Na montra de uma
livraria, em Lisboa, está isto.
Supondo que terão
dificuldade de ler, eu relato-vos:
Direitos inalienáveis
do leitor:
1 – O direito a não
ler;
2 – O direito de
saltar páginas;
3 – O direito de não
acabar um livro;
4 – O direito de
reler;
5 – O direito de
ler não importa o quê;
6 – o direito de
confundir um romance com a vida real;
7 – O direito de
ler não importa onde;
8 – O direito de saltar
de livro em livro;
9 – O direito de
ler em voz alta;
10 –O direito de não
falar do que se leu.
(In Pennac,
Daniel, “Como um romance”)
Deveres inalienáveis
do livreiro
1 – O dever de
ler;
2 – O dever de
saber o que é um livro;
3 – O dever de
saber que há milhões e milhões de livros;
4 – O dever de
saber que há livros e livros;
5 – O dever de
tentar encontrar, sempre, qualquer livro;
6 – O dever de
sigilo;
7 – O dever de
saber que há ladrões de livros com bom gosto e com mau gosto;
8 – O dever de os
apanhar;
9 – O dever de
sorrir;
10 – O dever de
agradecer.
Sendo certo que
tenho uma barriga grande e uma curiosidade maior, voltei atrás depois de ter
comprado o que me havia feito entrar, e fui saber o que é um “ladrão de livros
com bom gosto”.
A pergunta deu direito
a quase uma hora de conversa.
E fiquei a saber
que há ladrões de livros que levam agora para vender de seguida, ou mesmo amanhã.
São as “novidades” e os livros dos “autores da moda” que são levados.
Tal como fiquei a
saber há ladrões de livros selectivos. Que só levam de um dado autor ou género.
Contou-me quem comigo conversou que durante um ano foram roubados mais de
trinta livros de poesia. Apenas durante um ano e sempre e só das prateleiras.
Sem que nunca tivessem apanhado o ladrão, esses roubos deixaram de acontecer.
Este foi um dos
casos que me foi contado como “de bom gosto”.
O que tem graça é
que consigo imaginar o aspecto de um ladrão de livros de poesia.
Tal como me
consigo imaginar a voltar amiúde a esta livraria para fazer negócio e alimentar
a alma.
By me
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