Eu sei que é
politicamente correcto dizer o quão bonita foi a cerimónia de abertura do Jogos
Olímpicos. De como foram magnificentes, de quantos e quão belos eram os
participantes, de quão bem organizada estava toda aquela coreografia cheia de
significado…
Não vi!
Sabem: eu estive lá,
em Barcelona, em ’92. Estive lá então, apaixonei-me pela cidade e voltei lá amiúde,
ainda que não tanto quanto gostaria.
E sei o que vi e
ouvi então. E o que vi e me foi contado depois, pelos Barceloneses.
Que as putas e os
chulos foram presos; que os ciganos, nómadas ou não, foram liminarmente
expulsos da Catalunha; que a mendicidade foi rigorosamente proibida e
fortemente reprimida… Vi quatro ou cinco mendigos então e naquele mês e não sei
o que era maior: se a fome se o medo, naqueles rostos esqueléticos e sujos.
O luxo e a exuberância
dos Jogos, o mais mediático evento “desportivo”, transformaram um evento que
era um apelo à paz e à união entre os povos numa competição feroz de poder e ostentação,
deixando de fora, bem escondidas (ou nem sempre) as misérias nacionais. Ou as
vergonhas nacionais, que ainda não esqueci a operação de cosmética política em
Sidney, no que toca às relações da comunidade branca com os Aborígenes.
Faço a justiça de
acreditar que os jornalistas presentes terão aproveitado as longas horas do
evento para ir denunciando com maior ou menor clareza o que se passa em redor
dos jogos em termos políticos, económicos e sociais. As misérias que se vivem e
as imposições policiais existentes. Não os ouvi.
Que, pese embora
as diferenças culturais e geográficas, não serão por certo muito diferentes das
dos nossos vizinhos há quase um quarto de século.
A bem organizada
mediatização e globalização dos jogos faz com que todos os vejam e façam deles
um exorcismo às nossas próprias misérias. Mas para essa religiosidade do politicamente
correcto já dei!
By me
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