Fico triste ao
constatar que há gente que, conhecendo-me e ombreando comigo há uma vintena de
anos, quiçá mais, confunda princípios com conveniências ou coerência com
oportunismo.
E sendo certo que
não sou santo, também é certo que sou obstinado ou teimoso em certas questões,
não cedendo nem à lei da bala. Menos ainda com subterfúgios ou falinhas mansas.
Ontem, uma vez
mais, tentaram pôr-me à prova e, uma vez mais, “deram com os burrinhos na
água”. Não importa quem nem como.
Mas certo é que à
noite, quando procurava eu o sono, me lembrei disso e de um episódio com mais
de uma vintena de anos. Creio já aqui o ter contado, mas não me importo de me
repetir.
“Naquele ano, uma
das propostas feitas a uma das turmas foi o fazer-se uma fotografia para
ilustrar a capa de um livro policial.
Discutimos o que é
um livro policial, falámos dos estereótipos, concebemos espaços e manchas a
preencher e deixar livres para títulos e grafismos de editor e cada grupo ficou
de conceber e executar um trabalho.
Um dos grupos,
três mocinhas, apresentou uma proposta que incluía um semi-nu. Por aquilo que
conversámos, nada que se são visse nos escaparates das livrarias, na secção dos
policiais.
E discutimos as
técnicas e as éticas envolvidas.
Acontece que a
direcção da escola onde isto decorria soube da coisa, chamou-me e interditou a
realização daquele trabalho em particular. Entre outros aspectos, puseram em
causa o que os pais ou encarregados de educação poderiam dizer, se soubessem
que na escola se faziam fotografias daquelas. Peremptória, a interdição.
Quando voltei a
encontrar-me com o grupo, expliquei-lhes a situação e trabalhámos uma imagem
alternativa, aceitável perante quem decidia.
No dia da execução
do trabalho, em que o estúdio estava por nossa conta, ele foi feito de acordo
com as indicações superiores: técnicas, estéticas e objectivos cumpridos de
acordo com o combinado.
Em terminado, e
havendo tempo disponível, disse-lhes que tinha que ir tratar de um assunto à
secretaria, que era coisa para demorar uma hora, mas que elas poderiam ficar
por ali, aproveitando espaço e equipamento. Entreguei-lhes um rolo virgem e
fui.
Nunca soube o que
ali aconteceu naquela hora. Mas quando regressei, depois de ter ido à
secretaria, ao bar por um café, ao pátio fumar dois cigarros e ter dado uns dedos
de conversa com quem por ali estava, o ambiente naquele estúdio era esplêndido.”
Hoje, tal como
então e tal como muito tempo antes disso:
“Tentem convencer-me;
Não tentem obrigar-me! Que faço muita questão de não ter vergonha do que vejo à
noite no espelho!”
By me
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