quarta-feira, 1 de junho de 2016

Pó dos livros



Na montra de uma livraria, em Lisboa, está isto.
Supondo que terão dificuldade de ler, eu relato-vos:

Direitos inalienáveis do leitor:
1 – O direito a não ler;
2 – O direito de saltar páginas;
3 – O direito de não acabar um livro;
4 – O direito de reler;
5 – O direito de ler não importa o quê;
6 – o direito de confundir um romance com a vida real;
7 – O direito de ler não importa onde;
8 – O direito de saltar de livro em livro;
9 – O direito de ler em voz alta;
10 –O direito de não falar do que se leu.
(In Pennac, Daniel, “Como um romance”)

Deveres inalienáveis do livreiro
1 – O dever de ler;
2 – O dever de saber o que é um livro;
3 – O dever de saber que há milhões e milhões de livros;
4 – O dever de saber que há livros e livros;
5 – O dever de tentar encontrar, sempre, qualquer livro;
6 – O dever de sigilo;
7 – O dever de saber que há ladrões de livros com bom gosto e com mau gosto;
8 – O dever de os apanhar;
9 – O dever de sorrir;
10 – O dever de agradecer.

Sendo certo que tenho uma barriga grande e uma curiosidade maior, voltei atrás depois de ter comprado o que me havia feito entrar, e fui saber o que é um “ladrão de livros com bom gosto”.
A pergunta deu direito a quase uma hora de conversa.
E fiquei a saber que há ladrões de livros que levam agora para vender de seguida, ou mesmo amanhã. São as “novidades” e os livros dos “autores da moda” que são levados.
Tal como fiquei a saber há ladrões de livros selectivos. Que só levam de um dado autor ou género. Contou-me quem comigo conversou que durante um ano foram roubados mais de trinta livros de poesia. Apenas durante um ano e sempre e só das prateleiras. Sem que nunca tivessem apanhado o ladrão, esses roubos deixaram de acontecer.
Este foi um dos casos que me foi contado como “de bom gosto”.

O que tem graça é que consigo imaginar o aspecto de um ladrão de livros de poesia.

Tal como me consigo imaginar a voltar amiúde a esta livraria para fazer negócio e alimentar a alma.

By me 

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