, para levar e trazer os seus militantes de Pinhal Novo a Caminha, num encontro partidário.
O que é divertido é que, apesar de já por cá andar há uns anos valentes, não me recordo de ver tamanha indignação e argumentação pública aquando de jogos de futebol em que acontece rigorosamente o mesmo: comboios especiais, fretados por espectadores, para transportar nos dois sentidos os adeptos. E posso garantir, na qualidade de passageiro regular da CP, que foram já dezenas de vezes em que uma estação de Lisboa ficou intransitável aos cidadãos dos subúrbios aquando da invasão da estação centenas de adeptos, enquadrados por polícias fortemente armados e equipados. E vi partir ou chegar essas composições pelas mesmas linhas por onde circulam as demais, de horários e acessos generalizados.
Também não vejo esses mesmos críticos a manifestarem-se quando as ruas e praças da capital ficam interditas devido aos milhares de adeptos de desporto, futebol ou outros. Ou quando o trânsito nas pontes que ligam as duas margens do Tejo em Lisboa fica cortado, reduzindo as alternativas a quase zero, quando há provas de corrida em cima delas. Ou quando as manifestações ou marchas populares criam o caos no centro da cidade por as principais vias de acesso ficarem ocupadas por cidadãos apeados. Ou quando há eventos especiais em zonas como o parque das nações e o espaço público fica cortado a pedestres e automóveis. Ou quando existem ruas permanentemente barricadas, com pilares de ferro e betão e polícias fortemente armados, por num dos prédios existir uma embaixada.

A demagogia oportunista de políticos e jornaleiros deveria pagar um imposto de tal forma elevado, por ideia ou por palavra, que dissuadisse os seus praticantes de se pronunciarem!


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sexta-feira, 24 de agosto de 2018

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Fazer cocó é uma necessidade.
Fazer merda é uma opção!
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Dúvidas e saberes




Adoro ler notícias, não importa onde, que me suscitem dúvidas.
Ou dúvidas que entrem em confronto com o que julgo saber ou dúvidas porque confrontado com assuntos sobre os quais nada sei.
No caso específico, as dúvidas surgiram com uma notícia que falava sobre a orientação de sepulturas antigas e como elas ajudaram a definir qual a religião e datas dos envolvidos.
E fiquei a saber que as sepulturas medievais cristãs tinham em comum o estarem com os pés virados para sudeste, com o objectivo de o corpo, num momento de ressurreição, ficar de frente para Jerusalém, a terra sagrada dos cristãos. Sabia eu que havia uma tradição equivalente mas nas sepulturas dentro das igrejas, em que os corpos ficavam orientados para que, em regressando à vida, ficassem de frente para o altar. Não o sabia em relação à Terra Santa.
E fiquei a saber que as sepulturas islâmicas se orientavam de modo rigorosamente oposto – com a cabeça virada para sudeste – com o fito de, em regressando do mundo dos mortos, a primeira coisa que vissem fosse Meca, a cidade santa para os islâmicos.
Isto no que toca a sepulturas na Península Ibérica, que noutros locais seriam outras orientações mas com os mesmos motivos.
Como complemento, fiquei a saber que a existência de pequenas capelas nos cemitérios cristãos é coisa relativamente recente. Ter-se-á prendido com a interdição das igrejas como local de sepulcro, em Portugal e em meados do séc. XIX, e por motivos de higiene. Mas haveria a necessidade, em função da crença religiosa, de os corpos estarem perto dos santos ou de um altar aquando da ressurreição. Daí o construírem-se capelas, com ou sem santos, dentro dos cemitérios.

É isto importante para a minha felicidade? Factualmente não!
Mas o ter esclarecido um campo do saber, mesmo que muito pela rama, e que ignorava quase por completo, não apenas satisfez a minha curiosidade perante o desconhecido como me ajuda a entender melhor a sociedade em que vivo. E perceber certas necessidades que muitos têm, mesmo que não saibam o porquê de as ter.
Para quem gosta de retratar o mundo em que vive, entendê-lo é vital.

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quinta-feira, 23 de agosto de 2018

Fotografias



São os metros quebrados, as molduras obtusas em segundos fluidos.

São os limites que nos impomos quando a alma anseia pela distância. É a visão toldada por uma perfuração cerrada. É fotografar às escuras num laboratório de sol e imprimir em papel amarrotado as luzes aromáticas.

Abomino o formato quadrado. E o rectangular. E o triangular, se o houvesse. Ou o trapezoidal que invento com a minha câmara virtual, onde o tempo não pára na fracção de segundo de uma exposição condenada!

Quando emolduro uma fotografia, estou a fazer uma redundância. Já disse, com o meu enquadramento, que só me interessa isto. Que todo o resto é inútil e que deixo de fora. 
E estou a mentir, com todos os meus dentes e os que já tive.
Nunca me interessa só isto! Ou só aquilo! Ou só aqueloutro! 
O meu interesse, como fotógrafo, como ser humano, é todo o mundo e arredores, do segundo que passa à humanidade que existe. 

E quero ser dono de tudo! Das árvores e dos pássaros, dos colos e das gárgulas. Cabelos, rugas, gestos e sorrisos, palavras ditas e sonhadas na prata ou no electrão. 
Mas tudo isto não cabe no meu enquadramento! Como um sonâmbulo furioso, vou coleccionando as peças do puzzle que é a vida, formando um desenho abstracto, tal como eu mesmo. 

E quando o desenho estiver concluído, esgotados que estiverem os raios de sol ou eu próprio, olhá-lo-ei de onde quer que esteja e verei o que fui e o que fomos. 
Aí, com todo o cuidado, escolherei os pedaços bons. Juntá-los-ei com todos os outros pedaços bons, de todos os outros homens, e faremos um novo universo, revisto e melhorado.

Porque se para isto não servir a fotografia, nem vale a pena dar-me ao trabalho!

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quarta-feira, 22 de agosto de 2018

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Apontamento inútil:
No fim de cada recta há sempre uma curva.
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Isolamentos




Usei isto como comentário numa rede social:
“Costumo perguntar aos que querem ir ao outro lado do mundo fazer reportagens fotográficas: “Qual é a cor do prédio em frente ao teu?”
Levam uns segundos valentes a encontrar a resposta, se a encontram.”

Efectivamente, a maioria das pessoas preocupa-se com grandes problemas, com tragédias, com o que acontece lá longe. E faz sentido que nos preocupemos com elas.
Mas essa mesma maioria não se preocupa, nem sequer conhece, os problemas da porta do lado, da rua, do bairro.
Não sabem, nem querem saber, da fome do andar de baixo. Olham para o lado quando acontece violência doméstica do lado de cá da esquina. Nem sequer param para ver o idoso com dificuldade em carregar o saco de compras.
Os cataclismos, as guerras, as migrações forçadas, merecem divulgação como forma de as mitigar ou terminar.
Mas não esqueçam de se lembrarem da cor do prédio que vêem quando saem de casa.

Nota: Este não é o prédio em frente ao meu, nem sequer é no meu bairro. Mas o isolamento entre vizinhos aqui subjacente poderia ser aqui onde moro. Ou aí, onde você mora.


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Valores



A dar fé nas diversas teorias, o dinheiro é o equivalente dos diversos valores. 
Uma hora de trabalho vale tanto dinheiro, uma peça de horticultura vale tanto dinheiro, um pedaço de terra ou um edifício vale tanto dinheiro.
E é tanto verdade que o dinheiro é uma equivalência entre diversos valores que até as partes do corpo humanos têm cotação em dinheiro: em havendo um acidente ou um atentado com perda de um membro, ele vale tanto dinheiro, tal como a visão, ou a fala ou mesmo o órgão sexual. O corpo humano tem uma tabela de valores em dinheiro.
Mas esta equivalência foi bem mais longe: atribuíram valores ao que não existe. São os chamados “danos não patrimoniais”. O medo de repetir uma certa ocorrência vale tanto dinheiro, a insónia devido a um desacato vale tanto dinheiro, até o desgosto de perder um parente num acidente vale tanto dinheiro.

No entanto, raios me partam se os meus sentimentos valem dinheiro. Amores e desamores, frustrações e expectativas, lágrimas e sorrisos não se substituem por um dado valor em dinheiro. Seja ele qual for.
Nem mesmo para comprar bebida para afogar as mágoas, que elas sabem nadar.
Acredito, no fundo do meu ser, que se excluíssemos o dinheiro e os valores de equivalência da civilização acabaríamos em poucas gerações com boa parte dos males que hoje nos afectam.

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terça-feira, 21 de agosto de 2018

Um fotógrafo



Um fotógrafo não transforma uma pessoa feia numa pessoa bonita.
Não faz uma pessoa gorda ficar magra. Não retira verrugas, acrescenta cabelo ou modifica o volume de parte do corpo. 
Mesmo que domine muito bem as técnicas de tomada de vista e edição, um fotógrafo não faz isto.
Quem faz isto são os que mentem com a imagem: alteram, subvertem, aldrabam.
Quem faz isto são os vigaristas da fotografia.
O que um fotografo faz é convencer a pessoa que vai fotografar que tem que gostar de si mesma tal como é e que ele, o fotógrafo, consegue mostrar o que essa pessoa é de modo a que ela goste de se ver. Bem como os outros. 
Um fotógrafo a sério não é um mentiroso com o seu trabalho, ainda que o saiba e possa ser.
Mas é garantido que um fotógrafo é um alimentador de egos!

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segunda-feira, 20 de agosto de 2018

A menina da fotografia




As coisas são o que são na net. E uma meia mentira, repetida até à exaustão, transforma-se numa verdade incontestada.
A menos que alguém que tem boa memória visual se sinta incomodado e gaste algum tempo a pesquisar.

Esta fotografia está repetida vezes quase sem conta com a seguinte legenda (mais ou menos): “Esta pequena palestiniana fugia de um bombardeamento. Quando o fotógrafo da Reuters a quis fotografar, ela tentou esboçar um sorriso.”
Não ponho em causa a fotografia nem o dramatismo nela expresso, mas algo na cronologia e/ou geografia me levou a ter dúvidas sobre a verdade da legenda nesta fotografia.
De facto, apesar de a maioria dos sites (muitas dezenas) referirem a legenda em causa e a data (2018) fui encontrar esta mesma fotografia em sites Turcos, datada de Março de 2017 e referenciada como tendo sido feita no Iraque.
Da Palestina ao Iraque vai muito terreno. Bélico, já agora. E publicar em 2017 uma fotografia de 2018… Talvez o professor Pardal.

São muitos os casos de fotografias que, podendo ser enquadradas numa determinada história, têm uma outra verdade factual sobre o momento, o local e as circunstâncias em foram feitas.
A manipulação da informação é fácil: basta apelar à lágrima sobre o sofrimento alheio, no caso real, e contar sobre ela a estória que se quiser.
Poderia eu, em o querendo, dizer que se trata de uma menina cigana, fotografada numa das nossas feiras, depois de ter feito uma birra e ter levado umas palmadas da mãe. Seria talvez aceite o embuste e eu ganharia uns likes por aqui.
O meu mal é que não apenas não o digo como tenho boa memória visual. E quando algo não bate certo com o que julgo saber, vou tratar de averiguar. Dá trabalho, é certo, mas gosto de ver a verdade fotográfica reposta.


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domingo, 19 de agosto de 2018

Para fechar o dia mundial da fotografia




Há uns anos pediram-me para fazer ou liderar algo que fica entre a palestra e a tertúlia. Na verdade, tinha por nome tertúlia, mas eu era um quase total desconhecido para a grande maioria dos presentes. E vice-versa, que a única ou quase única coisa que sabia sobre os presentes é que estavam de algum modo interessados em fotografia. E sabia que estariam desde muito novos a já idosos, profissionais, amadores, estudantes.
Não é fácil agarrar este tipo de gente por junto, sendo certo que alguns seria muito participantes, outros nada. E outros com uma atitude crítica acutilante.
Decidi, com base nestas heterogeneidade de gente, “pegá-los pelos cornos” logo de início. Por outras palavras, pô-los a pensar e pronunciar-se sobre os seu próprio trabalho, no lugar de apenas ouvirem ou eventualmente opinarem sobre as minhas opiniões.
Assim, e depois de uma apresentação mais que minimalista e uma menos que breve descrição do que ali estava a fazer, pedi-lhes que fizessem, ali mesmo, duas fotografias: uma de mim mesmo, ali encostado à frente da mesa e estrategicamente colocado sob a luz e uma outra da ponta do seu próprio sapato. Isto sem importar um nico qual o tipo de câmara que ali tinham: de uma DSRL a um telemóvel, passando por uma compacta de supermercado. Aos que não tinham, disponibilizei eu uma.
Depois de terem feito com displicência a primeira e com dificuldade a segunda, já de novo sentados e com curiosidade em saber para que aquilo servia, perguntei-lhes porque teriam tido muito mais dificuldade em fotografar aquilo que bem conhecem – o seu sapato – que um quase desconhecido ali plantado. E seguimos, com palpites variados, para a necessidade de se conhecer ou possuir algum elo que ligue fotógrafo e assunto. De já se ter uma “fórmula resolvente” nas estratégias e soluções e de dar muito mais trabalho e ser bem mais difícil quando somos confrontados com o fotografar algo que nunca nos teria passado pela cabeça fotografar. Conhecer ou grocar o assunto é vital.
Depois de o debatermos, passei à estocada final para introdução da tarde, mas que, com a primeira parte, formava o cerne do que ali me tinha proposto fazer: perguntei-lhes o que tinham feito ao premir o botão da câmara. A resposta foi, genericamente, aquilo que eu esperava: fotografia. Com algumas variantes pelo caminho, foi a opinião geral. Mas completei-a, afirmando que tinham feito papel de um deus.
A sala calou-se, da surpresa ao escândalo, passando pela curiosidade, ficaram a olhar para mim naquela minúscula pausa “teatral” que fiz. E, de seguida, expliquei-lhes:
Tinham usado de três tipos de energia (eléctrica, luminosa e cerebral) para criarem algo que não existia antes. E, de acordo com todas as teologias, esse foi o trabalho de um deus nos primórdios dos tempos. E que era essa criação que gerava – gera – obras de valor e outras sem algum. Mas que todas, sem excepção, são criações únicas, originais e feitas a partir de quase nada.
Gerou-se a confusão criativa que queria, com mais de metade dos presentes a participarem, quer concordando, quer discordando, quer acrescentando algo. E os restantes, porque mais tímidos ou retraídos, com os olhos e ouvidos abertos ao que ali se dizia e fazia.
E fotografia é isto: criar. Alguns criam com palavras, outros com gestos, outros com sons, outros com tintas e cores, outros ainda gerindo espaços e matéria. Nós, os fotógrafos, usamos toda uma parafernália de equipamento mais ou menos complexa para criar com a energia. A luminosa, e eléctrica ou motora e a cerebral.
E quando uma delas não existe, perdemos o apodo de “divinos” e mais não seremos que pobres mortais, condenados a fotocopiar o que nos cerca.



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Ainda sobre o dia mundial da fotografia:




Não tirem fotografias – façam-nas!
Tirar é bera, é mau, é algo que ensinamos os nossos filhos a não fazer e que a lei pune. Não se tira nada a ninguém.
Já o fazer é algo de bom, de positivo, de criativo. Faz um desenho, dizemos para as crianças. Faz uma festa, pedimos e fazemos a quem gostamos.
Quando obturamos a câmara, seja qual for o suporte, estamos a fazer, a criar algo de novo, algo que não existia antes. Bom ou mau, pouco importa. Criámos algo. E isso é positivo, é bom.
Façam todas as fotografias que quiserem ou puderem. Mas não tirem fotografias a ninguém.



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Fotografia (dia mundial da)




Hoje comemora-se o dia mundial da Fotografia.
Rezam as crónicas que terá sido nesta data, mas em 1839 que o governo de França terá anunciado o Daguerreótipo – o processo de registo da luz permanente, inventado por Daguerre – como um presente ao mundo, tornando gratuito os direitos de patente.
Em boa verdade, as experiências no processo já duravam havia algum tempo. E, em paralelo, havia um outro a pesquisar no mesmo campo, Foz Talbot, que reclamou a invenção. Sem sucesso e a paternidade da fotografia foi atribuída a Daguerre.
Disputas à parte, a verdade é que a fotografia veio mudar o mundo como o conhecemos.
Mostra-nos todo aquele mundo onde não fomos, porque distante ou ao virar da esquina. Mostra-nos a ciência como não a conhecemos, porque muito grande, muito pequena, ou mesmo de todo ignorada. Mostra-nos as gentes e os locais, perpetuando momentos que queremos guardar porque belos ou horrendos. Serve de documento sobre o passado e para o futuro, sobre o que somos ou fomos.
Usando de duas frases feitas, um fabricante publicitou os seus produtos fotográficos com “Para mais tarde recordar” e um mestre em fotografia afirmou que “A fotografia é a taxidermia do tempo”.
Serve também a fotografia como forma de expressão. Mais que apenas registar na matéria a luz, permite com isso materializar pensamentos e sensações. Fotografa-se uma pedra porque nos recorda o castelo, ou uma flor porque nos lembra o amor, ou uma paisagem porque é o que no momento nos apetece fazer perante a tranquilidade que sentimos, ou um rosto para traduzir os afectos perante todos os rostos.
Claro que o acto de fotografar também um acto de cobiça. Fotografa-se um pôr-do-sol ou um automóvel ou um ser humano porque deles gostamos e não os podemos possuir, ficando com o seu ícone em papel ou impulsos eléctricos.
Nos tempos que correm, a fotografia também é uma forma de afirmação social. Fazem-se e exibem-se fotografias para mostrar o quão eficiente se é no domínio das técnicas e dos equipamentos. E estes também se exibem para com eles demonstrar a qualidade do que se faz. São demasiados os que usam a fotografia para se afirmarem tão bons ou melhores que os outros. Usa-se a fotografia como forma de competição, agora que ela está ao alcance de qualquer um.

Não sou fotógrafo. Tenho a mania que sou, mas a pobreza do que faço bem demonstra o contrário.
Uso a fotografia, mais que à procura do instante decisivo ou que como documento perante terceiros, como forma de exprimir o que me vai na alma, impulsionado por aquilo que vejo e aquilo que sinto perante o que vejo. Mais que ícones do que vejo, as minhas fotografias são ícones do que sinto. Tento, em vão, materializar com elas aquilo que também não consigo demonstrar por palavras, ditas ou escritas.
Uso o tempo de exposição e a luz e a perspectiva para registar o tempo que é ou que foi, interpretado por mim, tentando contar histórias e estórias. Umas vezes mostrando a realidade, outras mostrando a realidade que sinto. Umas vezes mostrando o que é, outras mostrando o que foi, outras ainda os fantasmas que, entre o que é e o que foi, entrevejo na minha mente através da minha objectiva.

Hoje é dia mundial da Fotografia.
Sugiro-vos que, entre o instante decisivo e o para mais tarde recordar, a pratiquem. Como a sentem e não como forma de competição.



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quinta-feira, 16 de agosto de 2018

Liberdade




Pouco tempo depois de Abril de ’74, alguém escreveu num muro por onde eu passava todos os dias a caminho do liceu:
“Liberdade para todos menos para os fascistas”.
Entendo o sentimento da época: O regime tinha acabado de cair e haveria que vingar o passado. Mas foi uma frase que nunca me saiu da cabeça.
Apesar de adolescente ou já quase não, o meu conceito de liberdade não se conformava com isto. Afinal, a liberdade é liberdade. E a ausência, ou a prisão, só seria admissível em caso de crime provado. O simples facto de se pensar diferente não seria crime. O regime que acabava de cair tinha a mantê-lo exactamente o punir quem pensava diferente. E isso não queríamos.
Continuo a pensar da mesma forma. Pensar ou discursar diferente não é crime. Podemos não gostar. Podemos tudo fazer para que os discursos não sejam consequentes. Podemos mesmo não comparecer nos discursos.
Mas impedir discursos, impor pensamentos ou proibir pensamentos será muita coisa, mas não liberdade. E queremos liberdade. A Liberdade!

À época ou pouco depois esta era a câmara que possuía. E ainda não tinha começado a registar grafitis. Nem dos bons, nem dos maus.
Mas da minha memória ninguém tira o que vi nem a repulsa que sentia todos os dias quando por aquela pare   de passava!



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Olha ao que digo...




Do lado de lá deste túnel, do lado direito, existe um tempo. Ou um local de culto, se preferirem.
De cariz cristão, não sei que estilo de pregação e práticas têm. Apenas que funcionam numa antiga garagem, estando abertos ao público e crentes alguns dias por semana apenas.
À imagem e semelhança de tantos outros. Aqui no meu bairro e pelo país fora.
O que não sei é se nos outros existem gestos destes:
Em passando eu pela porta em busca de uns cigarritos e de um café, estava uma senhora a varrer a entrada do local. O tapete que imita relva e o asfalto contiguo. Faz sentido que o faça hoje, já que ontem foi dia de culto e feriado nacional.
O que já não faz sentido é varrer o lixo do seu espaço, empurrando-o para o espaço circundante. E isso incluiu o meu caminho, quase que para debaixo dos meus pés.
Por outras palavras: o “local do senhor” deverá ter a sua entrada limpa de porcaria. O que está em redor não interessa.
Estive vai-não-vai para ter uma conversinha de pé de orelha com a cuidadora do espaço. Teológica, higiénica e cívica. Quiçá com algum vernáculo pelo caminho. Que bem merecia ouvir que aquilo que se prega deve primeiro ser cumprido, seja qual for o conteúdo.
Mas não me apeteceu. Por um lado, não sei se eu estaria ao seu nível de conversação e argumentos. Por outro, tenho andado demasiado bem-disposto para estragar o ambiente.
Talvez que amanhã ou depois, em eu me lembrando do episódio e tendo que por lá passar, lhes deixe um recadito pregado na porta.



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quarta-feira, 15 de agosto de 2018

Liberdade


Parece que há um grande sururu sobre a vinda a um evento internacional de um líder de um partido de extrema-direita de um país europeu.
Ao que sei, essa pessoa foi convidada a discursar e há quem se oponha a tal, incluindo deputados e outras figuras públicas.
Vejamos as coisas como elas são:
A liberdade de pensamento e de discurso ou existe por inteiro ou é uma falácia! Que, da mesma forma que quero para mim a liberdade de pensar e dizer o que quero, tenho que reconhecer essa mesma liberdade aos outros.
Não permitir que se pense ou se expresse é rigorosamente o que faziam e fazem os regimes totalitários, em que pensar ou falar era e é controlado pela elite governativa.
Aquilo que podemos – e devemos – fazer, em estando em desacordo com alguns discursos ou pensamentos, como parece ser o caso, é manifestarmos o nosso desacordo com essas ideias e fazer o possível para que os cidadãos não se deixem influenciar por eles. Explicando os nossos pontos de vista, desmontar o que de mentira ou demagogia for dito e convencendo os nossos iguais da perigosidade do que for dito.
Impedir o discurso de alguém, mesmo que discordemos integralmente com o que é dito, é a antítese do conceito de liberdade.
E países há hoje onde a liberdade de expressão é censurada, e isso inclui o que se auto-intitula “defensor da liberdade” – EUA. E França. E Grã-Bretanha. E Áustria. E Itália. E Espanha. E Russia. E Polónia. E…
Já nem falo nos que impõem ou proíbem credo religioso.
Liberdade é liberdade, sem peias nem limites que não seja a liberdade do outro. E mesmo esta é passível de discussão.
E Democracia – o governo pelo povo e para o povo – bem como o seu exercício implica o total esclarecimento do povo sobre as diversas ideias existentes para que possa escolher e decidir em consciência e liberdade.
Quanto ao resto, venha lá essa senhora dizer o que quiser.



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terça-feira, 14 de agosto de 2018

Jornaleiros




No Diário de Notícias de hoje leio o que se segue. Inserido na secção “cultura” e assinado por Isaura Almeida.

“Cena de nudez de Marilyn Monroe descoberta em gaveta trancada há 19 anos
Película foi encontrada por escritor Charles Casillo, durante uma pesquisa para um livro sobre a musa de Hollywood.
Por acaso e durante uma pesquisa para o livro Marilyn Monroe: The Private a Public Icon, que será lançado esta terça-feira. Assim foi descoberta uma cena de nudez da musa de Hollywood no filme Os Inadaptados (The Misfits, de 1961), o último da atriz.
Segundo a revista Deadline, o escritor Charles Casillo entrevistou Curtice Taylor, filho do produtor Frank Taylor, e descobriu que ele guardou a icónica gravação numa gaveta trancada desde a morte do pai, em 1999. Ou seja há 19 anos.
Na cena agora descoberta, Marilyn Monroe contracena com Clark Gable e deixa cair o lençol que lhe cobria o corpo. O que por si só seria notícia, não fosse este um dos primeiros, se não mesmo o primeiro, registo nu de uma atriz americana na história do cinema caso tivesse entrado no filme.
Segundo rezam as crónicas de Hollywood, o diretor do filme, John Huston, recusou incluir a cena de nudez, alegadamente por considerar que "não era necessária para a história". Por outro lado, o produtor Frank Taylor achou o momento tão importante que decidiu guardá-lo. Agora, segundo o filho, ainda não foi decidido o que fazer com o material.
Os Inadaptados foi gravado em 1961, com um guião escrito por Arthur Miller, marido de Monroe na época. Conta a história de três cowboys que competem pela atenção de uma bela mulher.
O filme marcou o fim do casamento de Marilyn e seria o último filme completado da atriz, que morreu, aos 36 anos, no ano seguinte, vítima de uma overdose de comprimidos.”

Não que o assunto me seja particularmente importante. Mas qualquer detalhe sobre a história do cinema merece uma leitura, rápida que seja. E, neste caso em particular, o primeiro parágrafo fez-me saltar na cadeira: “... encontrada por escritor Charles Casillo...”?
“Encontrada por” ou “encontrada pelo”? Nada como assassinar a língua portuguesa logo de início num artigo na secção de cultura!
Mas, mais abaixo, encontro outra pérola: “Os Inadaptados foi gravado em 1961”. Seguido, linhas depois,  por “icónica gravação”.
Poderiamos discutir se algo que ninguém conhece porque mantido em segredo poderá ser classificado de “icónico”. Mas vou ficar-me por outro aspecto:
Toda a gente, hoje, diz “filmar” quando se refere ao registo de imagens animadas feito com câmara de vídeo, câmara fotográficas ou telemovel. É um erro, naturalmente, já que se tratam de imagens electrónicas registadas em fita magnética ou memórias sólidas e não em película foto-sensível. O termo correcto será “gravar”.
Já aquilo que é feito com câmaras de cinema, película de cinema (quer com o sistema reversível, quer com o sistema negativo/positivo) tem o nome bem claro e inequivoco de “filmar”.
Costumo brincar, corrigindo quem diz “estou a filmar” ao usar um telemovel ou câmara fotográfica. E ser muito incisivo para com os profissionais que cometem o mesmo erro no seu ofício. Mas encontrar alguém que diz o mesmo género de disparate mas invertido é uma novidade. Que me faz saltar na cadeira.
Qual será o nível cultural de alguém que assina um artigo na secção de cultura?

A responsabilidade de quem escreve num jornal é enorme! Não apenas nos factos que relata – veracidade, objectividade, isenção... – como na forma como os relata.
O público, a menos que seja conhecedor dos assuntos tratados, toma o conteúdo dos jornais e televisões por verdadeiros e correctos. E as asneiras publicadas, que sejam técnicas quer sejam de língua, assumem foros de normalidade. Só pelo facto de serem lidas num jornal ou vistas numa televisão. E, com isto, a levam o público a repetir essas enormidades, tendo-as por certas.
Não conheço quem assina esta preciosidade jornalística. Mas, mandasse eu alguma coisa lá no seu jornal, e teria direito a duas palmadas e a um periodo de defeso. Em que seria obrigada a ir aprender português lendo bons autores  e a estagiar no ramo audiovisual, carregando uma bobine de película de 70mm dias a fio para aprender a diferença entre “gravar” e “filmar”.

PS - Em jeito de adenda, sempre gostaria de acrescentar que esta cena, agora divulgada, não será o primeiro nu cinematográfico americano.

Antes da censura e da “moral pública” dos anos 30, já os EUA produziam filmes pornográficos que, como se deve calcular, incluiriam nus integrais. E bem mais “ousados” que o que esta cena possa mostrar.


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segunda-feira, 13 de agosto de 2018

Qualidade



Se a qualidade da ferramenta fosse a pedra de toque para um obra de arte, imaginem-se a quantidade de best sellers que se escreveriam com a enormidade de Sheaffer e Mont Blanc a preços astronómicos que se vendem ali na av. da Liberdade.
Pobre de mim, que só tenho uma rafeirosa Parker do supermercado.

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domingo, 12 de agosto de 2018

Massificação




Leio um artigo onde se afirma que, cada vez mais, as fotografias são parecidas e dos mesmos locais. (Se não é bem isto é parecido)
Não sei onde está o espanto para isto!
Nos USA nos anos sessenta, aquando do desenvolvimento do turismo, locais havia que indicavam que ali seria o sítio ideal para fotografar. Paisagens como o Grand Canyon ou as Cataratas do Niagara. Ou quaisquer outras icónicas ou assim decidida pelas autoridades locais.
O que significa que todos quantos iam de férias para essas zonas traziam como recordação de férias imagens feitas nos mesmos sítios, com as mesmas perspectivas. Variariam, talvez, as pessoas registadas, o clima ou a hora do dia.
Mas essas fotografias ficavam nos álbuns de férias, mostradas apenas a familiares ou amigos.
Nos tempos que correm, com a fotografia digital ao alcance todos, literalmente, e com a divulgação nas redes digitais, é bem mais fácil de constatar essa uniformidade na fotografia. Os “álbuns” estão na net, todos os podem ver e serão milhares as fotografias iguais. Milhões, talvez, se pensarmos em locais de romaria turística como Paris ou Roma.
A isto, acrescentem-se os estereótipos da fotografia. Se uma imagem agrada e é vista por alguns, será natural que se queira fazer igual ou parecido, tendo por objectivo agradar. A quem a vê ou a quem a faz. E quantas mais forem essas imagens semelhantes, mais serão os que querem fazer semelhante.
O fazer diferente implica pensar um pouco, ter um sentido crítico um pouco mais alargado, o procurar a semiótica e não apenas a estética mais ou menos garantida…
Mas, o mais difícil no “fazer diferente”, é o risco que se corre em não obter o agrado de quem as vir. Talvez que 99,999% de quem fotografa fá-lo, e para além da satisfação pessoal, para agradar a terceiros. É quase um imperativo.
E ao fazer diferente dos estereótipos corre-se o risco de não agradar. Não porque não sejam boas ou bonitas, mas porque fogem das “regras instituídas” de como fotografar naquele local ou naquelas circunstâncias.
Poucos são, por exemplo, os que perante um bonito e colorido pôr-do-sol se colocam de costas para o sol para fotografar o que está iluminado por essa tão bela luz.
Numa sociedade de consumo massificada e massificante, fotografar igual é sinónimo de sucesso.



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