domingo, 5 de fevereiro de 2017

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Numa livraria o empregado faz-me a pergunta sacramental:
"Quer número de contribuinte na factura?"
Olho-o nos olhos e atiro-lhe com a minha resposta número dois:
"Tenho cara de bufo?"
Fica ele a olhar para mim e prossegue com o registo da venda.
A seu lado, um homem cujo cabelo indica já ter passado dos 50, sorri.
Quando o primeiro me entrega o livro e se prepara para me dar um saco, eu digo-lhe
"Obrigado, mas tenho o meu." e mostro a minha mochila.
A seu lado, o outro volta a sorrir. E questiono-o:
"Está a rir-se de quê?"
"Nada. Hoje estou bem disposto."
Não insisti. Eu sabia que ele sabe que eu sei que o seu pai vendia ali mesmo livros às escondidas dos bufos e que os assim vendidos saíam da loja disfarçados nos sacos de compras, no meio de couves e cenouras.

Outros tempos, felizmente.

By me

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