Naquele tempo não
havia net, fóruns, redes sociais.
Havia “clubes”,
revistas, bibliotecas, as noitadas em casa deste ou daquele, as discussões em
tornos de provas de contacto, as longas conversas com os vendedores ou
lojistas, as lojas que eram pontos de encontro…
E havia aqueles
desafios que fazíamos uns aos outros, sem prémios ou menções honrosas, mas tão
só com o objectivo de nos incentivarmos a irmos mais longe no nosso próprio
caminho.
Um desses
desafios, repetido amiúde, era com tempo e espaço limitado.
Escolhíamos um
lugar (rua, praça, largo, vila operária, o que fosse) definíamos um prazo (uma
hora, duas, meio dia) e uma quantidade (um rolo de 36, dois, três, nunca mais
que a fotografia era cara) e íamos fotografar. Dois ou três de nós, não mais
para que não nos atrapalhássemos.
No final da parte
prática, juntávamo-nos em torno de uns canecos e conversávamos sobre o que havíamos
feito e sentido, face ao local, à luz, às gentes, às cores (mesmo que em preto
e branco), às limitações técnicas…
Uns dias depois,
tornávamo-nos a reunir, desta feita com as fotografias prontas.
Todas eram
mostradas, as escolhidas e as preteridas. As primeiras impressas em formato “que
se visse”, as restantes em provas de contacto ou 9x12.
E conversávamos
sobre o trabalho: as escolhas e os motivos, as correcções ao enquadramento
original, as escolhas de perspectiva em função das ópticas, dos assuntos, das
luzes, da qualidade da impressão (se fosse nossa), do que elas, as fotografias,
nos diziam agora, passados dias…
O pensar
fotografia era um trabalho interior e colectivo, sem exibições e com o respeito
às opiniões de cada um.
Aprendi muito,
nestas brincadeiras.
Aprendi a comparar
a minha forma de ver com a de outros. Aprendi a comparar a minha forma de
sentir com a de outros. Aprendi a fazer chegar a outros a minha forma de ver e
sentir, afinando as minhas técnicas com a eficácia da comunicação. Aprendi que
não importa idade ou experiência, há sempre o que contar e o que ouvir. Aprendi
que a única competição válida é a interior. Aprendi… Aprendi muito com estas
brincadeiras.
Tantas vezes sinto
falta, agora no tempo dos digitais e das auto-estradas da comunicação, destas
brincadeiras tão pueris mas também tão sérias.
By me
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