A discussão é
velha. Muito velha. Mostra a fotografia a realidade?
Obviamente que
não!
Começando desde
logo por a realidade conter três dimensões mais tempo e a fotografia conter
apenas uma dimensão.
Segue-se o termos
nós a percepção da realidade através de cinco sentidos acrescidos da sua
relação com a nossa memória e a fotografia nos permitir aceder apenas a um
sentido, condicionando a percepção e o estímulo da memória.
Para além disto,
como se não fosse importante, a fotografia é sempre – e repita-se o sempre – a
interpretação do fotógrafo.
Imaginemos um
acidente em cadeia envolvendo três viaturas. A segunda embate na primeira e a
terceira embate na segunda. O que é uma fotografia que mostre a realidade?
O primeiro embate?
O segundo embate? Feito do lado de frente para o primeiro carro? Do lado do
passageiro? Do lado do motorista? Com uma grande angular e próxima, colocando o
espectador em cima dos destroços? De longe, mostrando o conjunto e colocando o
espectador na tranquilidade do ”sofá lá de casa”?
Há sempre uma
enormidade de perspectivas ou pontos de vista possíveis e todos eles serão
“verdadeiros” enquanto a respectiva fotografia não for subvertida
posteriormente.
Por outro lado, a
veracidade da fotografia depende também da forma como é apresentada e vista.
Uma fotografia colocada na capa de um jornal diário é interpretada como
verdadeira. E é lá colocada com esse mesmo intuito.
Mas a mesma
fotografia exposta numa galeria já é passível de ser discutida, de ser colocada
em causa a veracidade do que nos é mostrado.
Há uns anos estive
numa exposição sobre um cosmonauta russo, com objectos e fotografias do seu
percurso académico, militar e no espaço. No final (e o percurso pelo exposto
era condicionado a um trajecto pré definido) éramos confrontados com um cartaz
onde nos diziam termos visto um embuste: nem o homem era russo (era catalão)
nem cosmonauta (fotografia feitas em estúdio) nem sequer militar (objectos
forjados para dar consistência à mentira).
Mas nós, público,
queríamos ver aquela “estória” como real. Por isso, e até chegarmos a esse
cartaz, tudo aquilo era verdadeiro na nossa mente.
A questão da
realidade ou veracidade da fotografia é de tal modo importante que há zona do
globo que não aceitam fotografias como forma de prova em tribunal. A menos que
feitas e controladas em todo o seu percurso por agentes da lei.
Por outro lado, e
ainda não há muito tempo, os agentes da polícia de estrangeiros e fronteiras
procuravam provas de casamentos de conveniência, entre cidadãos nacionais e
estrangeiros, com a existência ou não de fotografias do casal enquanto
namorados: festas, férias, praia, amigos… Não as havendo aumentavam as
suspeitas de um ilícito.
A fotografia não é
nem prova factual nem cópia da realidade!
O mais que se pode
afirmar é que aquela imagem existe.
Sobre o que ela
representa, do maior cepticismo à mais cândida ingenuidade, tudo é válido.
Na imagem outro
embuste.
Estes espelhos
baratos são particularmente robustos e não conseguimos parti-lo com o pé para a
fotografia que eu queria fazer.
Foi necessário
recorrer a uma pedra, por várias vezes, até ficar assim como se vê.
By me
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