Numa livraria o
empregado faz-me a pergunta sacramental:
"Quer número
de contribuinte na factura?"
Olho-o nos olhos e
atiro-lhe com a minha resposta número dois:
"Tenho cara
de bufo?"
Fica ele a olhar
para mim e prossegue com o registo da venda.
A seu lado, um
homem cujo cabelo indica já ter passado dos 50, sorri.
Quando o primeiro
me entrega o livro e se prepara para me dar um saco, eu digo-lhe
"Obrigado,
mas tenho o meu." e mostro a minha mochila.
A seu lado, o
outro volta a sorrir. E questiono-o:
"Está a rir-se
de quê?"
"Nada. Hoje
estou bem disposto."
Não insisti. Eu
sabia que ele sabe que eu sei que o seu pai vendia ali mesmo livros às
escondidas dos bufos e que os assim vendidos saíam da loja disfarçados nos
sacos de compras, no meio de couves e cenouras.
Outros tempos,
felizmente.
By me
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